Interestelar: uma viagem ao exterior desconhecido ou ao interior conhecido?

Bernardo Quadros
3 min readFeb 12, 2016

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Interestelar, o mais recente filme de Christopher Nolan.

Dentre o gênero da Ficção Científica, poucas abordagens são tão deslumbrantes quanto a exploração espacial. Já fomos prestigiados com clássicos como 2001 — Uma Odisseia no Espaço, do lendário Kubrick, ou o mais recente Gravidade, de Cuáron. Entre tantos gigantes, Interestelar, mais nova obra (de arte?) de Christopher Nolan não fica para trás.

A história se passa numa Terra devastada por pragas nos campos de agricultura. Apesar de não focar muito nos acontecimentos que levaram até tal cenário, ainda existe uma leve crítica sobre o uso descontrolado e irresponsável dos recursos naturais por parte da humanidade. Mas essa não é a mensagem do filme. Com a escassez de alimentos e água, boa parte da população mundial não resistiu e o cenário atual é caótico. Nesse meio, somos introduzidos a Cooper (Matthew Mcconaughey), ex-piloto da NASA, que tem uma fazenda com sua família: uma filha, um filho e seu sogro. A ênfase obrigatória fica para a menina, Murphy, que tem uma relação muito próxima com Cooper que acaba sendo o eixo central do filme.

Não é à toa que são os dois juntos que presenciam eventos estranhos no quarto de Murphy e percebem que estão recebendo mensagens codificadas com coordenadas específicas. Seguindo essas coordenadas, descobrem que elas levam a uma instalação secreta da NASA. Lá eles ficam sabendo por John Brand (Michael Caine) da descoberta de um buraco de minhoca — o famoso fictício (será?) atalho através do espaço e tempo — perto de Saturno que pode os levar para novos planetas. A missão de Cooper, junto com sua equipe, formada por Amelia Brand (Anne Hathaway), Romily (David Gyasi), Doyle (Wes Bentely) e os excelentes robôs TARS e CASE é encontrar um novo planeta que possamos chamar de lar.

É aí que Interestelar se diferencia dos demais. Apesar de acompanharmos a épica viagem de Cooper e sua equipe pelo espaço (e tempo) em busca de um novo lar, percebemos que o universo mais explorado pelo filme na verdade é o interior. O que, de fato, nos torna seres humanos? Do que precisamos para sermos mais conscientes sobre nosso planeta? Como podemos respeitar as diferenças na sociedade? As perguntas que se pode levantar são muitas, mas a resposta é uma só: o amor. O amor entre um pai e uma filha, entre vivos e mortos, entre a humanidade e seu planeta. O amor é a nossa salvação. É como garantimos o nosso futuro, mudamos o nosso presente e construímos um melhor passado. É a chave de tudo.

Interestelar é tão bem feito que, mesmo que não abordasse temas profundos e reflexivos, só pela viagem o filme já valeria a pena. Os efeitos visuais são fantásticos e os termos e teorias científicas (horizonte de eventos, dilatação do tempo e espaço, buraco de minhoca, para citar alguns) são muito fielmente retratados e, de certa forma, didaticamente explicados. Também, não é pra menos. Christopher Nolan fez questão de contratar o físico Kip Thorne como consultor da ciência retratada no filme. Além disso, como não podia deixar de ser em um filme de Nolan, as reviravoltas são constantes e é difícil se ater à poltrona.

Interestelar vai além dos temas mais abordados em filmes de viagens espaciais, como a solidão, a insignificância e a pequenez dos seres humanos. Mostra, também, sua grandeza, seu potencial. Não retrata apenas os problemas, mas a solução. É uma jornada incrível pelos lugares mais distantes do universo, e também os mais próximos, dentro de nós mesmos. As emoções são grandes. E a viagem, imperdível.

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