Saúde mental dos universitários preocupa instituições de ensino superior

Juliana Corrêa
Arquivo 11
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6 min readOct 19, 2018

Por Guilherme Estulano, Júlia Goulart, Juliana Corrêa e Pietra Martins.

Foto: Guilherme Estulano

A liderança de Porto Alegre no ranking do números de suicídios nas capitais brasileiras e o fato dessa ser a segunda maior causa de mortes entre universitários, preocupa instituições e universidades e está levando as mesmas a procurarem formas de combater o problema. Além de derrubar o estigma que ainda existe em volta desse assunto, centros acadêmicos buscam, junto com a família, auxiliar alunos que enfrentam problemas financeiros, de tempo e estresse em seu dia-a-dia, evitando que o sonho da faculdade seja interrompido.

A região sul concentra 23% dos suicídios do Brasil. A situação é tão preocupante que universidades gaúchas contam com setores de apoio ao estudante. A PUC conta com o Centro de Atenção Psicossocial, um núcleo que atende à professores e funcionários. Dóris Helena Valentina, coordenadora de Relacionamento Psicossocial da Universidade, conta sobre o atendimento do centro:

“Atualmente, nossos acompanhamentos são contínuos; muitas vezes auxiliamos os estudantes desde sua entrada na Universidade até a formatura. Acolher as pessoas e ajudá-las a encontrar seu caminho é um desafio e é fascinante”, observa.

Ulbra, Uniritter e Unisinos também contam com projetos de apoio aos estudantes com atendimento gratuito. Para a psicóloga e especialista em Saúde Comunitária, Vanessa Rauter de Oliveira, esse acolhimento por parte das instituições e dos professores é o primeiro passo. Ela explica que o suicídio entre os estudantes é um problema complexo e que a causa não é única: “Pensando na comunidade acadêmica, podemos ressaltar os Fatores Ambientais, os quais os acadêmicos estão expostas ao longo da faculdade em momentos distintos, seja nas avaliações ou no temido trabalho de conclusão, somado com demais fatores externos, tais como trabalho, família, entre outros.”

Se há, por parte das universidades, projetos para o combate ao suicídio, pelo lado dos alunos também existe uma rede de apoio em busca da melhoria mental dos universitários. A UFRGS conta com o Pega Leve, projeto de extensão vinculado à faculdade de medicina da UFRGS e protocolado na pró-reitoria de extensão com o objetivo de diagnosticar e atender os estudantes que sofrem por transtornos psicológicos durante a graduação.

“O Pega Leve utiliza 3 módulos: no primeiro falamos como é estar na universidade e como é ser estudante universitário. O segundo é mais do objetivo do projeto, que é como identificar em si e em seus colegas sinais de riscos e alertas pra psicopatologias comuns. Esse é um dos nossos maiores focos, fazer com que o estudante consiga identificar e saiba pra onde encaminhar. O terceiro são pequenas estratégias de gerenciamento de tempo e estressores pra que a gente consiga manejar a vida acadêmica de forma mais tranquila.” afirma Anna Carolina Viduani, aluna de Psicologia da UFRGS e estudante do projeto de extensão.

O Pega Leve promove eventos dentro da UFGRS e também em hospitais de Porto Alegre. Através de materiais didáticos feitos pelos extensionistas e coordenadores, o Pega Leva quer capacitar as pessoas, abrindo canais de ajuda para quem precisa e assim, criando uma rede de estudantes atentos uns aos outros, possibilitando reconhecer casos de transtornos psiquiátricos. O projeto também promove a Semana da Saúde Mental, na universidade, que realiza diversas palestras, oficinas e eventos para uma conscientização sobre o psicológico de estudantes. “Nós vamos contra a “lei do silêncio” que é um dos problemas, principalmente nas questões mais graves de depressão”, explicou a psiquiatra e coordenadora do projeto, Anna Margareth Bassols.

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Pelo lado do Estado, há também um programa de ajuda, embora desconhecido por muitos estudantes que sofrem no período da faculdade. O Núcleo de Doenças e Agravos Não Transmissíveis conta com um grupo de pesquisa sobre o tema suicídio. Andrea Volkmer, chefe do núcleo, fala sobre o projeto da Secretaria Estadual da Saúde: ‘’O Governo do Estado tem um programa de apoio aos jovens e adultos que sofrem de depressão. O NDANT está à disposição para ajudar e dar total suporte aos estudantes. O Estado também fornece atendimento via SUS, toda vez que algum paciente dá entrada em um hospital público por tentativa de suicídio, é remanejado, após atendimento clínico, para um hospital especializado em saúde mental.”

