Preciso escrever, e agora?

Duas técnicas para auxiliar na escrita

Gabriel Gastaldo
Arddhu
6 min readSep 10, 2017

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Reign of Fire (2002) Van Zan

Escrever é também uma arte. Uso o também nessa frase para indicar que essa atividade é muito mais que isso, que fique bem claro aqui que de forma alguma há menosprezo por esse aspecto, pelo contrário, a ele presto minhas maiores honrarias.

Mas além de arte, é um ofício, é uma atividade e muitas vezes também um passatempo, como tal, uma série de técnicas existem por aí para te ajudar a desenvolver essa atividade seja da forma como ela for necessária na sua vida.

Como escrevo há mais tempo do que tenho memória de vida, sempre colecionei técnicas e métodos que podem ser usados as vezes isoladamente e muitas vezes em conjunto, para dar continuidade à escrita quando é necessário.

Ultimamente alguns leitores tem me pedido dicas, perguntando como melhorar sua escrita, isso me fez pensar nesse artigo como mais um em uma linha com o objetivo de explicar técnicas para melhorar a produção daqueles que já conseguem o básico e, talvez ajudar aqueles que ainda tem dificuldade de começar até mesmo os textos mais simples.

Talvez o mais importante seja lembrar que é uma atividade de produção intelectual e, como tal, a sua repetição leva ao aperfeiçoamento, seja na hora de saber desenvolver ideias, colocá-las na escrita ou simplesmente revisar o que foi produzido em busca de melhorar ou reparar erros.

Escrever, em suma, possui apenas um requisito: Escrever.

Pode parecer besteira declarar assim, mas a melhor atividade para se melhorar a qualidade e a capacidade da sua escrita é exercer essa atividade, dia após dia, iniciar mesmo que seja com a mente em branco e deixar que aos poucos ela desenvolva processos que permitam isso ser executado.

Aqui vou compartilhar duas técnicas que me ajudam muito no dia a dia, especialmente quando não há inspiração, afinal, como já ouvi há algum tempo, escrever e 10% inspiração e 90% transpiração, colecionar técnicas e essencial para que a sua atividade se desenvolva.

A primeira das técnicas é uma das mais comuns, populares e funcionais, que você vai encontrar por aí em diversos sites focados nessa temática, começar escrevendo através de tópicos, ou bullet points. Nessa técnica você separa ideias em pequenas frases que captem o mais importante e depois aplica a segunda técnica que é desenvolvê-las para que o assunto possa começar a fazer sentido.

No exemplo abaixo, vou escrever a história de um personagem para uma aventura de RPG, procurando não me alongar tanto nela mas utilizando de algumas técnicas conforme as descrevo.

Inicialmente vamos utilizar os tópicos delineando o que é importante e não pode ser deixado de lado:

  • Seu nome é Rhandal
  • ruivo, baixo e magro, tímido
  • odeia dragões e tem medo deles
  • luta com uma lança

São poucas ideias, em sua maioria apenas apontando características que são consideradas importantes para a elaboração desse personagem, com esses tópicos é possível iniciar um processo de desenvolvimento , conectando-os através de um parágrafo que poderia ficar assim:

Rhandal é um homem baixo e ruivo, um pouco tímido e de personalidade contraída. Parte disso se deve a um trauma de infância onde sua vila foi atacada por dragões, o que incutiu nele um ódio e medo terrível dos lagartos voadores. Reflexo desse medo também se dá em seu estilo de luta, usando uma lança e mantendo uma distância segura de seus inimigos.

Embora seja um desenvolvimento bem pequeno, estão todas as ideias colocadas ali, conectadas através de um texto com coerência e coesão, mas ainda assim é notável o quão raso o texto é, isso nos leva a uma segunda realidade, a realidade da revisão, na qual já temos um corpo de texto preparado e através da leitura do mesmo, encontramos pontos a serem desenvolvidos.

“Rhandal é um homem baixo e ruivo” é uma descrição bem simples que poderia ser melhor elaborada especificando o quão baixo ele é, além de não se limitar a dar apenas uma característica de aparência, afinal, ele pode ser ruivo e barbudo, ou de cabelo ruivo mas sem qualquer traço de pelo facial.

