Associação Canoense de Deficientes Físicos completa 34 anos de atividades

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6 min readNov 1, 2018

A Associação Canoense de Deficientes Físicos — ACADEF, completou 34 anos de fundação no dia 20 de maio de 2018. É uma instituição que possui grande importância e significado perante a luta por direitos, e reconhecimento da sociedade. Criada em 1984, a realização de um sonho, foi idealizada por Jorge Cardoso e Maria Suzana Cardoso juntamente com um grupo de cadeirantes através de encontros na igreja Matriz em canoas. O objetivo era único: trazer auxilio e inclusão para as pessoas com deficiência física e dar maior visibilidade para a causa. Com o passar dos anos, a entidade se estruturou com apoio de amigos, colaboradores e parceiros, e conquistou sua sede própria, em 1999 — onde atende cerca de 350 pessoas diariamente, e é referência para 23 cidades do estado do Rio grande do Sul, realizando atendimentos clínicos, cursos, assistência social, e distribuição de órteses e próteses.
A Acadef é uma organização não governamental sem fins lucrativos e certificada pelo Ministério da Saúde como Centro Especializado em Reabilitação Física. A sua área de atuação envolve assistência social, reabilitação e habilitação da pessoa com deficiência, proporcionando a todos, programas e projetos que os ajudem com questões sociais, interativas e de desenvolvimento.

O renascer de um homem

O significado da palavra milagre é o de um acontecimento dito extraordinário, o qual viola as leis naturais que regem os fenômenos. Esta é a expressão que Gildo César Soares, paciente da Acadef, utiliza constantemente para descrever o terrível acidente que sofreu em maio de 2017.

Enquanto trabalhava colocando vidros em um prédio alto, o andaime que sustentava Gildo cedeu, fazendo-o despencar por onze andares. O homem desmaiou e só foi acordar quando estava próximo do segundo andar, onde ficou ciente do que estava lhe acontecendo e segundo ele, caiu em pé, ao solo.

O impacto do acidente levou à amputação de parte da perna esquerda de Gildo, trazendo uma nova perspectiva de vida. Em novembro do mesmo ano, ele chegou na Acadef e iniciou seu tratamento com a fisioterapia. Para o paciente, o pensamento era de que aquilo não iria lhe trazer nenhuma melhora, mas foi surpreendido com a evolução que teve.

Gildo completou um mês de adaptação com a prótese, que lhe proporciona independência. Pois, sendo morador de Canoas, já pega sozinho a condução para vir nas fisioterapias. Ele possui dois filhos, está se dedicando para melhorar cada vez mais, e diz que o próximo passo é voltar a trabalhar.

Gildo está em processo de adaptação da prótese.

“Graças a Deus eu estou vivo, perder um membro não foi nada, porque a vida eu ainda tenho” confessa Soares.

A história do beneficiário é impressionante, e nos faz acreditar que milagres existem sim e ele teve a oportunidade de renascer. A sua inserção na associação foi como um complemento para dar continuidade a sua grande história de vida, que felizmente teve um desfecho promissor.

Para aqueles que estão determinados a voar, não ter asas é apenas um detalhe

O doce sotaque carregado ecoado por Valdeni Tolentino, 41, nos faz viajar e perceber claramente que ela veio de outro estado. Nascida no Espírito Santo, descobriu aos 18 anos que possuía distrofia muscular, doença degenerativa, que futuramente ocasionaria na perda de movimento dos seus membros inferiores.

Aos 30 anos, Valdeni passou a se locomover com o auxílio da cadeira de rodas. Apesar de uma dura realidade, não se abateu, criou asas e decidiu que voaria, aproveitando a vida da melhor maneira possível, pois iria para onde quisesse, não importavam as limitações. Isso lhe despertou para a sua independência e viu que o poder para ter uma vida feliz estava em suas mãos.

Valdeni quis conhecer o frio.

Como sempre adorou novos lugares, novas culturas, novos ares, concluiu que iria sair e se aventurar. Foi quando Tolentino se mudou para Roraima e passou a viver livre, protagonista da sua própria história. Porém, há 5 anos ela quis mais, queria conhecer o frio, preparou as malas e foi sozinha em direção ao estado mais gelado do Brasil: O Rio Grande do Sul.

