A carga do homem branco: a pornografia ‘gonzo’e a construção da masculinidade negra

Arquivista Radical
Felinismo Radical
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32 min readDec 11, 2018

Por Gail Dines
Tradução Suzan Vitória Girão Lima

O fundador do gonzo é John “Buttman” Stagliano. Sua esposa Tricia Devereaux foi gentil o suficiente para nos dar a definição: “O Gonzo pode assumir várias formas diferentes. Pode variar do operador de câmera (em filmes adultos, muitas vezes o diretor) entrevistando os atores ou participando da cena com diálogo e / ou sexo. Isso também pode significar que os atores simplesmente estão reconhecendo o fato de que há uma câmera filmando o que eles estão fazendo. Então, embora no gonzo adulto o câmera geralmente é visível ou audível, simplesmente os atores atuarem para a câmera constitui uma cena de gonzo.” (NT)

Muito já foi escrito sobre a natureza divisória das chamadas “Guerras Pornográficas” que assolou o movimento feminista nas décadas de 1980 e 1990.1 O que anteriormente era uma aliança razoavelmente agradável entre feministas radicais e liberais transformou-se em batalha em grande escala que continua hoje, embora de forma um tanto silenciosa. Embora tenha havido alguns novos jogadores adicionados a este debate recentemente, especificamente feministas pós-modernas, ainda existem divisões claras entre as feministas que argumentam que a pornografia é, na sua produção e consumo, uma forma de violência contra as mulheres, e as feministas que veem a pornografia como tendo consequências subversivas e potencialmente liberadoras para a sexualidade das mulheres. Embora eu estabeleça meus argumentos dentro de um paradigma feminista radical amplamente definido, afirmo que ambos os lados tendem a assumir um sistema de gênero que é neutro para a raça, uma suposição que não pode ser sustentada em um país onde “o gênero provou ser um meio poderoso através do qual a diferença racial foi historicamente definida e codificada “.2

Embora feministas radicais como Andrea Dworkin tenham discutido sobre a sexualização de racismo na pornografia3, houve uma análise limitada de como a pornografia mobiliza e assimila os discursos raciais de maneira a falar com os espectadores masculinos brancos, os “espectadores presumidos”4, de acordo com a revista especializada em pornografia Adult Video News (AVN).5

Há uma longa história de tensão racial entre feministas negras e brancas, com feministas negras argumentando que grande parte do feminismo (branco) dominante exclui uma análise de como a raça e a classe mediam as experiências materiais de “ser mulher”.6 Eu argumentaria que essa exclusão também pode ser vista em grande parte da análise feminista da pornografia, que celebra o texto pornográfico como subversivo e polissêmico — ao ponto em que a leitura preferida, que apresenta a subordinação sexual das mulheres, é ridicularizada por ser essencialista.7 A falta de localização do texto pornográfico no contexto das muito reais desigualdades econômicas e sociais, que definem a vida de brancos pobres e pessoas de cor, resulta em uma compreensão da pornografia descontextualizada das relações de poder, truncada, e de valor limitado para aqueles que existem fora dos contornos privilegiados da vida intelectual acadêmica.

Embora as feministas radicais tenham explorado os vínculos entre a pobreza e o recrutamento na indústria da pornografia, elas tendem a assumir que o texto pornográfico funciona para elevar todos os homens de maneiras igualmente discursivas. Embora não exista dúvida de que a maioria da pornografia heterossexual define categoricamente os homens como “fodedores” e as mulheres como “fodidas”, isso tem significados e consequências muito diferentes para homens brancos e homens negros. Em nenhum lugar isso é mais claro do que em uma charge por Eric Decetis, um cartunista freelancer cujo trabalho apareceu na revista Hustler na década de 1980.8 A charge apresenta um homem “preto” enorme, semelhante a um macaco, com o braço em torno de uma mulher branca pequena com um olho preto e uma vagina vermelha inchada pendurada no chão. Em sua camisa está escrita “Fodedor”, na dela “Fodida”. Enquanto todas as mulheres em charges da Hustler são mostradas como “fodidas” de uma forma ou de outra, é a mulher com o homem “preto” que é mostrada sendo brutalizada, maltratada e marcada como vítima. Este desenho, juntamente com séculos de linchamento, prisão forçada e espetáculos de mídia (como a controvérsia sobre Willie Horton e o julgamento de O.J. Simpson) torna evidente que são homens negros, não homens brancos, que carregam os encargos legais e sociais de serem “fodedores” das mulheres brancas. Na verdade, os homens negros estão se tornando rapidamente, no mundo da pornografia eletrônica, os mais procurados “fodedores” das mulheres brancas. Essas imagens não possuem mais potencial liberatório do que Gus, o estuprador em potencial no que poderia ser chamado de um dos primeiros filmes de pornografia inter-raciais distribuído em massa, intitulado Birth of a Nation(1915).9

Artigos recentes na AVN10 chamaram a atenção para o fato de que a pornografia em internet com crescimento mais rápido e mais pirateada é a “pornografia inter-racial” (PI). Enquanto os sites anunciam uma mistura multicultural de homens e mulheres, de longe os artistas dominantes são homens negros e mulheres brancas. Com títulos como Black Poles in White Holes, Huge Black Cock on White Pussy e Monster Black Penises e Tight White HolesNT, o visualizador masculino sabe o que esperar quando ele digita seus números de cartão de crédito. Embora haja uma série de sites que anunciem mulheres asiáticas e latinas, existem muito poucos sites com homens latinos e asiáticos e mulheres brancas. Na verdade, se o homem heterossexual quer olhar para homens asiáticos ou latinos, então ele deve se mudar para um mundo verdadeiramente proibido para a pornografia hétero, a pornografia gay.

Analisar o papel das representações raciais na pornografia é, eu argumento, fundamental para entender como a pornografia funciona como um debate, pois explica os pressupostos assumidos sobre o que faz pornografia pornográfica. Se, como argumentam as feministas radicais, a pornografia é prazerosa porque sexualiza a desigualdade entre mulheres e homens, então quanto mais a mulher é degradada e abusada, maior a tensão sexual e a excitação para o espectador masculino. É difícil conceber uma maneira melhor de degradar mulheres brancas, em uma cultura com uma longa e feia história de racismo, do que fazê-las penetradas novamente e novamente por um corpo que foi construído, codificado e demonizado como um transportador para tudo o que é sexualmente degradado, ou seja, o homem negro.

