Beatriz Veloso
Nexus: AOF
Published in
4 min readFeb 20, 2016

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2035, o que resta da população humana se encontra vivendo em abrigos subterrâneos após a atmosfera da Terra ter sido contaminada em 1996 por um vírus que matou cinco bilhões de pessoas. Esse é o cenário inicial de “12 Monkeys” (Os Dozes Macacos, em português), filme de 1995 do diretor Terry Gilliam baseado no curta metragem francês de 1962 “La Jetée”.

Dessa sociedade futurista distópica, vemos apenas seus cientistas e prisioneiros, os primeiros buscando uma forma de voltar a habitar a superfície terrestre e , os segundos, servem de cobaias para eles. Eles são enviados para coletar amostras e informações no ambiente exterior, agora inóspito, com vestimentas especiais e, caso essas sejam danificadas, são impedidos de voltar ao abrigo subterrâneo. Os cientistas também escolhem os presos tidos por eles como psicologicamente estáveis para missões mais delicadas: viagens no tempo. James Cole (Bruce Willis) é um dos escolhidos para voltar para 1996 e tentar impedir que o vírus seja liberado.

Enviado por acidente para 1990, Cole acaba sendo internado em uma instituição mental, sob os cuidados da psiquiatria Kathryn Railly (Madeleine Stowe) e aonde conhece Jeffrey Goines (Brad Pitt), o futuro criador e líder do “Exército dos Doze Macacos”, grupo que aparentemente está ligado com o ataque. A história dos três começa a se entrelaçar a partir desse momento, sendo constantes nos outros envios de Cole para a década de 90 e, em momentos nos quais o próprio personagem duvida de sua sanidade mental e coloca essa mesmo suspeita da mente do espectadores, são os outros dois — principalmente a Drª Railly — que ajudam a entender o que está acontecendo na narrativa.

O filme pode, e deve, ser interpretado com uma crítica ao uso de armas bioquímicas, usadas nas guerras mundiais e, na década de 80, pelo Iraque na Guerra Irã-Iraque, nessa crítica, ele segue o curta no qual foi baseado que se passa após uma Terceira Guerra Mundial que destruiu o mundo com suas armas nucleares. Não é incomum as ficções científicas levarem ao extremo um problema inerente à sua época, é algo intrínseco a ela essa imaginação dos caminhos que a humanidade pode tomar e o que acontecerá em cada um deles. Isso ocorre pela proximidade do gênero da ficção científica com outro, a Utopia que é definida pelo crítico Darko Suvin como:

“(…) construção verbal de uma comunidade quasihumana na qual instituições sociopolíticas, normas e relacionamentos individuais são organizados de acordo com um princípio mais perfeito do que na comunidade do autor, essa construção sendo baseada em um estranhamento causado por uma alternativa histórica hipotética.”

Para isso fazer sentido dentro do contexto do filme, precisamos levar em conta também o que o teórico político Lyman Tower Sargent nos fala sobre as subdivisões da narrativa utópica, sendo uma delas a distopia. A condição que a raça humana vive no ano de 2035 é, para eles, tão terrível que — embora tenham avançado tecnologicamente ao ponto de tornarem viagens no tempo algo real — a única real saída que os cientistas dessa sociedade vêem para melhorar é voltar ao passado para obter um vírus que provavelmente já sofreu diversas mutações nos quase quarenta anos passados desde sua liberação.

Gilliam nos entrega um filme com uma narrativa de tempo circular que nos faz não apenas duvidar de tudo introduzido nos seus minutos iniciais, mas também pensar sobre como nossas ações modificam o futuro sem utilizar o recurso tão comum as histórias sobre viagens no tempo dos universos alternativos e/ou paralelos. É interessante pensar em como uma frase dita por Cole para outro personagem pode ter modificado tudo, porém sob a visão de tempo circular aquilo já estar premeditado, ela não muda nada. Nos deixa com a pergunta sobre o nosso futuro, ele está em aberto ou todas as decisões que fazemos já estariam definidas?

Ficha Técnica

Gênero: Suspense, Ficção Científica, Thriller
Direção: Terry Gilliam
Roteiro: David Webb Peoples, Janet Peoples
Produção: Charles Roven
Elenco: Bruce Willis, Madeleine Stowe, Brad Pitt
Fotografia: Roger Pratt
Trilha Sonora: Paul Buckmaster
Duração: 129 min.

Bibliografia

WEGNER, PHILIP E. Utopia / SEED, DAVID (ed). A Companion to Science Fiction. Blackwell Publishing, 2005

https://pt.wikipedia.org/wiki/Twelve_Monkeys

http://www.imdb.com.br/title/tt0114746/?ref_=tttr_tr_tt

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