À sombra da ditadura: Médici

Gabriel
Arquibancada Antifa
4 min readJul 23, 2018

Com a política interna conturbada, Lincoln Gordon, latifundiários e empresas estrangeiras instaladas no país, caminhávamos como um cordeiro rumo ao abate; Ambiente propício e completamente favorável para o golpe de 1964 no qual instauraria a ditadura militar no Brasil que duraria 21 anos. Assim como em qualquer outro ambiente, o futebol não ficou de fora do militarismo, autoritarismo, tensão, propaganda, mas acima de tudo resistência. Estrategicamente bem utilizado para manipular as massas, o futebol torna-se alvo de forte acesso para general Emílio Garrastazu Médici na década de 70.

Carlos Alberto (Capitão do Tri) e Médici exibem a taça Jules Rimet

Médici, nos braços da geral

É quase impossível não relacionar o Médici com o futebol, flamenguista e apaixonado pelo futebol e quase sempre visto nos estádios, o “28.º Presidente do Brasil” completa a lista de presidentes-ditadores junto a Geisel e Figueiredo. O ditador deu nome ao “Torneio do Povo”, oficialmente chamado de Torneio General Emílio Garrastazu Médici, inicialmente disputado por Flamengo, Atlético-MG, Internacional e Corinthians (campeão da edição de 1971). O Torneio do Povo tinha como intuito reunir os times com as maiores torcidas de seus respectivos estados; Teve como campeão na edição de 72 o Flamengo e em 73 o Coritiba.

Médici no Maracanã — flamenguista e apaixonado pelo futebol e quase sempre visto nos estádios

Brasileirão

Nascido em 1971 sob grande influência política, o Campeonato Nacional de Clubes engatinhava em um período em que a ditadura preocupava-se e forçava o crescimento da competição a nível nacional para o agrado dos coronéis de regiões onde o futebol não era tão popular; Exemplo claro seria a promoção do vice-campeão da série B de 1972 para a série A, o Clube do Remo que terminara na segunda colocação do nacional deixaria para trás o Villa Nova de Minas Gerais. No ano de 1971 o Atlético Mineiro tornou-se o primeiro campeão da competição além de ter na mesma edição os mineiros América Mineiro e Cruzeiro; A inclusão de um terceiro clube mineiro poderia não soar de maneira agradável, com isso incluiu-se o clube de Belém.

Elenco do Galo, campeão brasileiro em 1971 comandado por Telê (Foto: Agência Estado)

Milésimo gol, medalha, desfile e glória

19 de novembro de 1969 o Maracanã recebe aproximadamente 65 mil pessoas para Vasco e Santos; Pelé vence a disputa de penâlti aos 33 minutos da segunda etapa contra o goleiro Andrada, marcando assim então o milésimo gol de sua carreira; No mesmo ano de 69 o jogador foi condecorado com medalha de mérito nacional pelo ditador, Pelé seguiu em desfile em carro aberto em Brasília. A boa e estreita relação entre Pelé e Médici transformou o craque em um agente de propaganda do governo, Cavaleiro da Ordem do Rio Branco e Estádio Rei Pelé foram algumas conquistas dele na década de 70.

"Pra frente Brasil, transformou-se na música oficial do governo, enquanto a imagem de Pelé voando sobre a grama ilustrava, na televisão, anúncios que proclamavam: Ninguém segura o Brasil" — Trecho do livro Futebol ao Sol e Sombra de Eduardo Galeano

Com ‘imensa satisfação’, Pelé serviu Médici no ano do tri

O futebol na década de 70 foi muito bem explorado por meio da propaganda, tornando-se uma das armas mais fortes da década, se dependesse de Médici, jamais faltaria ópio para o povo. O ditador que tentava passar uma imagem de torcedor vidrado e apaixonado, comum nos estádios brasileiros, acompanhando o Flamengo de pé até os quarenta e cinco do segundo tempo e sempre com o radinho de pilhas grudado aos ouvidos não passava de mais um ditador da noite que durou 21 anos.
“Exportar é o que importa”, “Este é um país que vai pra frente”, “Todos juntos, vamos, pra frente Brasil”, “Eu te amo, meu Brasil” e o dito "Milagre Brasileiro" eram apenas tapetes para esconder o sangue das torturas, assassinatos e censura. O futebol como outras áreas dentro do Brasil ainda sofre com o resquício da ditadura; Grandes empresas monopolizam o futebol nacional, corruptos na presidência da CBF e assim seguimos na herança maldita de Heleno de Barros Nunes, o almirante presidente da CBD na década de 70; del Nero, Marin e Ricardo Teixeira são exemplos claros dentro do futebol Brasileiro.
Apesar dos cartoleiros, CBF, corrupção, redes de televisão e interesses financeiros, o futebol brasileiro respira, respira tendo dentro de campo o reflexo da nossa política atual e claro lembrando-se sempre, o futebol é cria da ditadura militar no Brasil.

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