Pornografia e masculinidade

Para explorar a forma como a raça funciona na pornografia, é importante examinar primeiro o mundo contemporâneo da pornografia na internet, uma vez que a explosão da pornografia eletrônica teve enormes implicações tanto para o conteúdo como para a forma. Atualmente, a pornografia não se parece com o mundo limpo e sanitizado da Playboy. No lugar da “garota meiga”, sorrindo sugestivamente para a câmera com as pernas parcialmente espalhadas está a menina que os consumidores de pornografia desejam. Os filmes tradicionais hoje são povoados com o que os intérpretes masculinos chamam de “baldes de porra”, “putas” e “vadias” que adoram sexo anal, oral e vaginal, que gostam de ser manchadas com sêmen, e veem como a meta de suas vidas quebrar o recorde para o maior número de “gangbangs” dentro de um período de vinte e quatro horas. Enfatizado em todos esses filmes é um ódio evidente contra as mulheres, evidenciado no diálogo e no fascínio pelo sexo punitivo, com referências frequentes ao quanto a mulher pode receber antes de quebrar. Paul Little, conhecido como Max Hardcore, tornou-se famoso (e rico) por seu estilo particular de pornografia que se especializa em sexo extremamente violento e degradante. Em seu site, ele se vangloria, “Max não perde tempo, engasgando meninas com seu pênis e mijando em suas gargantas antes mesmo de saber seus endereços de e-mail”.11

Este tipo de pornografia violenta popularizada por Max Hardcore ajudou a definir os contornos da atual pornografia gonzo.12 De longe o maior produtor de dinheiro da indústria, esse tipo de pornografia não tenta contar uma história, sendo apenas cena após cena de penetração violenta, em que o corpo da mulher é literalmente empurrado até o limite. Uma das estratégias de marketing mais recentes em gonzo é chamada APB (ânus para boca), onde o artista masculino penetra analmente em uma mulher e, em seguida, coloca seu pênis em sua boca, muitas vezes fazendo piada sobre ela ter que comer merda (NT). Nesta pornografia, o código de degradação é o mais acentuado. Não há aumento aparente no prazer sexual masculino ao mover-se diretamente do ânus para a boca, fora a humilhação que a mulher deve suportar. Argumentar que o prazer da pornografia heterossexual para os homens não está de alguma forma envolvido na degradação das mulheres é ignorar as múltiplas denominações verbais e baseadas em imagens que formam os códigos e convenções da pornografia convencional.13 Além disso, não visualizar a pornografia como um texto sobre a elevação dos homens e a degradação das mulheres também omite o papel que a pornografia desempenha na produção da masculinidade tanto como uma categoria de existência material, quanto uma identidade que é contestada, negociada e que necessita de reprodução constante.14

Agora é um dado em grande parte do feminismo acadêmico que a masculinidade e a feminilidade são construções sociais que trabalham juntas para produzir um sistema de gênero que mistura desigualdade, hierarquia e violência.15 Até recentemente, grande parte da análise da masculinidade procurou explicar como a masculinidade hegemônica é definida em oposição à feminilidade, onde a masculinidade hegemônica é codificada de forma não problemática como branca. No entanto, como muitos estudiosos negros argumentaram,16 a masculinidade hegemônica branca está sempre em negociação com a masculinidade negra, já que as duas existem no que James Snead chama de “um esquema maior de avaliação semiótica”17, na medida em que a elevação e a mitificação da masculinidade branca dependem na degradação dos homens negros como selvagens sexuais, Tios Tom (NT), e imbecis como Stepin Fetchit (NT). Patricia Hill Collins aprofunda argumentando que a masculinidade negra é tão degradada pela cultura branca que se torna uma categoria fluida em que qualquer homem de cor pode se tornar marcado como preto, caso ele de alguma forma não consiga se conformar às estritas práticas disciplinares da masculinidade branca.18

No entanto, o que constitui a masculinidade branca hegemônica é em si mesmo um alvo em movimento que depende da dinâmica socioeconômica de um determinado momento e lugar. Nos Estados Unidos e, na verdade, na maior parte do mundo ocidental, existe um consenso geral de que um homem real (leia-se: branco) trabalha duro, coloca comida na mesa e tem um SUV (NT) na garagem, mostra algum interesse no bem-estar de seus filhos, e exibe um conjunto de práticas sexuais um pouco restritas no casamento heterossexual sancionado pelo Estado. Em praticamente todos os níveis, os homens negros são definidos pela cultura branca como não cumprindo os padrões de masculinidade hegemônica branca. Eles são retratados como ineptos, precisam de assistência do governo para obter comida para suas famílias, dirigem carros tunados(NT) (quando podem pagar carros), e se envolvem com o que Cornel West se refere como “sexo sujo, nojento e fedorento”.19 E esse é o problema dos homens brancos. Apesar de não trocarem seus privilégios materiais com homens negros, muitos homens brancos, de fato, gostariam do sexo “preto”, como se vê na imaginação racista branca, como “mais intrigante e interessante”.20 É argumentado neste artigo que esta construção racista branca da sexualidade masculina negra é o que impulsiona o PI e serve para aumentar a tensão sexual na pornografia, ao mesmo tempo em que torna este país um lugar cada vez mais hostil e perigoso para as pessoas (especialmente os negros) que não possuem os marcadores de brancura.

Corpos negros em salas brancas

A análise acadêmica da representação de mulheres e homens negros tem uma longa e rica história neste país. Os estudiosos exploraram imagens de negros em filmes, televisão, pornografia, publicidade e música como forma de delinear os contornos da imaginação racista branca. Enquanto cada um desses gêneros emprega mecanismos específicos de representação, a mídia de propriedade branca tende a dividir os negros nas imagens “boas” de Tio Tom e Mammy (NT), e nas imagens “ruins” de Buck(NT) e Jezebel(NT), cada uma com links para a política da escravidão. O papel do “bom” negro era apaziguar os medos brancos de uma revolta e tornar invisível a verdadeira mercantilização dos seres humanos em um país que era ostensivamente baseado na liberdade.21 O “mau” preto, por outro lado, serviu para legitimar a violência, o linchamento e a violação de negros, posicionando os negros como violentos, precisando de policiamento e como uma ameaça para a estabilidade branca, se não fossem controlados.22

