Urgot e Zaun, O Encouraçado e a Cidade da Química

Gabriel Gastaldo
Arddhu
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7 min readJan 10, 2019

Há pouco menos de 2 anos, Urgot foi relançado, deixando de ser uma bola de gordura e carne semi-viva para se tornar mais forte que um homem, mais forte que uma máquina… uma ideia!

Ainda me lembro quando Urgot era pura e unicamente uma bola de gordura e carne semi-viva se sustentando em uma forma deplorável, quando ele era nada mais que ser abjeto que simultaneamente era caricato à vida e à morte.

Lembro que nessa época Zaun era a cópia malvada de Piltover e um lugar tão sem graça como a maior parte do que era Runeterra nessa época também.

Por isso eu também lembro de quando Urgot foi relançado e com ele até mesmo Zaun recebeu uma atenção a mais, foi expandida como cidade, se tornando uma espécie de inferno na terra, mas ainda assim, com características que faziam você imaginar que cidadãos teriam carinho por ela.

Em minha opinião, o campeão que mais encarna Zaun é Urgot em seu relançamento, um homem traído pelos que achava que eram seus, derrotado e reerguido das profundezas em algo muito maior do que ele jamais foi mesmo em seus mais gloriosos dias como carrasco Noxiano.

A história de Urgot nos é resumida de maneira bem simples, pois mais importante do que o que ele foi, é quem ele se tornou. O antigo carrasco Noxiano foi outrora um guerreiro orgulhoso e poderoso do Império de Noxus, um homem que foi traído por compatriotas que planejaram e executaram um golpe de estado, sendo entregue à morte para que ela fizesse dele o que bem quisesse.

Mas isso é passado, Urgot foi transformado pela Draga, uma mina carcerária nas profundezas de Zaun, responsável por botar de joelhos os homens mais fortes e rapidamente ceifar suas vidas. A realidade da dor, tanto psicológica pela traição, quanto física pelo ambiente inóspito, poderiam ter vitimado Urgot como acontece com muitos outros, mas ele conseguiu, de uma forma meio torpe, transcender essa condição e a sua própria carne.

Suas modificações físicas são puramente um reflexo de suas transformações psicológicas, a maior transformação que Urgot sofreu foi em seu interior, nas mecânicas de seu pensamento e nas engrenagens de sua vontade. Não mais um sofredor, ele conseguiu alcançar um estado de “graça” impensável em sua desgraça.

As inspirações para o novo Urgot podem ser muitas mas a mais impactante e perceptível é de cara “Immortan Joe” do Filme “Mad Max: Estrada da Fúria”, um líder de uma horda de fanáticos que o seguem em nome da Bala, do Óleo e da Água.

Vejo que a personalidade de Urgot teve sua uma parte enorme baseada em Immortan Joe, ambos são líderes que comandam com um punho de aço, embora Urgot não se considere um líder mas lidere uma revolução. Os dois personagens possuem uma insanidade tangente através de um aspecto messiânico que, somado a suas figuras assustadoras, trazer um ar imponente, mas enquanto um prega o caos, o outro prega algo similar à ordem.

Outra referência visível é Darth Vader, mas enquanto um é o servo do grande regente, o outro não é servo de ninguém, enquanto o Sith parece perdido em um torpor causado pelas suas decisões erradas tomadas pela emoção, Urgot transparece a clareza e a urgência de uma tempestade que se anuncia, trazendo consigo dor e destruição que divide os fortes e fracos.

Por fim, uma terceira referência pode ser encontrada em Bane, especialmente no Bane da obra cinematográfica de Nolan, ao menos no decorrer do filme, sem aquele fim para o personagem que destrói toda construção feita no decorrer da obra. Ambos são vencedores da adversidade, são vitoriosos sobre a morte e transformaram sua dor em força. Os dois se sentem confortáveis nas sombras, demonstrando que dos pesadelos eles talvez sejam os maiores.

Em cada um desses casos de referência, temos um traço em comum com Urgot, todos eles possuem problemas respiratórios, todos eles são dependentes de um mecanismo de respiração externo que faz com que sua voz soe rouca, ecoada e mecânica, em um compasso diferente da fala normal, o que, somado ao tom de evangelizador e às palavras mais raras e escassas por conta desses problemas respiratórios, porém firmes e precisas, faz com que sejam mais impactantes e ditas com uma firmeza digna de profetas.

Além dessas referências muitas outras podem ser encontradas, seja pelo seu aspecto híbrido de robô e homem-máquina, seja pela sua forma de pensar e agir ou puramente pelo conceito que ele traz consigo. Mas não se deixem enganar, Urgot definitivamente não é um herói. Alguns podem alegar que ele não seja um vilão, mas sim um anti-herói, talvez por conseguirem se colocar na pele do personagem e entender suas motivações, mas certamente seus métodos cruéis e brutais jamais o colocariam como alguém que busca salvar o dia.

Jogue-me aos lobos e eu voltarei liderando a alcateia, esse é um ditado de autoria desconhecida, mas com ele voltemos a falar do conceito desse campeão, é importante notar que ele foi enviado para a Draga para morrer mas, similar a esse provérbio, ele voltou ainda mais forte, talvez tenha enlouquecido ou apenas tenha encontrado a clareza de pensamento sobrepujando a dor, mas a realidade é que Urgot assumiu controle da prisão e iniciou um motim que fez a cidade de Zaun tremer e a prisão rachar.

