Folha sai do Facebook

Gabriel Gastaldo
Arddhu
Published in
3 min readFeb 9, 2018

Como a criação de conteúdo se transformou com o Facebook e como ela deve se transformar após o Facebook?

A saída da Folha pode ter sido até precipitada, mas não me estranharia se isso virasse uma tendência, com empresas e criadores de conteúdo buscando reaver controle do que criam e ter contato com seus fãs, espectadores e leitores, alimentando sua própria plataforma ao invés do Facebook.

Sinônimo de rede social, o Facebook se formou com base em seus usuários, tanto os regulares que apenas usam a parte social para se comunicar com seus amigos, quanto os corporativos, que alimentaram a rede com seu conteúdo transformando ela na “Internet” toda em apenas um lugar.

Em um artigo que traduzi, A morte do Hyperlink: Consequências, parte disso já era apontada com as palavras de Derakhshan a respeito de como o Facebook já estava cerceando a internet saudável enquanto a centralizava em si mesmo, minando cada vez mais iniciativas externas por diversos motivos, um deles, a facilidade de produzir conteúdo para essa plataforma.

Lentamente essa rede social criou mecanismos “divertidos” para que as pessoas cada vez mais centralizassem suas vidas digitais ali, trazendo amigos com a ilusão de que tudo era de graça, sem perceber que que o produto éramos nós mesmos.

Com esse domínio, rapidamente ela começou a coletar todo benefício disso e a moldar como desejava que isso fosse feito. Nada era por acaso, a agenda existia e aos poucos entramos nela de maneira voluntária, aceitando as linhas miúdas para participar desse enorme parque de diversões.

Os criadores de conteúdo assim como as empresas, aos poucos foram recebendo cortes em relação à audiência que construíram no Facebook, se não era em alcance, em relevância, se nem em relevância, em engajamento. Assim cada vez mais empurrando para a plataforma paga a responsabilidade de encontrar audiência.

Dessa forma, a eficiência e a qualidade foram para o brejo em prol do maior pagamento, não importa mais fazer um bom trabalho e alcançar organicamente as pessoas, seu conteúdo poderia ser um lixo que, se bem pago ao Facebook, alcançaria muito mais pessoas e geraria engajamento.

Um veículo como a Folha tem uma despesa imensa para se manter criando matérias e reportagens, com boa parte da receita que isso poderia prover, sendo anulada uma vez que, o Facebook é quem controla a receita e toda movimentação de renda que acontece... no Facebook.

Mas o que fazer quanto a isso, como sair das garras dessa plataforma se ele se tornou o sinônimo de Internet? Em uma época onde a rede mundial ficou tão centralizada, a maior parte do que existia fora dela ou se manteve duramente, ou simplesmente minguou.

Claro, existem exemplos de sucesso fora dessa caixinha, normalmente são coisas de nicho que conseguiram rapidamente criar estratégias viáveis de sustento com suas comunidades, mas essa tem sido a exceção.

Fora do Facebook, muitos veículos encontraram em anúncios automáticos a sua receita, mas essa solução também começou a sofrer cada vez mais com a existência de AdBlocks, ainda mais quando se descobriu que alguns anúncios estavam sendo usados para minerar criptomoedas, prejudicando o desempenho de quem ainda os assistia.

De que adianta você produzir conteúdo, conquistar audiência se ela vai sendo removida de você? No fim do mês a conta não vai fechar, se você tem que pagar para criar e pagar para divulgar, tendo a sua divulgação cada vez mais cortada, você não está “construindo” nada que seja sustentável.

Talvez a Folha tenha percebido isso e tenha traçado alguma estratégia para alimentar sua própria plataforma, algo perigoso em uma época onde a maior parte dos leitores desaprendeu a ler reportagens, se tornaram ávidos consumidores de manchetes, como falei no artigo A Idiotização da Webz, mas que pode ser a forma de sobreviver a uma possível queda da plataforma anterior, o Facebook.

Afinal, todo império eventualmente tem sua queda, o reino de Zuckerberg parece longe de estar no fim, não é a mesma coisa que aconteceu com Orkut ou mySpace, por mais que muitos não gostem, o Facebook ainda é a principal plataforma de uso de Internet da massa, mas não é impossível pensar que ele caia.

Estratégias de vida fora do Facebook devem ser feitas por qualquer empresa, assim como criadores de conteúdo devem procuram diversificar, a dependência de apenas uma plataforma pode ser uma via fácil para fazer sucesso, mas simultaneamente pode ser cavar a própria cova.

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Gabriel Gastaldo
Arddhu
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