Um tema que sustenta o retrato dicotômico dos negros é a noção do corpo sexualizado controlado versus o descontrolado. Mammy e Tio Tom são ambos dessexualizados: ele por sua idade, maneira gentil e fidelidade à brancura; ela por seu corpo enorme, pele negra e sua fidelidade à brancura. Os negros “maus”, em contraste nítido, exibem seu desvio como enraizados em impulsos sexuais incontroláveis voltados aos corpos de homens e mulheres brancos. Dentro do discurso ideológico da escravidão, as escravas negras eram vistas como tendo uma sexualidade animal e ardente que tornavam os brancos proprietários de escravos indefesos e, portanto, não responsáveis pela violação de mulheres negras. Esta imagem estava em oposição à construção da mulher branca que, como reprodutora dos herdeiros para a propriedade, foi definida através do discurso do culto à “verdadeira feminilidade”, que marcava a feminilidade branca como casta, mansa e obediente ao poder masculino.23 O que ameaçava perturbar o fluxo de propriedade de uma geração (branca) para a próxima era, é claro, o homem negro com seu desejo selvagem fora de controle para mulheres brancas. Eles tinham que ser parados e qualquer tipo de violência, do linchamento à castração, tornou-se legitimada como prática normalizada para o controle social dos homens negros. A realidade não desempenhou nenhum papel neste processo, já que o estupro e a matança de negros foram recodificados em um discurso sobre a pureza racial e a defesa da feminilidade branca.

Embora hoje tenhamos mais imagens para negros do que Gus e Tia JemimaNT, ainda existe uma codificação racial sugerindo que os negros têm corpos, mas não mentes.24 As imagens de negros que circulam na mídia branca têm rearticulado a ideologia dos escravos para se encaixar na obsessão contemporânea de ter o corpo perfeito. Os homens negros, sejam atletas ou artistas do hip-hop, são admirados por seus corpos descolados, musculosos e esculpidos quando estão localizados dentro de um espaço seguro, contidos numa imagem mediada em uma tela. No entanto, como afirma Collins, se esses mesmos homens forem vistos vagando por subúrbios brancos, sua “maneirice” logo cede lugar ao medo em massa dos brancos e exige o aumento da presença policial.25 As mulheres negras, a menos que se pareçam com Halle Berry ou atuem como prostitutas em programas como Law & Order, estão em grande parte contidas em sitcoms que visam jovens telespectadores negros. A nova safra de jovens atrizes que adornam as páginas da People Magazine, US Weekly e Cosmopolitan é cegante em sua brancura e loirice (por exemplo, Jessica Simpson, Hilary Duff, Britney Spears, Scarlett Johansson, Paris Hilton e Charlize Theron).

O único gênero de mídia que lida de forma clara e sem remorsos com os corpos é a pornografia. A promessa deste gênero para o público é que, de fato, esses corpos estarão fora de controle. Eles irão pegar fogo, torcer e contorcer, e terão orgasmos antes do final do filme, e em pornografia não definida como interracial, esses corpos serão brancos. Numa sociedade que tem historicamente controlado corpos brancos, é bastante notável que tal gênero tenha existido até agora sem nenhum corpo negro. No entanto, como já discuti antes,26 a indústria pornográfica convencional, até recentemente, ignorava os corpos negros em grande parte, a menos que fosse para demonizá-los como cafetões, prostitutas, estupradores ou gorilas.

Hoje, a indústria pornográfica goza de um nível de integração que é sem precedentes, com muitos dos principais distribuidores tendo vínculos econômicos com as maiores corporações mundiais de mídia.27 Este aumento na produção e no consumo de pornografia pegou até mesmo os pornógrafos desprevenidos, com muitos artigos na AVN discutindo como a indústria é como um trem desembestado, com ninguém sabendo quanto tempo os lucros continuarão aumentando. O que é claro, no entanto, é que eles precisam continuar produzindo filmes que oferecem tipos variados de “excitação”, uma vez que existem limites para quantas maneiras você pode mostrar um homem branco penetrando uma mulher branca. O subgênero APB mencionado acima é uma nova variação de um tema, como é o uso de “brinquedos sexuais” estranhos, como os espéculos, e a chamada pornografia da realidade, que “captura” casais desconhecidos que fazem sexo que se parece com o sexo “regular” na pornografia.

De acordo com a AVN, a PI emergiu como a categoria de maior crescimento com quase um em cada quatro novos filmes se encaixando nesse subgênero.28 Um artigo recente cita um produtor que diz que “[agora] o gonzo inter-racial é provavelmente o gênero mais forte … A demanda por inter-racial supera em muito todos os outros formatos de gonzo”.29 Apesar de existir produtores e diretores pornógrafos tanto brancos quanto negros, o público para PI é esmagadoramente branco, de acordo com os estudos em curso realizados pelo Dr. Robert Jensen.30

A questão óbvia aqui é: por que os homens brancos querem olhar e se masturbar olhando pênis negros penetrando as vaginas, bocas e ânus das mulheres brancas, dada a codificação histórica do pênis preto como violador da feminilidade branca e emasculadora de masculinidade branca?

Pornografia inter-racial: Procurando o homem primitivo

O fato mais surpreendente que salta para quem navega nesses sites é a ausência de homens de cor que não são negros. Um termo mais preciso para inter-racial seria homens negros e mulheres brancas, mas em uma sociedade onde a linha de cores é definida pela categorização binária preto/branco, tal precisão seria redundante. Este sistema binário envolveu muitos teóricos que procuram interrogar como a raça foi construída na história americana contra o pano de fundo da escravidão. Uma análise profunda é oferecida por James Snead, que escreve, seguindo W.E.B. Du Bois, que o “Negro” é “a metáfora … a figura principal em que essas relações de poder de mestre/escravo, civilizado/primitivo, iluminado/atrasado, bem/mal, foram incorporados no subconsciente americano”.31 Isso não significa que outras raças não existam na América, mas que os negros são o outro “idealizado”, e diferentes grupos raciais flutuam entre os dois polos da linha de cores, dependendo do seu status econômico, social e cultural.32 E como a pornografia não é um gênero conhecido por sua sutileza, quando trata da raça, trata das categorias raciais claras e descomplicadas que definem a sociedade americana, ideologicamente, se não materialmente.

Uma vez que a raça dos artistas é a chave para o marketing de PI, não é surpreendente que o macho negro tenda a ser de pele muito escura e a mulher branca muito loira. Embora a cor da pele possa variar entre os negros, o cabelo loiro é um claro significante da feminilidade branca. Embora muito tenha sido escrito sobre a política racial do cabelo das mulheres negras,33 um dos incidentes mais importantes nos filmes americanos é a transformação que foi feita em Fay Wray, que interpretou Ann no filme King Kong original.34 Uma morena natural, os produtores decidiram que, uma vez que estava estrelando o oposto do “homem mais alto e mais sombrio de Hollywood”35, ela deveria usar uma peruca loira36, enfatizando sua brancura contra sua negritude.

