Valentino SS20 Alta-costura
“When you talk about couture, you talk about dreams, but dreams are the expression of something which is subconscious,” he said. “It’s about the freedom of expressing yourself. — Pierpaolo Piccioli para a Vogue Runway
Por mais difícil que seja de imaginar no difícil momento que o mundo se encontra hoje, em Janeiro de 2020 começava a semana de moda de Paris de Alta-Costura. Sendo uma das semanas mais esperadas e emocionantes da indústria da moda, alguns comentaristas da indústria até chegaram a chamar esta última temporada de “a calma antes da tempestade”.
A nomenclatura alta-costura só pode ser usada na criação de moda exclusiva, feita a mão e sob medida, com materiais da mais altíssima qualidade, e em Paris. Quem define o que é, de fato, Alta-Costura é a Chambre Syndicale de la Haute Couture, que revê o grupo de marcas anualmente. O termo é legalmente protegido e controlado e só pode ser usado pelas maisons, que receberam essa nomenclatura pelo Ministro da Indústria na França. Há regras para ser considerado uma marca de alta-costura, como ter um ateliê em Paris, empregar ao menos uma equipe em tempo integral de 15 pessoas, fazer as peças sob encomenda com ao menos uma prova de roupa e apresentar suas coleções publicamente duas vezes por ano, em Janeiro com a Primavera/Verão e em Julho com Outono/Inverno, com ao menos 35 looks para dia e noite.
A Valentino, uma marca que entrou recentemente para o mundo da alta-costura, é hoje um dos shows mais esperados de toda a temporada, e isso a marca tem a agradecer seu atual diretor criativo, Pierpaolo Piccioli. Após a saída do próprio Valentino em 2008, a direção criativa da marca fica para Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli, que co-dirigiam o setor criativo. Porém, em 2016, a Valentino teve uma grande movimentação, pois Maria Grazia Chiuri deixou a marca para dirigir a criação da Christian Dior, deixando, por completo, a maison nas mão de Pierpaolo Piccioli pela primeira vez .
Não sabíamos o que se esperar na nova era da Valentino, mas hoje, em 2020, o desfile da marca é o mais aclamado pela crítica. O designer é capaz de juntar cores, tecidos e texturas que agradam até os mais criteriosos dos críticos. Na última temporada, ele explora a construção de roupas de uma forma “livre” e quase num estado de sonho, trazendo à tona a habilidade e perícia que só conseguem ser atingidas em ateliês de alta-costura.
“I hate it when people talk about ‘storytelling.’ I am not a storyteller. I don’t have the feeling that Cristóbal Balenciaga, Saint Laurent, Charles James, Mainbocher, whatever — I don’t feel they had stories of the season.”
Nesta fala que o designer deu para a Vogue Runway sobre o desfile em especial, ele cita que não acredita que pode ser considerado necessariamente como um grande contador de histórias por suas coleções. Honestamente, eu concordo com ele. Ao mesmo tempo que somos bombardeados de coleções com valores e propósitos todas as temporadas, o trabalho do Pierpaolo na Valentino mostra o que a alta-costura faz de melhor, roupas incrivelmente bonitas.
O desfile foi aberto com um vestido que deu o tom da silhueta na nova coleção, uma peça com silhueta de sereia com um bustier transparente, cujo estava coberto por um tipo de balão de tecido de tule. A construção da silhueta foi exagerada do melhor jeito possível, com luvas de ópera em vermelho vivo. Esse modelo, apertado de uma forma que acentua o corpo, foi algo novo na silhueta que vemos normalmente nas coleções passadas da Valentino que normalmente apresentam mais volume.
Talvez o mais fascinante da coleção tenham sido as estampas e a mistura de cores, muitas em fundos brancos com traços de pintura. Há um vestido roxo com decote longo com a linha do pescoço drapeada, assim como o drapeado na bainha, algo assimétrico muito interessante, que remete à assimetria que vimos no primeiro dia da semana da alta-costura com Schiaparelli. É possível que seja uma nova tendência na alta-costura que estamos prestes a ver nos próximos desfiles. Me sinto no dever de citar um dos meus críticos de moda favoritos, Luke Meagher, sobre este momento no desfile: “Boy, I would be buried in them”.
O que mais me impressionou em todo desfile foi a capacidade de mudança, mesmo que pequena, ao meio de tantos elogios e renovando sempre a forma de trazer a arte à moda, uma qualidade que na alta-costura que não pode ser negada. A beleza inegável é uma característica importante de todos os trabalhos de Piccioli para a Valentino, mas após analisar do novo quadro social em meio de uma quarentena, é quase certeiro que ver algo lindo aquece o coração durante esse momento. Além disso, a capacidade de conseguir aperfeiçoar algo cada vez mais, me traz um tipo de inspiração.
Onde? Na semana de alta-costura de primavera verão em Paris.
Quanto? Alta-costura não é livre a venda comum, sendo apenas consumido por uma leva de clientes seletos, um vestido pode ser avaliado em milhares de euros.
Quando? Na semana de alta-costura de primavera verão desfilada em Janeiro de 2020. Mas todas as fotos, vídeos e notas do desfile são acessíveis pelo Vogue Runway ou no próprio site da Valentino.
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