“You are now muted”

Victor Carvalho Barrio

Victorcbarrio
Araetá
4 min readMay 29, 2020

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A fotografia intitulada “You are now muted” foi um trabalho realizado em dupla pelos alunos Victor Carvalho Barrio e Maria Júlia Gonçalves, originalmente para a disciplina de Teorias da Comunicação III. A proposta do trabalho envolvia a criação de um conteúdo subversivo, que provocasse no observador uma reflexão crítica. A foto não possui qualquer manipulação técnica além dos efeitos da câmera fotográfica, ela foi feita utilizando elementos reais, posicionados de forma planejada, para criar uma fotomontagem capaz de transmitir a ideia de caos oculto por detrás das aparências.

A fotografia apresenta duas realidades: a primeira referente a área que pode ser vista pela webcam, onde aparece apenas o material de estudo sobre uma toalha de mesa; a segunda é o caos presente em toda área “invisível” para quem está do outro lado da tela, este caos é composto por elementos que fazem referências a situações da quarentena. A obra foi montada ao longo de vários dias, conforme iam se percebendo ações, costumes ou mesmo negligências pessoais ocorridas neste momento de pandemia.

Montar esta foto foi um exercício de reflexão, retratar o caos através de elementos quaisquer é simples, basta ocupar a imagem com qualquer coisa, a dificuldade preencher a imagem apenas com elementos representativos de situações experienciadas.

O que está atrás do computador não são apenas latas e cigarros, é o desleixo, abandono, descaso, depressão, solidão, tesão, vícios etc. Por isso os elementos tiveram de ser escolhidos com cuidado, isto para os que não foram colocados de forma orgânica haja visto que não é a representação de uma situação hipotética e sim um retrato da realidade. Logo, elementos de um caos particular e diário serviram para complementar a montagem da foto.

A imagem em si é clara, a centralização do computador no “Zoom” com os materiais na frente e a bagunça oculta de todos aqueles que não estão fisicamente no local é, como planejado, o que chama a atenção do público mas a real força da obra está na identificação pessoal, quanto mais se observa a foto mais fácil é de se relacionar com ela. Conforme os olhos correm a imagem buscando entender os elementos ali dispostos a pessoa vai mergulhando mais a fundo nela: uma pilha de livros para relacionar com os inúmeros projetos que planejou mas não finalizou; pratos de comida e roupa jogada pela cena, normais a todos que não conseguem mais juntar forças para coisas simples; placa de “ele não” e “fica em casa”, além das cores vermelha e azul, evidenciando toda uma outra gama de problemas presentes na realidade daqueles mais antenados a notícias; bebidas, cigarros e camisinha para todos que buscaram em algum vício um conforto para esse período.

Este padrão de explicação é seguido por todos os elementos da imagem, mesmo aqueles com os quais não há uma relação pessoal baseada em uma experiência prévia ainda permitem o observador refletir sobre o que poderiam representar. Com certeza ter ajudado na elaboração da foto faz com que a minha relação com ela se dê de maneira mais intensa, mas acredito que isso só fez com que a dedicação fosse maior.

Com a elaboração da montagem, a foto ganhou um significado adjacente, o primeiro, basilar, é inegavelmente uma crítica a situação desesperadora em que se encontram milhares de pessoas no mundo todo, especialmente no Brasil, tendo que passar uma imagem de estabilidade e plenitude enquanto está rodeada por paranóias e até desespero; o segundo significado, o adjacente, é para todos saberem que esta situação não está sendo vivenciada de forma exclusiva e isolada, a imagem busca mostrar ao observador que ele não está sozinho nessa situação.

Muito além da crítica a foto busca confortar, é um ato de amizade a distância e sem palavras, como se a foto abraçasse o observador e dissesse que entende o que ele está passando, que ele não está sozinho.

Pessoalmente, posso facilmente definir o processo todo de elaboração como terapêutico, cada item exposto com significado tirava um peso das minhas costas e, conforme eles foram se empilhando no que eu só posso chamar de uma materialização das minhas dificuldades pessoais, percebi que talvez a obra pudesse ter um efeito similar para outros, afinal de contas quando materializamos nossos problemas eles tendem a perder o caráter monstruoso que ganham em nossa imaginação.

Victor Carvalho, You are now muted — 001, (2020), @Victor_9054

A obra pode ser encontrada no Instagram (@victor_9054) e não possui um valor monetário definido. Ela foi realizada ao longo do período de quarentena, tendo sido finalizada no dia 26/05/2020, no meu apartamento localizado na Rua Albuquerque Lins, Santa Cecília, São Paulo — SP.

You are now muted — 02,03,04

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