O dia em que dois ‘uruguaios tricolores’ calaram o Centenário

“Ó, Tricolor”

Luca Machado
Arquibancada OCA
4 min readJul 6, 2018

--

Pedro Rocha jogou no Tricolor paulista entre 1970 e 1978. (Foto: Agência Estado)

Na toada de Copa do Mundo que estamos vivendo — que infelizmente já está caminhando para seu desfecho, com as quartas de finais começando nesta sexta-feira, 06 — , começamos a acompanhar os jogadores estrangeiros que jogam em nossos times e torcer para tenham bons desempenhos nas seleções que defendem. Foi assim com os três gols de Mina, ex-zagueiro do Palmeiras e defensor da Colômbia, neste Mundial: cada um de seus tentos foi celebrado por palmeirenses como se fosse um gol do alviverde. Completamente normal, afinal, isso é o futebol.

Nós, são-paulinos que somos, tentamos torcer por Cueva — ou, para os que o odeiam, torcer contra — , mas sabemos o resultado: o peruano teve fraco desempenho, perdendo um pênalti decisivo e entregando a bola displicentemente no gol vitorioso da Dinamarca na primeira rodada da fase de grupos. No entanto, já tivemos craques estrangeiros que, além de jogar muita bola pelo tricolor, correspondiam em suas seleções.

O São Paulo sempre teve uma ligação muito forte com jogadores uruguaios, como Diego Lugano, Dario Pereyra, Pedro Rocha e Pablo Forlán. Confira aqui o perfil do OCA sobre a seleção uruguaia da Copa do Mundo de 2018.

Na época de amistosos pré-copa de 1974, o tricolor tinha um grande time, que contava com o goleiro Waldir Peres (decidiu a final do Campeonato Brasileiro de 1977, ganho pelo Tricolor nas cobranças de pênalti), além dos uruguaios Pedro Rocha (campeão paulista em 1971 e 1975, além do Brasileirão de 1977) e Pablo Forlán (tricampeão paulista pelo São Paulo em 1970 — nesta edição, ajudando o tricolor a encerrar uma seca de 13 anos sem títulos — , 71 e 75, além de treinar as categorias de base e o time principal do São Paulo em 1984 e 1990, respectivamente).

A seleção uruguaia, em busca de uma melhor preparação para o Mundial daquele ano e da liberação de Rocha e Forlán para se juntarem à delegação, marcou um jogo amistoso beneficente contra o São Paulo. O palco da peleja seria, nada mais, nada menos, que o lendário Estádio Centenário, em Montevidéu. Apesar da pressão Celeste para que os uruguaios do tricolor jogassem pela seleção, a diretoria da época bateu o pé e disse ‘não’.

Forlán defendeu as cores do São Paulo entre 1970 e 1975, sagrando-se campeão paulista em três oportunidades. (Foto: Reprodução)

Com isso, ambos entraram em campo pelo São Paulo, no dia 11 de maio, em um estádio lotado, com 55 mil pagantes e 70 mil presentes. A equipe brasileira, à época, não perdia há 18 jogos e liderava seu grupo na Libertadores, onde seria vice campeã do torneio. Enquanto isso, a seleção uruguaia já havia realizado 8 amistosos preparatórios, porém o time ainda não era unanimidade no país e teve o amistoso aprovado pela imprensa. O resultado não poderia ser outro: vitória tricolor por 1 a 0, gol do capitão Pedro Rocha e assistência de Forlán.

Em uma partida bem movimentada e repleta de emoção, aos 3 minutos da segunda etapa, o tento anotado pelo meia são-paulino calou o estádio inteiro, proporcionando alguns segundos de silêncio constrangedor entre todos os presentes, que foram seguidos por uma calorosa salva de palmas.

O gol de Pedro Rocha no estádio Centenário (Foto: Arquivo SPFC)

No dia seguinte, a repercussão em jornais uruguaios foi bem digna: valorizaram o Tricolor — que até hoje é respeitadíssimo na imprensa internacional, devido à tradição que temos em competições sul-americanas e mundiais — e enalteceram o craque Pedro Rocha.

Sim, esse foi o dia em que os uruguaios tricolores calaram 70 mil aficionados pela Celeste: a poderosa seleção do Uruguai tinha acabado de ser apunhalada, mesmo que em um amistoso, por dois de seus melhores jogadores.

Copa 2018

Nesta sexta-feira, 06, a Celeste enfrenta a França em uma das quartas de final da ‘Copa da Rússia’, em Nizhny Novgorod, às 11h. Apesar da lesão do artilheiro Cavani, essa é a chance do Uruguai de chegar às semi-finais do Mundial pela segunda vez em 8 anos — 2010 e, em caso de vitória contra os ‘Bleus’, 2018 (na Copa disputada na África do Sul, Diego Forlán, filho do ídolo e ex-jogador e treinador Pablo Forlán, foi eleito o melhor jogador do torneio).

A torcida são-paulina está com vocês, uruguaios. VAMOS!

Foto: REUTERS/Hannah Mckay

Agradecimentos ao historiador do São Paulo Futebol Clube, Michael Serra, pelas excelentes pesquisas e matérias sobre o amistoso em 1974, que ajudaram muito na produção desta coluna.

ARQUIBANCADA OCA apresenta: “Ó, Tricolor”, uma coluna do São Paulo.

--

--

Luca Machado
Arquibancada OCA

“Entre milhões de views e milhões de ninguém viu”/Jornalista, 24/Twitter: @lucamachado98