Viva Villa!

Por Maiara Izabele del Pino

Maiara Izabele Del Pino
Araetá
4 min readFeb 26, 2018

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Entre 20 e 25 de fevereiro, a Sala São Paulo recebe o festival de música clássica Viva Villa!, homenagem da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo ao compositor Heitor Villa-Lobos. A Sala São Paulo é uma das dez melhores salas de concerto do mundo. Nos anos 1990 Ismael Solé participa da restauração da Estação Júlio Prestes e sua adequação para o uso da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, com a implantação de uma sala de concertos. Um espaço que poderia, a princípio, parecer bastante improvável para tal empreitada, uma área de espera a céu aberto junto a uma estação ferroviária. A piazza tinha as medidas certas, a largura era a mesma da Boston Symphony Hall e o comprimento e a altura, iguais aos da Grosser Musikvereinssaal, em Viena. As gigantescas colunas da praça original continuam na sala de concerto e são uma verdadeira obra de arte, bem como o gigantesco teto móvel que ajuda a mudar a acústica dependendo se a orquestra tocar música barroca ou romântica.

Sala de Concertos

Os concertos do festival são gratuitos, os ingressos podem ser retirados na hora ou serem reservados pelo site da Sala São Paulo.

Foi minha primeira vez indo à Sala São Paulo, pra mim, era importante ir vestida de modo que me sentisse honrando, ou pelo menos agradecendo, a beleza e graça do ambiente e da música que ouviríamos. Cheguei de carro e parei duas ruas antes. A caminhada de cinco minutos até a entrada foi inesperadamente uma visão aterrorizante da cidade.

Cracolândia

Nunca tinha andado pela Cracolândia, muito menos de salto alto e vestido. Na frente da Sala São Paulo, muitos policiais armados e tapumes escondem as pessoas usando crack pelas ruas e em volta da sala. O concerto e a maioria dos eventos na Sala São Paulo são gratuitos, ironicamente, esse espaço cultural maravilhoso é cercado por moradores de rua e dependentes de crack que provavelmente jamais cogitariam entrar naquele lugar ou se tentassem, ouso dizer que seriam barrados ou até mortos por esse policiamento nível militar que cerca a Sala. O que supostamente é público é um lugar claramente elitizado feito para que seja assim. Não vi mais ninguém entrando pela porta por onde entrei, todas as pessoas chegam de carro ou táxi no estacionamento da Sala São Paulo, não tendo que ver as pessoas usando crack na rua ao redor.

O público era constituído basicamente por elegantes senhoras de idade e alguns jovens entra 25 e 35 anos. Estar na sala de concerto é em si uma experiência estética, toda a arquitetura e decoração te levam a imergir na música que está por vir.

A primeira música do concerto foi Cinco Prelúdios para Violão, tocados por Fábio Zanon, o maior violinista erudito do Brasil e um dos melhores do mundo. O concerto apresentava também Quarteto de Cordas nº 11, Quinteto Instrumental e Sexteto Místico, com Cláudia Nascimento na Flauta, Suélem Sampaio na Harpa, Layla Kohler no Oboé, Douglas Braga no saxofone, Rogério Zaghi na celesta, Adrian Petrutiu no violino, Horácio Schaefer na violae Adrian Holtz no violoncelo.

Ouvir as obras de Villa-Lobos na sala de concerto me fez sentir a música como um instante, como um momento inteiro na minha existência. O som é tão preciso que parece ecoar em harmonia com os sons dos silenciosos corpos ao redor dos músicos. Estar no concerto foi como ser parte da música. Ao longo do concerto essa sensação de união e preenchimento cresceu se tornando uma espécia de novo estado de normalidade para mim. Ali, em meio aos contrastes da cidade, ouvindo tão bela música brasileira, vivi uma descarga de sentimentos, emoções, imagens e sensações, uma verdadeira catarse.

Ao fim do concerto essa sensação se foi com a última palma da platéia deixando saudade. No caminho de volta fui percebendo a marca deixada por essa sensação em meus sentidos. Ligamos a música, como é habitual, ao entrar no carro. Demorei apenas alguns segundos para perceber que estava satisfeita de música naquele momento. Estava satisfeita e com a certeza de que precisaria presenciar de novo a sensação que vivi com a obra de Villa-Lobos.

Viva Villa!

De 20 a 25 de Fevereiro na Sala São Paulo

Praça Júlio Prestes, 16 - Campos Elíseos, São Paulo - SP, 01218-020

Ingressos no local ou pelo site

Heitor Villa-Lobos, Compositor (Rio de Janeiro, 5 de março de 1887 — Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1959)

“Escrevo música obedecendo a um imperioso mandato interior. E escrevo música brasileira porque me sinto possuído pela vida do Brasil, seus cantos, seus filhos e seus sonhos, suas esperanças, e suas realizações. A minha obra musical é consequência da predestinação. Se ela é em grande quantidade é [porque é] fruto de uma terra extensa, generosa e quente.”¹ Villa-Lobos, HEITOR

¹Citado pelo musicólogo José Maria Neves em Villa-Lobos: o Choro e os Choros (São Paulo: Musicália, 1978, p. 15).]

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