Uma das séries mais populares de filmes PI é chamada Blacks on Blondes(NT), que apresenta mulheres loiras com múltiplos homens negros. Como na maioria dos PI, a artista loira é “aplaudida” por poder pegar um pênis preto na boca branca, na vagina e no ânus. Em um filme em particular com “Liv Wylder”, vemos um exemplo de um tema que atravessa o PI, nomeadamente a emasculação do homem branco pelo grande pênis preto.

O texto no site lê:

Traga a máscara do corno novamente! É hora de outro casal branco viver sua fantasia mais perversa, e agradeça a Blacks On Blondes por fazer isso acontecer! Liv e Marido casaram há alguns anos, e ela usa seu anel orgulhosamente. Mas ultimamente a chama no quarto se apagou, se você sabe o que quero dizer. Alguns e-mails mais tarde, e nós temos o Marido em uma gaiola enquanto Boz e MandingoNTtrabalham em Liv. E quando eu digo que eles trabalham com ela, nós queremos dizer isso(NT). Ela aguenta tanto pau preto que até nós nos surpreendemos. A melhor parte disso tudo foi o fim: quando Liv tem cerca de três litros de porra em seu rosto e roupas, e agarra uma tigela de plástico — para que o Marido goze dentro. Ele goza, e seu ejaculado é fraco, e Liv deixa ele saber disso.37

O corpo do homem branco está literalmente e metaforicamente contida neste filme tanto por sua brancura quanto pela gaiola física em que ele está trancado durante as cenas de sexo. Referências ao seu mau desempenho na cama (“a chama se apagou”) e seu sêmen ineficaz (“seu ejaculado é fraco”) contrasta forte com o tamanho dos pênis dos homens negros, a habilidade de sua performance sexual (” eles trabalham com ela, queremos dizer isso “) e a quantidade de sêmen que eles produzem (” um galão de cum “). E para ilustrar onde a fidelidade da mulher branca reside, a última linha nos permite saber que Liv está muito feliz de ridicularizar o marido diante dos homens negros. Na verdade, em muitos desses filmes, é feita uma referência regular ao desgosto da mulher branca para os pênis brancos depois de ter provado um pênis de “homem real”. É assim evidente por que uma série popular de filmes IP é chamada Once You Go Black … You Never Go Back NT.38

Na pornografia heterossexual não inter-racial, é o corpo da mulher que é examinado, falado, focado e interrogado visualmente. Em PI é o pênis preto que se torna a estrela do show. Na verdade, em um site onde os usuários publicam seus comentários de filmes, há um debate sobre a aparente autenticidade do pênis preto no filme White Meat on Black Street NT.39 Alguns dos espectadores estão claramente perturbados pelo que veem como a falsa qualidade do pênis, enquanto outros expressam o desejo de ter um igual. Embora a raça dos usuários não seja óbvia com seus nomes (a maioria usa “anônimo”), o tom dos posts sugere leitores masculinos brancos. Um espectador particularmente observador, “ramjet” escreveu em 9 de fevereiro de 2006:

Se você quer a melhor prova disponível do pênis falso que está sendo usado, confira o 5º vídeo MPEG em relação a Ruby na marca de 1:30. O pau é uma cor diferente do seu “dono” e, o mais importante, VOCÊ PODE VER ONDE TERMINA E SEU PAU DE VERDADE SE ENCAIXA. O falso se afastou completamente de seu corpo e suas bolas reais caíram por baixo. Caso encerrado.

Este espectador “heterossexual” parece mais atraído pelo pênis preto do que pelo corpo da mulher branca: seu senso de traição por ter pago para ver um verdadeiro pênis preto e, em vez disso, conseguir o que ele vê como falso, é palpável. O sentimento de traição de Ramjet faz sentido apenas no contexto dos bens oferecidos ao consumidor de PI. Em todos os sites, textos publicitários e filmes, adjetivos como “enormes”, “gigantes”, “monstruosos”, “gigantescos” e “inacreditáveis” aparecem com monotonia insensível. A câmera permanece no pênis preto; o corpo feminino é interessante apenas em termos de quanto pênis pode tolerar. Isso contrasta com um tema em curso sobre a pornografia em branco-em-branco onde são feitas perguntas sobre a capacidade do pênis do homem branco para satisfazer a mulher insaciável. Tal questão, naturalmente, não faz sentido no PI e fala com a suposição racista assumida quanto à proeza/selvageria sexual dos homens negros, que é o tema subjacente desses filmes.

Além do texto que coloca em primeiro plano o pênis preto, há temas secundários que sugerem que não é apenas qualquer homem negro que pode realizar. Os homens negros são frequentemente descritos como bandidos, cafetões, vigaristas, rappers, os “bonzões” e manos que vivem na favela e dirigem carros tunados. Os marcadores de classe aqui tornam aparente que homens negros da classe trabalhadora que são selvagens sexuais, e o mais considerado é o “cafetão negro”, que mantém suas garotas sob controle e ensinou-lhes tudo o que elas precisam saber sobre ser uma “puta”. Os filmes temáticos Pimp abundam em PI, onde o cafetão negro é definido como o “rei da favela” que usa a habilidade “inata” particular que os homens negros têm de combinar sexo e violência para transformar “vadias” pretas em “putas”. Sites como o Pimp my Black Teen41 e She Got Pimped42 focam sobre a natureza supostamente pouco atraente das mulheres negras e a habilidade de seu cafetão em transformá-las em prostitutas de aparência aceitável. O site Pimp my Black Teen ostenta “Encontramos adolescentes negras de aparência normal do gueto e transformamos ela em uma “piriguete” total” Este site, como muitos outros, tem fotos do chamado “antes e depois das transformações” em que uma mulher negra adolescente é mostrada em calças de moletom e jeans para o “antes”, e roupas íntimas sexy e reveladoras para o “depois”.

Um exemplo do texto embaixo das fotos é “Denna era muito gostosa para ser marginal, então ela foi o nosso novo projeto. Ela não era tão ruim para começar, mas quando terminamos com ela, ela estava super bem. Ela ficou toda animada quando o nosso homem fez oral nela e deixou a xana dela toda molhada…”43 Acima do texto estão fotos de “Denna” fazendo sexo oral em um homem negro.