A conexão com o Sul foi tão grande que Valdeni decidiu ficar, se instalou na cidade gaúcha de Canoas e através de uma pesquisa na internet conheceu a Acadef. Há pouco tempo foi inserida no PIC — Programa Integral de Capacitação, o qual, segundo ela, parece estar na sua vida há anos. Tolentino possui espírito aventureiro e não tem medo de arriscar. “ Já estou com duas viagens marcadas para o resto do ano, me viro, vou sozinha e aproveito porque a vida é só uma” conta com alegria.

A nova Acadefiana leva em sua bagagem uma incrível história de superação, que apetece e encanta os ouvidos de quem as escuta. Automaticamente nos sentimos revigorados e com vontade de conhecer cada lugar ao lado de Valdeni, que nos inspira a colher tudo o que o destino nos ofertar.

“Eu não penso, eu aproveito. O segredo é não focar nos problemas, mas sim aproveitar as coisas boas da vida. Todos temos limites, mas podemos mostrar que somos capazes e não devemos temer o erro, pois ele serve de aprendizado” finaliza Valdeni Tolentino.

A força que te faz superar

Quando crescemos levamos conosco a dura realidade de escolher o caminho que trilharemos para nossas vidas, nos tornamos maduros, mais experientes e cheios de vontade de desfrutar das melhores coisas que a vida tem para nos proporcionar. Hoje, nós vamos conhecer a história de Gabriel Espíndola, 20, aprendiz da empresa Dufrio e ex-paciente da Acadef, que não deixou as dificuldades de uma deficiência impedirem com que ele escrevesse aos poucos o seu destino.

Gabriel nasceu com nanismo, patologia que impede o corpo de crescer, ao descobrirem a deficiência, os pais se sentiram preocupados sobre os cuidados com o bebê e como seria seu futuro perante a sociedade. Com o passar do tempo, a família e Gabriel foram se adaptando, e o menino conseguira efetuar suas atividades normalmente, apesar das dificuldades. Entretanto, Espíndola começou a sentir fortes dores no joelho, por se ajoelhar muito quando cansava ao caminhar, com isso, o garoto deixou a escola e se distanciou de funções que até então eram corriqueiras em sua vida.

Vendo o sofrimento do filho, o qual passava os dias em casa e se limitava de sair, a mãe de Gabriel, Luciana Borges, 47, entrou em contato com um amigo cadeirante, que apresentou os serviços da ACADEF para a família. Em pouco tempo, Gabriel se dirigiu até a associação e iniciou sua história de superação ao lado de nossos profissionais. Há um ano, o menino faz parte da ACADEF e teve apoio através de fisioterapia, ganhou uma cadeira de rodas para a melhoria de sua locomoção, e recentemente realizou por intermédio da associação seu grande sonho de poder trabalhar.

Gabriel projeta estudar Engenharia Química.

Após o início de seu tratamento com a instituição, Gabriel passou a efetuar suas atividades que haviam sido esquecidas devido aos problemas em seu joelho, e traçou metas que sonhava em alcançar. O sonho de trabalhar estava entre os seus objetivos e graças ao Programa Aprendiz, mediado pela ACADEF, este ponto pôde ser riscado de sua lista.

A próxima meta de Espíndola é conseguir uma bolsa para estudar engenharia química, o garoto de inteligência surpreendente, conta que já está se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio — ENEM deste ano. Para Luciana, mãe de Gabriel, é gratificante ver a evolução do filho em tão pouco tempo. “Em um ano a vida do meu filho mudou, isso é gratificante, eu imaginei que seria muito difícil para ele, mas ele está se superando. Nunca vi alguém tão feliz ao ir trabalhar. Estou contente, pois sabia que meu filho tinha condições de mostrar do que ele era capaz e graças à ACADEF ele está tendo a oportunidade”.

Para concluir Gabriel conta que as dificuldades fazem parte da vida de cada um e que hoje se sente feliz por ter amadurecido com as oportunidades. “Minha mãe sempre me ensinou que não é o mundo que tem que se adaptar a gente, somos nós que temos que nos adaptar ao mundo, e eu sempre dou um jeito de conseguir o que eu desejo, basta ter força de vontade”.

Por Renata Ramos

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Curso de Jornalismo da Universidade Luterana do Brasil (Canoas/RS).