‘Handmaid’s Tale’

Uma realidade não tão distante

bruna tito
Araetá
5 min readDec 6, 2022

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Por Bruna Tito

A série da plataforma de streaming Hulu Plus “The Handmaid’s Tale” (disponivel em Hulu Plus, Globoplay, Paramount+ e Amazon Prime Video), lançada em 2017 com episódios sendo lançados até hoje, e inspirada no livro de Margaret Atwood, é situada em um futuro distópico, onde uma autocracia baseada em uma organização religiosa, que tomou conta da maior parte dos Estados Unidos renomeando o país de Gilead, trata as mulheres como propriedade do estado, solução para a crise mundial de fertilidade no mundo. Por isso, a protagonista June, é forçada a viver como uma concubina tendo filhos por funcionários estéreis do governo. June é renomeada para Offred, já que seu comandante se chama Fred, logo ela é “de Fred”, como se ela não possuísse mais uma identidade. Esta é a história dela. Com a suspensão da constituição, o estupro sancionado pelo estado e a separação de famílias “pecadoras”, June teve sua filha tirada dela, e se perdeu do seu marido (que conseguiu passar a fronteira para o refugio no Canadá). Agora, June Osborne se encontra aprendendo a sobreviver neste regime opressivo, e está em uma luta constante para encontrar e recuperar a filha que foi tirada dela.

Com um elenco simplesmente impecável, a narrativa de Margaret Atwood nunca foi tão bem retratada. A protagonista June Osborne é interpretada por Elisabeth Moss, ela teve que decifrar a personagem e entender a fundo o que seu papel tinha que transmitir ao público para passar por gravações de cenas fortes com resiliência. Emoções como raiva, ódio, depressão, medo, desespero extremos, em um nível difícil de imaginar. Moss nos propagou isso de tal forma que sentimos na pele cada emoção de June, sentimos a mesma raiva, desespero e ódio que ela.

Apesar de que todos nós odiamos a Serena Joy, antagonista da série, não posso deixar de comentar a personagem complexa e exasperante interpretada por Yvonne Strahovski. Serena é mulher do comandante Fred, e apesar de enfurecer o espectador com cada episódio que passa, fazendo da vida da June uma desgraça e se achando superior em cada ação absurda que ela toma, ela também comove e ilude o público em certos momentos, pois é claro que ela mesma se odeia, sua próprias insegurança e dúvidas são expostas na tela a cada segundo, mostrando que talvez ela tenha uma salvação. Nas primeiras 2 temporada sentimos nojo e ódio de Serena, na terceira começamos a ficar com dó, pois ela começa a entender os malefícios de Gilead. Seu marido Fred foi um dos pioneiros do novo país, e Serena o ajudou no processo inteiro, mas não recebeu nunca recebeu gratidão, sendo retribuída apenas com o machismo extremo, tendo até o seu dedinho cortado fora como punição de se intrometer em assunto de homem, sem poder nunca mais estudar, sem sua filha que está para nascer (June está finalmente grávida) poder estudar, apenas servindo como uma possível matriz para sociedade. June consegue um jeito de mandar o seu bebe para o refúgio no Canadá, Serena descobre e no começo está receosa, mas no final permite que ela a mande embora de Gilead. Nesse momento, o espectador começa a pensar que a personagem de Yvonne pode se tornar uma pessoa melhor, mas afinal, Serena dá para trás e tenta recuperar o bebe. Depois dessa desilusão, só piora o ódio e o nojo por Serena, pois ela mesma está perdida no seu egoísmo e cega de ira.

Handmaid’s unidas — figurinos marcantes

Esposas dos comandantes em luto

Imagens centralizadas ?

Embora tenha personagens enigmáticos e atores fenomenais, a estética da série também é muito impactante e auxilia o público a se submergir no ambiente de Gilead. As imagens centralizadas, figurinos marcantes, e arquitetura distinta, nos ajudam a entender a atmosfera totalitária e sem identidade da população do país. De modo que, sentimos no ar a opressão da sexualidade da mulher, o medo da inteligência feminina, as inseguranças dos homens desviadas para o ódio e a masculinidade tóxica dos mesmos; como Chico Buarque uma vez disse, “a raiva é filha do medo e mãe da covardia” (As Caravanas, canção de Chico Buarque). É tanta repressão que mesmo as esposas de Gilead acreditam que essa é a solução para a crise mundial de infertilidade, elas se sentem superiores a aquelas mulheres que são “pecadoras” que aceitam suas sexualidades, mas no fundo é apenas insegurança delas por não conseguirem se expressar da mesma forma, isso porque elas querem tanto a aprovação masculina que se submetem a situações de degrado moral.

Em conclusão, a realidade de Gilead é assustadora, no entanto, não é um futuro inconcebível, com a ascensão de fanáticos religiosos e políticos extremistas (principalmente aqueles de extrema direita), podemos ver muitas semelhanças com governos que vem aparecendo pelo mundo inteiro, como o de Trump (EUA) e do Bolsonaro (BR). Esse tipo de governo que dissemina fake news, preza o patriotismo falso, elogiam regimes fascistas e ditatoriais, fazem discursos de ódio xenofóbicos, machistas e racistas e pedem por intervenção militar, são perigosamente próximos ao de Gilead. Por isso, é de grande importância que tenhamos cautela e não levamos na brincadeira esses governos, pois neles nascem fãs fanáticos que desejam disseminar o ódio e a insegurança tóxica.

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