Estes sites que mostram a “conversão” de “ratos da favela” em “putas” apresentáveis se baseiam em muitas crenças racistas de longa data sobre mulheres negras. Embora codificado como menos atraente do que uma mulher branca, uma mulher negra tem historicamente sido representada na cultura popular como tendo uma sexualidade aberta e ilícita que a torna uma prostituta “ideal “.45 Além disso, sua maneira é igualmente pouco atraente; enquanto a mulher branca supostamente conhece seu lugar no patriarcado, a mulher negra foi retratada como barulhenta, arrogante e masculina em seu comportamento e, portanto, uma emasculadora de homens negros. Na verdade, a crença racista é que, se o homem negro tiver qualquer esperança de manter sua masculinidade diante dessa investida, ele deve colocar sua mulher em seu lugar legítimo, o que é, de acordo com Pimp My Black Teen, embaixo de homens negros 46.

Se o homem negro se elevar da “favela” e entrar na classe média, no entanto, ele deixaria de ser um homem negro “autêntico” e, assim, se tornar invisível na PI. O homem negro da classe média está ausente desses filmes porque sua mobilidade de classe e sua fidelidade a uma forma mais “educada” da masculinidade tornam-no branco. Na análise das imagens de homens negros da classe trabalhadora e classe média na mídia, Patrícia Hill Collins faz um argumento similar quando sugere que “menos ênfase é colocada nos corpos de homens negros dentro das representações de homens negros de classe média do que caracterizam representações de homens negros da classe trabalhadora “.47 Parece que qualquer movimento se afastando da “favela” e se aproximando da brancura, por mais tênue que seja, contamina a masculinidade negra com brancura e enfraquece a primitiva masculinidade definida como “inerente” em todos os negros. Curiosamente, o cafetão negro, não importando o quão rico ou respeitável se torne, é visto pela indústria pornográfica como sempre se agarrando à sua masculinidade negra. Ice-T, o cafetão-que-virou-rapper-que-virou-ator, certamente percorreu um longo caminho de seus dias como um cafetão, mas mesmo com toda a sua “respeitabilidade” como um detetive (que combate crimes sexuais) no enorme sucesso da série Law & Order SVU, ainda carrega peso como autêntico homem negro quando narra o recente filme hard-core chamado Ice-T’s Pimpin’ 101, que AVN comemora como uma adição emocionante para o gênero Pimp de filmes pornôs.48

O cafetão, bandido/vigarista da “favela” com o corpo fora de controle não é apenas um favorito dos homens brancos héteros, mas também parece ser um objeto popular de desejo para homens brancos gays. Títulos como Blacks on White Boys, Ebony Dicks in White Ass Holes e Black Bros and White Twinks (NT) deixam claro quem faz o que a quem, na pornografia gay interracial. A “favela” mais uma vez figura em grande parte nos sites onde os usuários são encorajados a se tornarem membros do site, clicando no mouse, o que os deixará “Join our MemberHood” (NT).49 Parece que os homossexuais brancos podem comprar seu caminho para a favela por um curto, e contido, tempo.

Em sua análise das pistas visuais e verbais que informam os machos negros fetichizados e comoditizados (NT) no pornô homossexual PI, Dwight A. McBride sugere que tais imagens “presumem um espectador que seja alheio à experiência do homem representado nos filmes”.50 Além disso, as ideologias raciais que tornam essas imagens inteligíveis e prazerosas são as próprias ideologias que ressaltam o racismo branco dominante. Como McBride argumenta:

Aqui, sob a forma de imagens típicas de homens negros no contexto mediado da pornografia gay negra, o espectador pode desfrutar de fantasias sobre sua relação sexual com a negritude sem ter que considerar as dimensões possivelmente problemáticas do tipo de pensamentos sobre raça que ele deve necessariamente trazer para essas imagens para que elas possam exercer sua magia, por assim dizer.

Essas “dimensões incômodas” são o que precisa ser explicado, não só para PI gay, mas também PI hétero, e mesmo para muitas das imagens que circularam e continuam a circular na mídia possuída e consumida por brancos. O PI não existe em um mundo próprio, mas sim extrai de e contribui para as ideologias hegemônicas de raça na América que justificaram, legitimaram e toleraram sistemas de opressão racial profundamente enraizados. No entanto, a forma como o PI articula e rearticula essas ideologias está ligada à forma particular de prazer que oferece aos seus leitores, nomeadamente o prazer sexual masculinizado (branco).

Pornografia inter-racial como novo “Minstrel Show”

O prazer que o público branco recebe de consumir imagens de negros é complexo e enraizado na política de brancura como uma identidade que oferece status, privilégios e um sentimento de pertencer a um grupo racial mítico (glorificado). 52

Essas “dimensões incômodas” são o que precisa ser explicado, não só para PI gay, mas também PI direto, e mesmo para muitas das imagens que circularam e continuam a circular em mídia de consumo branco e consumida de branco. O PI não existe em um mundo próprio, mas sim desenha e contribui para as ideologias hegemônicas da raça na América que justificaram, legitimaram e toleraram sistemas de opressão racial profundamente enraizados. No entanto, a forma como o PI articula e rearticula essas ideologias está ligada à forma particular de prazer que oferece aos seus leitores, a saber, o prazer sexual masculinizado (branco). O argumento acima mencionado, articulado por James Snead, de que a degradação dos negros está ligada à elevação dos brancos, não é de difícil entendimento dado os estereótipos viciosos dos negros como selvagens, coons (NT), retardados, Mammies e Jezebels. A brancura como identidade é um conceito sem sentido fora das noções construídas de negritude que os brancos produziram e circulam na cultura popular. Assim, neste mundo totalmente mítico, ser branco é para ser o oposto do preto: trabalhador, respeitador da lei, intelectual, racional e sexualmente contido e controlado. Estes são todos os traços que no mundo cotidiano tem um valor muito real, fornecendo status para aqueles que operam com clara lealdade à cultura da brancura. No entanto, o mundo da pornografia é na verdade um universo paralelo onde, pelo menos no tempo que leva para se excitar e ejacular, esse valor está em contradição direta com a brancura. Dentro neste mundo, os traços da brancura são de fato um fardo para o homem branco, uma vez que a restrição de qualquer tipo ameaça minar o prazer sexual completo que pode ser alcançado com uma série de “putas”, “vagabundas” e “baldes de porra” dispostas a fazer tudo o você que quiser. Neste mundo, o homem negro mítico que é descontrolado, desenfreado, animalista e selvagem sempre triunfará sobre o tenso, contido rapaz branco de pênis pequeno. Por que, então, homens brancos, que no mundo real, não aceitam se verem emasculados por homens negros, compram PI?

