Apesar dos percalços, a paixão de Elmita por ensinar continua

Guilbert Corrêa Trendt
Arquivo 11
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3 min readNov 23, 2018

Reportagem de Andréia Ramires, Guilbert Trendt, Júlia Goulart, Liliane Franco e Maicon dos Santos.

Elmita Toledo, professora da rede pública de ensino. Foto: Guilbert Trendt.

“Jamais pensei em desistir da profissão. Além do equilíbrio da sociedade, a educação é a base para a estrutura social e para a mudança dos indivíduos. Eu acredito que só o ensino pode mudar qualquer situação do país.”

Elmita Toledo, 55 anos, é professora da rede pública de ensino desde 1999. Atualmente, leciona aulas de Português e Filosofia no Colégio Estadual Miguel Lampert, em Canoas/RS. Conheceu as letras e aprendeu a fazer contas com nove anos. Quem a ensinou foi a mãe, Santa Sanguiné Toledo, em casa mesmo, no canto da cozinha, utilizando grãos de milho e feijão.

“Minha mãe me chamou para o canto da cozinha para me ensinar, afinal, eu já tinha nove anos e estava mais que na hora de aprender. O mais curioso é que minha mãe era analfabeta. Mesmo assim, saí dali conhecendo o alfabeto e os números, quando finalmente entrei para a escola. Tive grandes mestres, mas a minha mãe foi a mais significativa na minha vida, pois mesmo sem saber ler, ela conseguiu me ensinar muita coisa.”

Formada em Letras pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), a professora conta que apesar de todas as dificuldades que a classe enfrenta, ainda acredita no ensino e se motiva pela visão de sociedade que ele dá. Ao ser questionada sobre a desvalorização da classe, Elmita lamenta a não priorização dos funcionários públicos.

“Desde a entrada do atual governador, o Estado não paga em dia. Não se tem mais salário, pois quando recebemos já estamos com a conta negativa. Acredito que ainda existe a possibilidade de reverter essa situação e estamos sempre na expectativa de que isso aconteça.”

Com dois filhos sob sua responsabilidade, Elmita conta que a situação financeira dos professores passa por muitas dificuldades. “Temos que escolher o que pagar e o que deixar pendente, priorizar alimentação, transporte, água e luz. O resto vai ficando.”

Mesmo em casa, a professora se dedica para aperfeiçoar seus métodos de ensino. Foto: Guilbert Trendt.

Desafios: o que esperar do futuro da educação?

Uma pesquisa realizada em 2013 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), colocou o Brasil no topo do ranking de violência em escolas. Foram entrevistados mais de 100 mil professores e diretores de escolas do ensino fundamental e médio em 34 países.

Elmita acredita que essa violência acontece devido aos problemas sociais que o país vive. “São muitas famílias desestruturadas, sem base ética e moral ou de princípios. Os jovens não sabem seus limites e a partir do momento que eles crescem com violação de direitos, chegam às escolas nos seus extremos e isso acaba refletindo nos professores”, explica.

A professora ressalta que é necessário criar um vínculo com os alunos, conhecê-los e reconhecê-los como sujeitos singulares. “Não temos uma classe uniforme, a partir do momento que tu olhas para o teu aluno como ele é, tu consegues dialogar e aí se cria um respeito de ambas partes. É assim que vamos levando.”

Sobre o futuro da educação, Elmita gosta de traduzir nas palavras de Paulo Freire, um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial. “Eu gosto de um pensamento dele que diz que os sujeitos se adequam ao mundo e que a inserção é quando se entra com uma intervenção para mudar a situação do mundo. Ou seja, quando tu te adaptas a um certo lugar, tu podes entrar depois com a inserção para buscar a mudança. Eu acredito nisso, o cenário da educação está precisando de uma intervenção”, finaliza.

Confira a entrevista na íntegra com a professora Elmita

Elmita fala sobre ser professora da rede pública de ensino. Créditos: Guilbert Trendt.

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