Viajante das Dunas

Episódio 4, Temporada 3.

Samedi
ARKHI
5 min readFeb 9, 2022

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Texto por: Matheus Piquera

Reflexões de um viajante das dunas de Arkhi, chamado Amur El Hiab, o guerreiro sagaz

A aventura começou com as dunas negras e repletas do vazio e da imensidão do infinito sobrepujando nossos sentidos, impedidos de vislumbrar e contemplar a beleza do céu, que nessas terras podem tirar sua capacidade de vislumbrar qualquer coisa com seu brilho cegante, nos vimos no meio de um vale com o sentido sul como base, e com o objetivo de conseguir o que move o homem, tesouros, e o inesperado. Eu Amur El Hiad estava acompanhando por um homem santo chamado Phystolos, por um gatuno chamado Lázaro, e por uma pequenina astuta com o nome de Azumba, eles são definitivamente interessantes e pareciam bons companheiros de viagem.

Um corredor de dunas, uma de 17m e uma de 12m nos cercava, a trilha parecia seguir até um declive que possivelmente levava a uma clareira ao que tudo indicava. Optamos por analisar o ambiente, ouvimos os sussurros graves dos ventos passando pelo vale de Dunas, e eu optei por subir a menor delas pra colher informações. Enquanto isso observamos que na outra duna havia um “calombo” em um ponto específico da duna, mas eu ignorei no momento e continuei minha subida circundando a Duna para ter mais segurança, nesse tempo senti algumas vibrações no solo embaixo da duna, como se algo fluísse por lá. No fim, cheguei ao topo e observei ao longe, além da clareira, algo que parecia um assentamento, havia uma paliçada e uma bandeira Jaonída balançava quase que destruída por pichações e sangue que zombavam daquele povo, no assentamento havia população!

Analisamos o calombo na duna, e percebemos que parecia humano, então um dos meus colegas atirou uma pedra na protuberância, o que nos fez perceber que parecia uma forma humana em cera. Um companheiro mais experiente do grupo nos informou sobre uma ave que se alimentava dessa forma, o cheiro forte entregava que o humanoide que um dia estivera ali, agora já estava com sua alma no coração das dunas. Conseguimos, entretanto, recuperar, um machado de ferro, e um saco com o que pareciam olhos, eu os peguei com cuidado e percebemos ser olhos de alguma criatura, um colega nos informou que eram raros, eram olhos de demônio branco! Serviam como moeda de troca no deserto e como objeto de cura se corretamente preparado.

Do nada na paisagem ouvimos um forte estampido, e vimos uma explosão vinda do declive abaixo, vimos apenas uma placa de pedra sendo arremessada para imensidão do deserto e a temperatura aumentou drasticamente. Neste ponto sentimos as primeiras pontadas de fome, e vimos que éramos humanos com necessidades no fim das contas. Optamos por explorar mais, e vimos ao longe uma águia de tamanho avantajado, e ela parecia estar caçando! Não perdemos a oportunidade. Os momentos que seguiram foram de pura emoção. Nós vimos a águia caçando pequenas criaturinhas peludas e atrapalhamos sua caça, agora o objetivo dela era unicamente nos usar como alimento muito provavelmente, nós tentávamos caçar as criaturinhas, e a águia tentava nos caçar, ao passo que, da cratera onde houvera a explosão, agora saía lava vulcânica que subia constantemente. No fim a águia se tornou a caça, porém, com a vitória vieram desafios.

Quando o combate se encerrou, uma cratera começou a se abrir, eu e a pequenina no topo da duna, nos mantemos firmes, mas nossos colegas no vale abaixo quase sucumbiram. Com meu pensamento rápido fiz uma alavanca improvisada e resgatei os outros, que salvaram nossa caça e então pudemos fugir para o norte contra a cratera e o calor absurdo. A temperatura desceu rapidamente e nos vimos em um caminho mais brando. Paramos então para aproveitar nosso trabalho duro, e fazer utilidade da caça proveitosa. Utilizamos tudo, fiquei com as tripas para fazer cantis e cordas, penas para enfeitar meu turbante, e com duas garras que servirão de boas adagas, além de ter improvisado uma caixa para cozinhar a carne deliciosa da criatura.

Mas obviamente, tudo que é bom nesse deserto dura pouco. Ao longe observamos uma grande pedra em forma de leão, ouvimos batidas de tambores, vindas de muito longe ao norte, eventualmente ouvimos tilintares de sinos vindo da estátua, e então tudo se apagou, de novo e de novo, e percebemos que os repentinos apagões sincronizaram com os tilintares. Quando tudo se acalmou, uma mão esquelética pequena saiu da terra, e logo depois todo o esqueleto se levantou da tumba de areia, a criatura era pequena e tinha um brilho sem vida em seus buracos do crânio que um dia guardaram seus olhos, ela carregava em suas mãos uma sineta. Quando as coisas não pareciam poder piorar, vimos duas dunas de pelo menos 40 metros cada sucumbirem no deserto ao longe. Decidimos fugir. Mas antes o homem santo tentou um milagre, e algo que eu não compreendi ocorreu. O milagre fora feito, a criatura jazia no chão, sem movimento aparente, o gatuno se aproximou rapidamente e pegou um sino além de recuperar um anel.

Mal sabíamos que aquele poderia ser o começo de algo muito maior. A pequenina decidiu usar o anel, nós concordamos ainda que a contragosto, ela narrou que sentiu um equilíbrio térmico perfeito e muito agradável, mas vozes falavam em sua mente. O homem santo foi o segundo a experimentar o anel, e ele claramente foi o mais afetado. Eu testei depois, e fiquei abismado, uma jovem garota translúcida saiu dentre as dunas e me suplicou para tocar a cabeça do leão. Paralelo a isso, o homem santo que estava fora de suas capacidades cognitivas, caminhava em direção a pedra do leão, balbuciando coisas sem sentido, até que ele levitou, levitou como se o que nos pendesse ao chão não existisse, apenas sobrevoou até a cabeça, e a tocou, trazendo a nossa perdição.

Tudo se apagou, mas agora permanentemente, a luz não voltava, estávamos no breu em desespero, até que os tambores que haviam se distanciado antes, retornaram, trazendo consigo a melodia do terror, o terror das dunas negras.

Arte por: Tulio Cerquize

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