Seu credo é a dor e sua linha de conduta é definida em atos de força, ele acredita piamente que a destruição e o Caos são o grande divisor de águas entre os fortes e que merecem viver e os fracos que merecem perecer.

Seu ressentimento com os Piltovenses é expresso em uma de suas falas, o que nos leva ao quão Zaun cresceu como uma “entidade urbana” deixando de ser uma cópia feia e malvada de Piltover e se tornando algo único.

A relação entre as duas cidades é até certo ponto uma relação parasítica, no entanto a grande dúvida é sobre quem parasita quem. Enquanto Piltover tem tecnologia e evolução que é absorvida por Zaun e modificada para funcionar com materiais diferentes normalmente derivados da sucata e do lixo de Piltover… Zaun por sua vez tem mão de obra, massa de manobra e pessoas desesperadas para subirem de vida e não mais precisarem respirar o ar poluído e cinza de Zaun.

É uma relação conturbada e que é vista pelos dois lados com um grande desprezo, enquanto os Piltovenses veem os Zaunitas como favelados, pobres, sujos, sem modos e brutais, os Zaunitas veem os Piltovenses como almofadinhas, narizes empinados, fracos e outros adjetivos próprios às disputas de classes sociais e bairrismo.

No meio disso tudo quem parece controlar a maioria das peças do jogo, estão os Barões Químicos, normalmente Zaunitas poderosos que controlam muitos aspectos dessa cidade, desde mão de obra de trabalho, até o acesso a tecnologias e muito mais.

Mas o que separa os Barões dos Poderosos de Piltover pode ser muito tênue e em muitos casos inexistir, pois Zaun nada mais é que o subterrâneo e o subúrbio de Piltover, cidades que já foram a mesma mas embora ainda permaneçam ligadas geograficamente, são extremamente distantes, elas ainda carregam essa relação simbiótica ou parasítica e isso faz delas únicas.

Essa reconstrução de como vemos Zaun e como ela nos é apresentada se iniciou com o lançamento de Ekko, o primeiro campeão vindo dessa cidade que não parecia uma aberração saída do laboratório de um louco ou um homem retalhado pelo destino, mas sim um garoto com seus amigos, nos relembrando das dicotomias da vida, demonstrando-nos que até nos lugares inóspitos e mais perigosos existem pessoas boas e que buscam melhorar sua vida.

Foi uma excelente repaginação em Zaun, amplificada ainda mais com o cuidado que a Riot passou a ter com a Lore e intensificada de forma magnífica com a chegada do novo Urgot. Se já conhecíamos o lado ruim de Zaun através dos derramamentos químicos, deformidades e doenças advindas do trabalho com substâncias perigosas, conhecemos a bondade e a amizade… para então sermos relembrados que Ekko é como uma flor que nasce no concreto.

Urgot nos relembra que Zaun é uma terra perigosa, com uma profundidade que vai além daquela que se cava no solo, lar de muitas monstruosidades e de homens e mulheres que tiveram que ser mais fortes que o destino, para permanecerem vivos e poderem viver um novo amanhã.

Sobre Ekko, Urgot vê no garoto um imenso potencial desperdiçado, em boa parte atribui isso a suas “correntes” que são os laços com seus amigos. Um homem que foi traído pela sua nação e abandonado para morrer mas ressurgiu por sua própria força dos escombros, certamente vê amigos como amarras que limitam o potencial, que inibem ele de tomar decisões que Urgot considera necessárias e que muitas vezes podem custar a vida dos que lhe são queridos. Esse é um dos segredos de Urgot, ninguém é querido por ele.

Após sua rebelião e libertação da prisão da Draga, Urgot não se contentou em permanecer nas sombras e aproveitar uma falsa liberdade, sua meta parece que passou a ser a busca dos Barões Químicos, exterminando seus capangas e eventualmente eles, um a um. Nesse passo, vindo a começar uma atuação que passou a desestruturar as relações de poder da cidade e mexendo completamente no balanço das forças que controlam e lucram com tudo que acontece em Zaun.

A figura de Urgot passou a ser um contestador do poder, um mecanismo quase impessoal que parece reciclar quem está estabelecido no poder e estagnado, fazendo com que as fileiras se movam e novas faces tomem lugar no vácuo de poder que acontece entre uma execução e outra dos Barões Químicos.

Se outrora ele era um dos pontos de apoio do poder, a traição que ele sofreu fez com que ele passasse a contestar as figuras de poder que estão nessa posição pela pura e simples imanência, ou mesmo aqueles que herdam sem merecê-la. Através de seus métodos facilmente contestáveis, parece que Urgot deseja trazer uma revolução iniciando por Zaun, mas seus olhos já vislumbram o horizonte, especialmente Noxus e Shurima.

Cada passo dessa revolução é repleto de destruição como uma ode ao Caos em uma dança contínua e assíncrona que Urgot faz pisando na carcaça dos que julga fracos e causando queimaduras químicas severas no status quo. Seus reais e finais objetivos ainda não são conhecidos, mas uma coisa é certa, em seu rastro de destruição, certamente uma nova raça de força há de se erguer… resta apenas saber se ele sobreviverá para ver esse novo amanhecer.

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Gabriel Gastaldo
Arddhu
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