Trama Fantasma

Paula Moraes
Araetá
Published in
4 min readApr 4, 2018

por Paula Leuzinger de Almeida Moraes

O mais recente filme do diretor americano Paul Thomas Anderson conta a história de Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis), um estilista renomado da Inglaterra dos anos 50 que leva uma vida metódica, calculada e, de certa forma, cíclica: mulheres entram em sua vida como musas, inspiração para suas obras e saem pouco tempo depois, descartadas, abrindo espaço para a próxima. Esse ciclo é rompido quando Woodcock encontra Alma (Vicky Krieps), uma garçonete por quem se encanta, transformando-a em sua nova musa (e amante).

Woodcock vestindo Alma pela primeira vez, em uma das primeiras cenas do filme

O que Woodcock não imaginava no início de sua relação com Alma era que ela não seria como as outras. Um dos aspectos mais interessantes do filme é que, apesar de parecer focado em aparências -com suas belas mulheres, em uma casa bem decorada e em vestidos maravilhosos-, os personagens não correspondem exatamente à primeira impressão que eles passam. Esse é o caso de Alma; inicialmente parece ingênua, encantada com esse novo mundo que Woodcock lhe apresentou, e disposta a fazer o que for necessário para agradá-lo — no entanto, ela se mostra extremamente verdadeira em suas atitudes, recusando-se a jogar os jogos que a “Casa de Woodcock” lhe impõe: ela não admite ser humilhada nem negligenciada pelo estilista, fazendo questão que ele a trate como uma pessoa ao invés de um objeto a ser descartado.

Alma vestindo uma das obras de Woodcock

Além disso, Reynolds também surpreende o espectador, por inicialmente parecer completamente frio e distante das relações humanas, dedicado unicamente e obsessivamente ao seu trabalho; ao longo do filme, revelam-se camadas que não imaginávamos que existiam, muitas vezes em cenas que demonstram seu carinho por Alma, que vai além de uma simples admiração. É possível criar uma simpatia pelo personagem, mesmo com suas manias rotineiras quase insuportáveis de lidar.

A personalidade forte de Alma abala as tão rígidas estruturas da “Casa de Woodcock” (que Reynolds governa com sua irmã, Cyril), justamente por desbalancear a ordem que Woodcock pensava estar firme dentro de si: ela o distrai, ela o questiona, ela o incomoda, o que para ele é algo novo e assustador. De repente, surge algo tão presente em sua vida que se dedicar inteiramente apenas ao seu trabalho não é mais uma opção, e o espectador é levado à mesma dúvida constante do protagonista: será que a chegada de Alma foi uma bênção ou uma maldição?

Alma e Woodcock comparecem a uma festa de uma de suas clientes

A relação dos dois conduz o filme, e se intensifica conforme surge um medo em Alma de que, talvez, Woodcock não dependa dela tanto quanto ela depende dele (por amá-lo e ter aprendido a viver nesse mundo que ele lhe apresentou). Por que ele não descartaria dela depois de um tempo, como fez com todas suas outras musas? Seu sonho é vê-lo em algum momento em uma posição de vulnerabilidade, em que ele precise dela ao seu lado… em que ela se sinta necessária, importante para ele como pessoa, e não apenas para suas obras. Esse sentimento leva a certas ações da parte dos dois que compõe um final surpreendente, e uma maneira perfeita que o casal encontra para permanecer junto.

Alma e Woodcock no final de uma festa, em uma cena importante do filme

É um filme que parece, assim como seu protagonista, frio e distante, mas a construção dos personagens e o modo que a história entre eles vai sendo desenvolvida leva a um genuíno interesse da parte do espectador; é possível sentir na pele a angústia dos dois nas suas brigas, e sorrir junto com eles nos momentos de ternura. Além de ser excepcionalmente atuado e fotografado (é possível sentir o quanto cada plano foi calculado, apenas assistindo o filme, cuja estética é de se admirar), o roteiro não falha em captar a atenção de quem assiste em momento algum, deixando-o ansioso para saber como essa história poderia terminar. “Trama Fantasma” é um filme que merece ser visto e revisto, discutido e analisado, e que considero uma experiência cinematográfica única.

Alma e Woodcock em um momento romântico

Onde? Espaço Itaú de Cinema Augusta e Cine Reserva Cultural Paulista.

Quanto? Entre 11 e 36 reais o ingresso.

Quando? Qualquer dia da semana, 17h20 no Espaço Itaú e 13h na Reserva Cultural.

Até quando? Em cartaz por tempo indeterminado.

Links relacionados:

https://www.youtube.com/watch?v=xNsiQMeSvMk — Trailer Oficial

http://collider.com/paul-thomas-anderson-interview-phantom-thread-daniel-day-lewis/#phantom-thread — Entrevista do diretor em relação ao filme

http://cinemaemcena.cartacapital.com.br/critica/filme/8441/trama-fantasma — Crítica do Cinema em Cena

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-247980/ — Crítica do Adoro Cinema

https://www.youtube.com/watch?v=IOasnQC2eaQ — Entrevista com diretor e elenco do filme

Selfie com o poster do filme! :)

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