Para procurar respostas possíveis a este enigma, sugiro que voltemos no tempo e examinemos outro gênero que coloca questões semelhantes para os historiadores da raça, ou seja, os minstrel shows com blackface que varreram a América nas décadas de 1830 e 1840. Muito foi escrito sobre a política desses shows, sobre os modos como codificaram a negritude, e sobre os prazeres que eles proporcionaram ao público branco, principalmente masculino, através de exibições de atores brancos com blackface performando a “negritude” cantando e dançando.53 Gerald R. Butters sugere que, uma vez que a máscara da negritude fosse dada, os homens brancos podiam “cantar, dançar, falar, se mover e agir de maneiras que eram consideradas inapropriadas para homens brancos”.54 Embora haja concordância geral de que esses espetáculos eram consideravelmente racistas, os historiadores sugerem que múltiplos prazeres contraditórios eram oferecidos ao público, já que eles se identificavam tanto com e contra os artistas brancos com blackface.

Parte do processo de identificação foi facilitada pelo fato de que esses shows não utilizavam músicas ou melodias irreconhecíveis; em vez disso, o estilo e estrutura musical seguiam fortemente o de padrões europeus. O que era diferente, entretanto, de acordo com Deane Root, era o estilo da performance das músicas, que era “muito mais grosseiro. Era … estrangeiro. Fora da cultura…. Eles estavam tentando exagerar e fazer [algo] (sic) exótico.”55 No PI, as “músicas ou melodias”56 são realmente semelhantes ao pornô branco-em-branco, uma vez que os atos sexuais entre homens negros e mulheres brancas são as reconhecíveis penetrações anais, vaginais e orais. No entanto, o estilo é, em certo sentido, exagerado e mais grosseiro em seu foco em “grandes paus pretos” penetrando “pequenos orifícios brancos” que são esticados, como o desenho animado de Eric Decetis mencionado acima ilustra tão claramente, a proporções estranhas.57 O objetivo aqui, no entanto, não é tanto tornar a performance exótica como é torná-la erótica, uma vez que o prazer sexual da PI é intensificado pelo aumento do abuso sexual da mulher e a identificação (parcial) do espectador com o macho negro hipersexual.

O fato de os homens negros realizarem pornografia negra, em vez de homens brancos em blackface, fala sobre as formas em que a propriedade branca da mídia e da pornografia definiu e continua a definir os contornos de negros fazendo papéis de negros como brancos os veem. Quando os homens negros foram eventualmente autorizados no palco, eles tiveram que esconder os rostos e se comportar como os brancos faziam com blackface. 58 A razão para isso, argumenta Mel Watkins, é que os brancos assumiram que os minstrel shows representavam algo real e essencial sobre os negros, porque os shows “eram anunciados como a coisa real. Na verdade, um grupo foi chamado ‘The Real Nigs’’…. Eles foram anunciados como ‘Venha ao teatro e tenha uma visão real de como era a vida nas plantações’… Foi anunciado como um olho mágico para ver como os negros realmente eram”. Em vez de um olho mágico, o pornô PI é um peepshow (NT) para brancos no que eles veem como a vida negra autêntica, não na plantação, mas na “favela” onde todas as convenções de sociedade civilizada branca deixam de existir. A “favela” na imaginação racista branca é um lugar de cafetões, putas e corpos negros geralmente descontrolados, e o espectador branco é convidado, por uma taxa, à favela neste mundo de libertinagens. Na “favela”, o homem branco pode dispensar a sua brancura identificando-se com o homem negro e assim pode tornar-se tão sexualmente habilidoso e sexualmente fora de controle quanto ele. Aqui, ele não precisa se preocupar em ser suficientemente grande para satisfazer a mulher (ou homem) branca, nem tem que se preocupar com os medos sobre mau desempenho ou “ejaculados fracos” ou gaiolas como o pobre marido em Blacks on Blondes. Na verdade, a “favela” representa a libertação da gaiola, e a recompensa é uma mulher branca (ou homem) saciada que foi completa e totalmente feminizada por ter sido bem e verdadeiramente transformada em “fodida”.

Mas antes de celebrar o discurso do PI como subversivo e libertador, precisamos colocar o texto no contexto do mundo material da América racista. O corpo que se celebra como incontrolável em PI é o mesmo corpo que precisa ser controlado e disciplinado no mundo real. Assim como os adolescentes suburbanos brancos adoram ouvir hip-hop e os machos adultos brancos observam ansiosamente a proeza atlética dos homens negros, o consumidor branco de pornografia goza de sua identificação com (e de) machos negros através de um espelho seguro, em sua própria casa, e de forma mediada. O homem negro real, que respira e vive, no entanto, deve ser mantido o mais longe possível dessas salas de estar, e todas as grandes instituições da sociedade organizam suas forças na defesa da sociedade branca. As ideologias que os homens brancos levam ao texto pornográfico para seus prazeres sexuais são as próprias ideologias que eles usam para legitimar o controle dos homens negros: embora possa aumentar a excitação para o pornô branco, torna a vida intolerável para o corpo real que é (mau) representado em todas as formas de meios de comunicação controlada por brancos.

Ignorar as codificações racistas de homens negros em pornografia a favor de uma leitura simplista e descontextualizada do texto pornográfico como subversivo é operar em um mundo de privilégio branco onde ser um “fodedor” é um símbolo de status sem valor no mundo real. Este fardo pertence ao homem negro e, é claro, a toda a comunidade negra, e enquanto o discurso acadêmico continuar a assumir uma mulher ou homem sem-raça, nosso trabalho terá pouco significado fora dos poucos que têm acesso a instituições acadêmicas de elite. Enquanto isso, a indústria da pornografia pode continuar, livre de críticas acadêmicas ou culturais, a produzir imagens que fazem Birth of a Nation (NT) parecer como os bons e velhos tempos.