Rhandal puxou sua finada mãe, não passando dos 1,70m de altura embora sua penugem espalhada pela cara, de cor ruiva como o cobre, junto ao cabelo que brilha como fogo no sol, tenham vindo de seu pai.

Dessa forma a descrição de duas características conseguem ser feitas dando mais vida ao texto e ao personagem, não sendo apenas dados de um documento preenchido completando lacunas.

Isso nos leva ao texto a seguir, onde dizemos que ele tem “trauma de infância onde sua vila foi atacada por dragões,” essa informação pode se somar à anterior para explicar mais sobre a história do nosso personagem, podemos então explorar isso com o dado sobre o falecimento de sua mãe e do ataque:

Sua personalidade é reservada, sendo um pouco tímido mas em sua maior parte reservado, não dado a impulsos e de poucas palavras, embora não seja mal educado. Boa parte disso se deve a um ataque que sua vila sofreu, ainda em sua infância, na qual Dragões acabaram por causar uma enorme destruição que custou a vida de sua mãe. Tal trauma deixou marcas em sua personalidade, tendo terror aos lagartos alados somado a um ódio profundo que ainda não encontrou uma forma de ser manifestado.

Com esse desenvolvimento demos a Rhandal um pouco mais de história do passado, embora não tenhamos especificado o que aconteceu com seu pai, já sabemos que sua mãe morreu no ataque, acontecimento esse, que foi marcante para a sua personalidade.

As questões de ancestralidade e paternidade podem ser bem importantes para personagens que não são órfãos, por isso ao optar por essa linha narrativa, temos também a oportunidade de desenvolver o quarto tópico.

Após a tragédia, seu pai, um fazendeiro que teve seus poucos dias de aventura, ensinou a ele um pouco sobre o manuseio da lança, uma arma que poderia mantê-lo em uma distância segura de seus inimigos e talvez a mais eficiente contra dragões, em um confronto que fosse inevitável.

Dessa forma Rhandal conquistou muito mais informações e um histórico mais amplo, sua personalidade tem traços pouco desenvolvidos, mas que já se encontram delineados, transformando sua primeira descrição, de apenas cinco linhas, no seguinte:

Rhandal puxou sua finada mãe, não passando dos 1,70m de altura embora sua penugem espalhada pela cara, de cor ruiva como o cobre, junto ao cabelo que brilha como fogo no sol, tenham vindo de seu pai. Sua personalidade é reservada, sendo um pouco tímido mas em sua maior parte reservado, não dado a impulsos e de poucas palavras, embora não seja mal educado. Boa parte disso se deve a um ataque que sua vila sofreu, ainda em sua infância, na qual Dragões acabaram por causar uma enorme destruição que custou a vida de sua mãe. Tal trauma deixou marcas em sua personalidade, tendo terror aos lagartos alados somado a um ódio profundo que ainda não encontrou uma forma de ser manifestado. Após a tragédia, seu pai, um fazendeiro que teve seus poucos dias de aventura, ensinou a ele um pouco sobre o manuseio da lança, uma arma que poderia mantê-lo em uma distância segura de seus inimigos e talvez a mais eficiente contra dragões, em um confronto que fosse inevitável.

Claro que muito mais poderia ser adicionado posteriormente, mas assim conseguimos de quatro tópicos escrever 14 linhas de história, sem que para isso fosse necessária uma inspiração profunda, ou mesmo recorrer a livros auxiliares.

Note que isso é importante pois muitas das tarefas diárias de alguém trabalhe com a escrita se baseiam nessas duas técnicas, você primeiro marca os pontos importantes que devem constar e em seguida os desenvolve, conectando os tópicos e criando o texto.

Isso vale para entrevistas, artigos, reportagens, contos…praticamente qualquer forma de escrita pode ser melhorada com essas duas técnicas em conjunto pois elas inclusive podem ser usadas para melhorar um texto já escrito, retomando os pontos importantes e vendo se os mesmos estão sendo desenvolvidos com a devida importância.

Utilize-as com frequência, o domínio delas pode ser o início de uma facilidade incrível em escrever e, certamente, poderão ajudar a fazer com que você desenvolve suas técnicas, entendendo como funciona a sua criatividade em particular.

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Gabriel Gastaldo
Arddhu

.(R)egular guy in (P)resent time.(C)lose this world open the n(EXT).