“Viva- A Vida é uma Festa” e a mudança de perspectiva narrativa da Pixar.

Alexandrina Santos
Araetá
Published in
3 min readMay 28, 2018

Alexandrina Carneiro dos Santos, AAN, 41712821, 3AAN2018

O último lançamento da Pixar Animation Studios, mostra uma mudança drástica no contexto narrativo de filmes da empresa. “Viva” é a produção mais longa da empresa, totalizando em 7 anos, com estudos detalhados e intrínsecos para a execução de uma produção tão brilhante.

Viva conta a história de Miguel, 12 anos, que vive numa cidade pequena do México, Santa Cecília, e sonha em ser músico. Sua família, entretanto, tem a tradição de odiar música pois seu tataravô uma vez deixou sua família para trás para ser um grande músico. Quando sua família então se reúne para comemorar o Dia dos Mortos, Miguel ao tentar pegar emprestado o violão de seu maior ídolo, Ernesto de La Cruz, e sem querer vai parar na terra dos mortos, onde então começa sua jornada de tentar se conectar com seu tataravô.

7 milhões de luzes foram animadas para essa cena; “Viva — A Vida é uma Festa”, 2017, Lee Unkrich e Adrian Molina, Pixar

O filme usa da música para mostrar como sempre estamos tentando nos conectar com os entes familiares que já morreram e como, apesar de problemas que sempre existirão, família é uma instituição que sempre podemos confiar. Ao selecionar um nicho cultural específico, é onde a Pixar se destaca com o filme e com sua mudança de narrativa. Até então, na história das produções da empresa, não havia sido existido uma animação sobre uma cultura específica e quem dirá a latina, que é tão propícia para cair em esteriótipos. Esse, dito pelo diretor Lee Unkrich, foi um dos maiores cuidados que tiveram durante a produção, contratando pessoas latinas para trabalhar no filme com o intuito de garantir que isso não acontecesse e também tendo a parceria na co-direção de Adrian Molina, que tem origem latina.

“Viva — A Vida é uma Festa”, 2017, Lee Unkrich e Adrian Molina, Pixar

A perspectiva narrativa, na empresa, muda a partir desse lançamento no sentido que até então os filmes não tinham uma carga histórica e cultural tão importante, o que acabou sendo o diferencial de Viva, pois foi o que tocou muitos espectadores foi o tema familiar. Grandes sucessos da Pixar até então continham temas que são relacionáveis e atribuíveis a vida pessoal e rotineira, como por exemplo “Os Incríveis” que usa do tema de super-herói para tratar de problemas familiares de uma típica família americana, mas atribuir uma cultura específica é o que drasticamente muda a visão sobre o filme e o que o torna mais sensorial e realístico.

A grande sacada da Pixar em seus filmes é criar histórias em que os personagens tenham traços mais humanos possíveis em sua personalidade, mesmo com contextos narrativos onde isso é dificilmente visível, como Monstros S.A, Vida de Inseto e Toy Story. Nesses, monstros, insetos e brinquedos, respectivamente, ganham vida e se tornam relacionáveis pois são atribuídos características humanas e não necessariamente pelas histórias que são contadas deles. Porém uma vez que, há um filme com protagonistas humanos, tratando de um assunto culturalmente conhecido e “existente” no mundo real, a identificação do público é bem maior.

“Viva — A Vida é uma Festa”, 2017, Lee Unkrich e Adrian Molina, Pixar

O filme foi visto como uma carta de amor ao México em seu lançamento, especialmente depois da eleição do presidente Trump nos Estados Unidos por causa de suas ameaças xenofóbicas contra os mexicanos. O filme fez um enorme sucesso em bilheterias rendendo 400 milhões de dólares mundialmente, teve seu lançamento em Janeiro e ficou em cartaz até meio de Fevereiro, hoje já está a venda em DVD em livrarias e disponível em plataformas on demand. Seu sucesso mostra como com certeza foi um marco na história da Pixar.

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