NOTAS DA TRADUTORA

NT: Uma forma de entretenimento americano realizada por brancos usando blackface antes da Guerra Civil, e por negros após a Guerra Civil. Geralmente envolvendo dança e música, os shows retratavam estereótipos negativos de pessoas negras, mostrando-os como ignorantes, preguiçosos, odiosos, etc. Durante várias décadas, forneceu a lente de
como a América branca viu negros.
NT: Mastros Negros em Buracos Brancos, Pau Preto Gigante em Xoxota Branca e Pênis Preto Monstro e Buracos Brancos Apertados.
NT: Do inglês “eat shit”, expressão pejorativa usada como insulto, indicando fazer algo nojento ou fortemente indesejável. No contexto, os atores pornôs fazem trocadilho com o significado “comer” do verbo “eat”, já que as atrizes literalmente ingerem as fezes.
NT: Uncle Tom (em português, Tio Tom) é um termo pejorativo usado para descrever um afro-americano que, aparentemente, age de uma forma subserviente às figuras de autoridade do americano branco, ou procurando a integração com este por meio de uma desnecessária acomodação.
NT: Lincoln Theodore Monroe Andrew Perry (30 de maio de 1902–19 de novembro de 1985), mais conhecido pelo nome artístico de Stepin Fetchit, foi um comediante e ator de cinema americano, que teve sua maior fama na década de 1930. Em filmes e no palco, a persona de Stepin Fetchit foi anunciada como “o homem mais preguiçoso do mundo”.
NT: Veículo utilitário esportivo (conhecido como SUV, do inglês: “Sport Utility Vehicle”) é um veículo semelhante a uma camioneta, normalmente equipado com tração nas quatro rodas para andar sobre todos os tipos de terreno (on- e off-road). Imagens: https://goo.gl/E1GW29
NT: Pimp rides, carros modificados e customizados comumente dirigidos por cafetões.
NT: Uma “mammy”, também escrito “mammie”, é um arquétipo do sul dos Estados Unidos para mulheres negras que trabalhavam como babá ou governanta, muitas vezes em uma família branca, cuidando dos filhos da família. A palavra “mammy” se originou como uma alteração de “mamma”, que significa mãe.
NT: Na pós-reconstrução dos Estados Unidos, “Black Buck” era um insulto racial usado para descrever um certo tipo de homens afro-americanos. Em particular, a caricatura foi usada para descrever homens negros que se recusavam a obedecer a lei da autoridade branca e eram vistos como irremediavelmente violentos, grosseiros e devassos.
NT: Mulheres negras retratadas como lascivas por natureza é um estereótipo duradouro chamado “Jezebel”. As palavras descritivas associadas a este estereótipo são sedutora, mundana, tentadora e obscena. Historicamente, as mulheres brancas, como uma categoria, foram retratadas como modelos de comportamento — até mesmo de pureza sexual, mas as mulheres negras eram frequentemente retratadas como promíscuas.
NT: A Tia Jemima é uma marca de mistura para alimentos para café da manhã pertencentes à Quaker Oats Company de Chicago. Originalmente de um minstrel show como um dos seus personagens negros estereotipados, a personagem foi uma adição da época da Reconstrução ao elenco. https://goo.gl/ZMNcSp
NT: Para mais informações sobre esses e outros estereótipos racistas dos EUA, a página da Wikipédia (em inglês) é um ótimo ponto de partida: https://en.wikipedia.org/wiki/Stereotypes_of_African_Americans
NT: Pretos em Brancas
NT: Este conceito estereotipado foi inventado por proprietários de escravos brancos que promoveram a noção de que os escravos africanos eram de natureza animal. Afirmavam, por exemplo, que em “negros todas as paixões, emoções e ambições, são quase inteiramente subordinadas ao instinto sexual” e “essa construção do macho preto hiperssexualizado converteu-se perfeitamente em noções de bestialidade negra e primitivismo”.O termo mandingo é de origem do século 20. Histórias em torno do físico masculino preto também adotaria a noção de homens negros com pênis macrofálicos sobredimensionados.
NT: “work her over” possui dois significados. 1.) Bater em alguém continuamente até a submissão, parando antes de matar. 2.) Sexualmente, é “trabalhar” numa pessoa até o ponto de exaustão, para trazer satisfação contínua para todos os lugares do corpo. No contexto, pode-se discutir se ambos os significados podem ser aplicados.
NT: “Quando se experimenta um negro, não se quer outra coisa”.
NT: “Carne Branca na Rua Negra”.
NT: Pretos em Garotos Brancos, Paus de Ébano em Cuzinhos Brancos e Manos Pretos e Twinks Brancos.
NT: “Hood”: parte de uma cidade, especialmente uma área de favela, ocupada por um ou mais grupos minoritários.
NT: Comoditização (ou comodificação) é a transformação de bens e serviços (ou coisas que podem não ser normalmente percebidas como bens e serviços) em um commodity. Commodity originalmente significava qualquer mercadoria, mas hoje é utilizado nas transações comerciais de produtos de origem primária na bolsa de valores. Estes produtos “in natura”, cultivados ou de extração mineral, podem ser estocados por determinado período sem perda significativa de qualidade, dependendo de sua conservação.
NT: Um peep show ou peepshow é uma exibição de fotografias, objetos ou pessoas visualizadas através de um pequeno furo ou lupa. Remete a “peep hole”, que é o olho mágico citado anteriormente.

