Tamanho GG: Por que a aparência do outro incomoda tanto?

Karoline Milbradt
Arquivo 11
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5 min readOct 19, 2018

Por Karoline Milbradt, Mariana Santos e Maria de Fátima Nunes

Foto: Jennifer Burk (Unsplash)

Gordofobia é o termo utilizado para definir o preconceito sofrido pelas pessoas gordas. Em geral, a sociedade possui um padrão de beleza que é baseado na magreza. Tal atitude de preconceito pode ser considerada criminosa e enquadrada no artigo 140 da Constituição Federal. De acordo com um estudo feito pela Universidade de Pensilvânia, nos Estados Unidos, o preconceito que as pessoas gordas sofrem no dia a dia pode ser mais perigoso para a saúde do que a própria obesidade.

Com as redes sociais, o preconceito pode ser espalhado de uma forma rápida e anônima e, na maioria das vezes, o problema começa dentro de casa ou na escola. Lugares em que as crianças e adolescentes deveriam estar seguras e não poderiam ser submetidas a tais constrangimentos. Mas infelizmente, essa é a realidade da sociedade.

Como no caso da adolescente Dielly Santos, de 17 anos, que cometeu suicídio em maio deste ano. Dielly era vítima de bullying na escola que estudava no Pará. Constantemente era chamada de “lixo”, “porca imunda” e “gorda” por seus colegas, que achavam graça de tudo isso. Mesmo após a sua morte prematura, Dielly sofreu e continuou sendo alvo de comentários desagradáveis em posts na internet.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope em 2017, comentários preconceituoso estão presentes na rotina de 92% dos brasileiros, mas apenas 10% se declaram preconceituosos. Na região sul do país, 29% das pessoas pesquisadas já fizeram comentários relacionados à estética. Como por exemplo a frase “ela é bonita, mas é gordinha” que foi dita por 22% dos brasileiros entrevistados nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Ao todo, foram ouvidas 2.002 pessoas na faixa etária de 21 e 26 anos.

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Entre os problemas sofridos pelas pessoas gordas diariamente, além do preconceito, está a procura por roupas. Normalmente, as lojas não dispõem de peças grandes no seu mostruário, principalmente as lojas de departamento. Quando são estabelecimentos voltados para esse público, as peças possuem um valor exorbitante em comparação com outros lugares.

A vendedora Clarisse Santos, 28 anos, relata que tem dificuldade de encontrar roupas que sejam de tamanhos adequados, e quando encontra são diferentes de seu estilo. Os preços dessas peças também são muitos altos, em relação aos tamanhos menores. “Sempre escutamos piadinhas, mas já estamos acostumados, pois já somos adultos e aprendemos a lidar com essas coisas”, comenta.

Sua filha Sara, de apenas 8 anos, também já sofre com o preconceito na escola por estar acima do peso. O bullying que ocorre contra a menina já está afetando no seu rendimento escolar. “As vezes ela está mais agressiva, não brinca com os colegas, e isso me preocupa muito, pois a cabeça dela não está pronta pra receber tanta informação, que nem nós os pais, sabemos explicar direito. Isso gera uma revolta na gente. Já pensei até em trocar ela de escola mas tenho medo que isso possa prejudicá-la ainda mais.” conclui Clarisse.

Sara e sua mãe Clarisse Feijó

Em contato com a Coordenação Pedagógica da escola sobre os ataques que a menina vem sofrendo dos colegas, Clarisse foi orientada a procurar ajuda de um nutricionista. Mas nada foi feito com as demais crianças que disparam apelidos ofensivos a Sara. O bullying não é tratado na instituição com palestras ou alguma conversa.

Carla Pereira é modelo plus size

Para a auxiliar administrativo, Gabriela Fernandes, 24 anos, a descriminação sempre aconteceu, principalmente quando criança e adolescente. “Resolvi focar em outras coisas da minha vida, aspectos onde meu peso não iria importar”, expõe. Ela conta que focava para que o estigma fosse de alguém inteligente. “Tinha que ser melhor em tudo, já que não estou no padrão de beleza que a sociedade impõe. Como se eu tivesse que pedir desculpas aos outros por não estar nesse padrão”, comenta.

As comparações entre Gabriela e sua irmã mais nova sempre aconteceram. “Os comentários das pessoas sempre assinalaram como éramos e ainda somos diferentes. Ninguém diz isso diretamente, mas eu sei que se trata da questão estética”, declara. Com o tempo aprendeu a não ligar para os comentários maldosos. A jovem ressalta que a questão das roupas também é complicada, pois nas lojas as vendedoras não chegam para atender.

Christian Bueller é músico

Gabriela nunca fez dieta e nem pretende. “Na empresa que trabalho tenho que fazer check ups médicos e minha saúde está melhor de que muita gente fitness de instagram”, conta. Ela possui uma boa alimentação, não bebe, não fuma e está com a saúde em dia. “Não vou me privar das coisas que eu gosto para agradar gente com as quais eu não me importo”, explica. Só pensa em modificar seus hábitos casa haja uma mudança no seu quadro clínico. “Nunca tive problemas de saúde, mas vejo no olhar do medico que ele está surpreso de ver o resultado dos meus exames, que estão bons mesmo eu sendo gorda”, finaliza.

A psicóloga, Leda Coelho, orienta que os amigos e familiares devem ficar atentos à mudança de comportamento da pessoa que está sofrendo preconceito. Fazer o acolhimento do amigo (a) ou familiar. Validar o sofrimento, sem minimizar o problema já é uma grande ajuda. Mostrar também que é importante procurar a ajuda de um psicólogo profissional, e sem dúvida, estar presente na vida da pessoa, é um dos melhores tratamentos. “Temos que mostrar que ele ou ela não está sozinho nessa”, aconselha Leda.

Entrevista com Daniela Salau e Leda Coelho

Alguns vídeos do Youtube também estão ajudando a desconstruir os “padrões de beleza ideal”. “Eles também falam muito sobre Gordofobia, então podem ser ótimos canais de comunicação e luta contra o preconceito”, afirma Leda. Para aqueles que não têm condições de arcar com os custos de uma consulta com um psicólogo, podem procurar a Secretaria Municipal de Saúde do seu município e pedir encaminhamento para algum psicólogos de maneira gratuita.

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