Ainda mais amplo e de fácil acesso, o Centro de Valorização da Vida, CVV, realiza apoio emocional e de prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias (ligue 188).

Sinais de alertas gerais:

· Falar que deseja morrer, que se sente um peso para outras pessoas.

· Procurar por formas de se matar.

· Uso abusivo de drogas e álcool.

· Agir de modo ansioso, agitado ou irresponsável.

· Dormir muito ou pouco.

· Se sentir isolado, envergonhado, não querer sair de casa ou socializar com outras pessoas, até mesmo familiares.

· Demonstrar raiva ou falar sobre vingança.

· Ter alterações de humor extremas.

· Pior desempenho no trabalho e nos estudos.

· Perda de interesse em atividades que gosta, descuido da aparência.

· Pessimismo em relação ao futuro.

Ação e serviços que as principais universidades oferecem aos seus alunos e à comunidade

A falta de divulgação desses serviços causa um sentimento de abandono perante os alunos. “Eles nem sabem da minha existencia que dirá ajudar uma criatura que está “só ansiosa por bobagem”, porque quem não sofre de ansiedade não sabe o que é e acha que é bobagem”, diz a estudante de direito da Unisinos, Paula Moraes, 23 anos.

Apesar de não serem muito divulgado, todas as principais universidades de Porto Alegre e Região Metropolitana possuem algum sistema de auxílio gratuito ou por baixo custo. Alguns desses serviços não são exclusivos para alunos e são abertos à comunidade em geral.

· PUC

O Centro de Atenção Psicossocial fica localizado na sala 803 do prédio 40 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 — Porto Alegre) e funciona de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 21h. Professores e alunos da Universidade são atendidos gratuitamente. O agendamento pode ser feito pelo e-mail cap.proex@pucrs.br, pelo telefone (51) 3320–3703 ou pessoalmente.

· Uniritter

Alunos de Psicologia da UniRitter prestam serviços gratuitos à população. O serviço é destinado ao público em geral, podendo atender alunos. A iniciativa faz parte do Serviço-Escola de Psicologia e oferece orientação profissional e grupos de apoio. Os atendimentos estão disponíveis no Campus Zona Sul (prédio C, junto ao Serviço de Assistência Judiciária Gratuita — Sajuir). Para agendamentos deve-se ligar no telefone (51) 3230–3380 ou presencialmente, no local de atendimento.

· Unisinos

O NAE (Núcleo de Assistência Estudantil) promove atendimento e identificação de problemas relacionados a dificuldades psicossociais, didático-pedagógicas socioeconômicas, de acessibilidade, de saúde e bem-estar . Auxilia os alunos na conscientização de seus problemas ou necessidades e orienta na busca de soluções. Agende seu atendimento pelo e-mail assistencia@unisinos.br ou pelo telefone (51) 3591–1122.

· ULBRA

Situada no Centro Multiprofissional da Ulbra (Av. Farroupilha, 8.001, prédio 22, Bairro São José, Canoas), a Clínica-escola de Psicologia da Ulbra oferece serviços ambulatoriais nas áreas de psicoterapia individual à comunidade por baixo custo, incluindo para alunos. Todas as atividades são supervisionadas por professores do bacharelado. As consultas podem ser agendadas pelo telefone (51) 3477–9269 ou através do e-mail clinica.escola@ulbra.br.

· UFRGS

A Clínica de Atendimento Psicológico oferece escuta em Clínica Psicanalítica e Terapia Individual. O ingresso dos pacientes nesta Clínica acontece por meio das Entrevistas Iniciais, processo realizado em um ou mais encontros e destina-se à escuta inicial daqueles que buscam a Clínica, diferenciando-se da triagem característica dos serviços públicos de saúde.

Os dias de acolhimento somente nas quartas-feiras e ocorrem por ordem de chegada, sem agendamentos. O paciente deve chegar antes do início dos turnos e aguardar o atendimento no respectivo turno. Os documentos requeridos são RG e comprovante de residência. Endereço de atendimento: rua Protásio Alves, 297 — esquina com a rua São Manoel (entrada pela São Manoel) — 4º andar. Os turnos e seus respectivos horários são:

Turno da manhã: chegue antes das 8h.

Turno da tarde: chegue antes das 14h.

Turno da noite: chegue antes das 18h.

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