NOTAS

1. Para um exemplo dos debates no feminismo sobre pornografia, veja AVEDON CAROL, NUDES, PRUDES E ATTITUDES: PORNOGRAPHY E CENSORSHIP (1994), e Ann Russo, Feminists Confront Pornography’s Subordinating Practices, em PORNOGRAPHY: THE PRODUCTION AND CONSUMPTION OF INEQUALITY 9 (Gail Dines et al. eds., 1998).
2. Robyn Wiegman, Feminism, ‘The Boyz, ‘and Other Matters Regarding the Male, em SCREENING THE MALE: EXPLORING MASCULINITIES IN HOLLYWOOD CINEMA 173 (Steven Cohan & Ina Ray Hark eds., 1993).
3. ANDREA DWORKIN, PORNOGRAFIA: HOMENS QUE POSSUEM MULHERES (2 de dezembro de 1989).
4. O conceito de “espectador assumido” foi desenvolvido em Estudos de Mídia para explorar como o texto constrói o leitor dentro de uma posição de sujeito específica. Quando AVN fala sobre o espectador da pornografia interracial, ele é assumido como um homem branco porque nem a brancura nem a masculinidade são marcadas como uma categoria de existência; em vez disso, ambos são normalizados. Quando os escritores de AVN falam sobre mulheres e / ou negros como consumidores, então mencionam especificamente gênero e / ou raça.
5. Adult Video News é a revista especializada líder reconhecida pela indústria, e é amplamente citada na mídia convencional. O testemunho de seu status é o show de premiação AVN que acontece a cada janeiro em Las Vegas. Baseado no Oscar, os principais artistas e produtores de pornografia competem pelos prêmios que são exibidos nos sites de filmes e artistas avançados.
6. Para uma excelente análise das tensões de longa data entre feministas pretas e brancas, veja PATRICIA HILL COLLINS, BLACK FEMINIST THOUGHT (2d ed. 2000).
7. Para um exemplo desse trabalho, veja PORN STUDIES (Linda Williams ed., 2004).
8. Eric Decetis, Cartoon (no arquivo com o autor)
9. Veja THE BIRTH OF ANATION (David W. Griffith Corp. 1915).
10. Veja, por exemplo, DRM Versus P2P: Point, Counterpoint (Tripp Daniels ed.), ADULT VIDEO NEWS MAG., May 2003, http://www.avnonline.com/index.php?PrimaryNavigation=Editorial
&Action =Print_Article&Content_lD =105809 (last visited Apr. 10, 2006).
11. Veja “Who the Hell is Max Hardcore?”, http://www.maxhardcore.con/whoismax/index.htm (visitado em 7 de abril de 2006).
12. Para uma discussão sobre o papel de Max Hardcore em tornar a pornografia sexualmente violenta, veja “Max Hardcore Porn Star”, http: //max-hardcore.excaliburfilms.comIAVN/Max-Hardcore-Biography.htm (visitado em 16 de abril de 2006).
13. Para uma discussão mais completa sobre as maneiras pelas quais o texto pornográfico constrói as mulheres como o “outro” degradado, veja Robert Jensen, Cruel to Hard: Men and Pornography, SEXUAL ASSAULT REPORT 33 (2004), disponível em http://uts.cc.utexas.edu/%7Erjensen/freelance/pornography&cruelty.htm.
14. Para uma análise de como a pornografia está implicada na construção da masculinidade hegemônica, veja JOHN STOLTENBERG, REFUSING TO BE A MAN (1989).
15. Veja, por exemplo, R. W. CONNELL, MASCULINITIES (1995); HAZEL CARBY, RACE MEN (1998).
16. Veja, por exemplo, DWIGHT A. MCBRIDE, WHY I HATE ABERCROMBIE AND FITCH: ESSAYS ON RACE AND SEXUALITY IN AMERICA (2005); MARK ANTHONY NEAL, NEW BLACK MAN (2005).
17. JAMES SNEAD, WHITE SCREENS/BLACK IMAGES: HOLLYWOOD FROM THE DARK SIDE 4 (1994).
18. PATRICIA HILL COLLINS, BLACK SEXUAL POLITICS 186–87 (2004)
19. CORNEL WEST, RACE MATTERS 83 (1993).
20. Id.
21. Para uma análise histórica das imagens da masculinidade negra, veja Wiegman, supra note 2, at 173–93. Para uma análise histórica das imagens da feminilidade negra, veja COLLINS, supra note.
22. Ed Guerrero, FRAMING BLACKNESS: THE AFRICAN AMERICAN IMAGE IN FILM 9–16 (1993).
23. HAZEL CARBY, RECONSTRUCTING WOMANHOOD: THE EMERGENCE OF THE AFRO-AMERICAN WOMAN NOVELIST 23–26 (1987).
24. Em sua discussão sobre o corpo negro masculino, Kobena Mercer examina as maneiras pelas quais a construção racista do homem negro como todo corpo e nenhuma mente informou a fotografia ocidental. KOBENA MERCER, WELCOME TO THE JUNGLE: NEW POSITIONS IN BLACK CULTURAL STUDIES 131–38 (1994).
25. COLLINS, supra note 18, 153.
26. Veja Gail Dines, King Kong and the White Woman: Hustler Magazine and the Demonization of Black Masculinity, 4 J. VIOLENCE AGAINST WOMEN 291, 291 (1998).
27. Veja Gail Dines, From Fantasy to Reality: Unmasking the Pornography Industry, in Sisterhood Is Forever 306 (Robin Morgan ed., 2003).
28. Ethnic Diversity in Adult: Can’t We All Just Fuck Along?, Adult Video News Mag., Maio 2003, http://www.adultvideonews.com/cover/cover0905_0l.html(visitado em Abril, 18, 2006).
29. Id.
30. Entrevista por telefone com o Dr. Robert Jensen, Professor de Jornalismo, Universidade do Texas em Austin (Abril, 3, 2006).
31. SNEAD, supra note 17, at 2.
32. O estudo de como diferentes grupos raciais e étnicos se tornou “branco” ilustra a natureza fluida da “raça” e da identidade neste país. Para uma análise particularmente perspicaz, veja NOEL IGNATIEV, How THE IRISH BECAME WHITE (1995).
33. Veja, por exemplo, INGRID BANKS, HAIR MATTERS: BEAUTY, POWER AND BLACK WOMEN’S CONSCIOUSNESS (2000).
34. KING KONG (RKO Radio Pictures 1933).
35. Foi assim que o produtor/diretor de King Kong, Merian Cooper, descreveu King Kong para Fay Wray. SNEAD, supra note 17, at 20.
36. Biografia de Fay Wray, http://www.imdb.com/name/nm0942039/bio (visitado em Mar. 20, 2006).
BlacksonBlondes.com, http://blacksonblondes.com/main.php?pg-6 (visitado em Mar. 20, 2006).
38. Para uma descrição do conteúdo desses filmes, veja searchextreme.com, Once You Go Black… You Never Go Back, http://www.searchextreme.com/series/OnceYouGoBlack..YouNeverGoBack/97899206841 (visitado em Mar. 20, 2006).
39. Guia de Erotica Online de Sir Rodney’s, http://www.sirrodney.com/singlereview/White+Meat+On+
Black+Street#readerreviews (visitado Abr. 3, 2006)
40. Guia de Erotica Online de Sir Rodney’s, http://www.sirrodney.com/singlereview/White+Meat+On+
Black+Street#readerreviews (visitado Abr. 3, 2006).
41. Pimp My Black Teen, http://www.pimpmyblackteen.com/ (visitado em Mar. 20, 2006).
42. She Got Pimped, http://www.shegotpimped.com/ (visitado em Mar. 20, 2006).
43. Pimp My Black Teen, http://www.pimpmyblackteen.com/index.phtml?wm-login=warned&warned=y (visitado em Abr, 7, 2006)
44. Id.
45. Veja CARBY, supra note 23, at 30–34.
46. Para uma discussão sobre as maneiras pelas quais as mulheres negras foram masculinizadas na cultura pop branca, veja COLLINS, supra note 18.
47. Id. em 169.
48. Dan Miller, IVN To Release Fatt Entertainment’sIce-T’s Pimpin’ 101, ADULT VIDEO NEWS MAG., Dec. 2002, http://www.adultvideonews.com/bone/byl202_04.html (visitado em Abr, 10, 2006).
49. Twinks from the Hood, http://www.twinksfromthehood.com/?revid=14522&pid=5I&track (visitado em Abr. 2, 2006).
50. McBRIDE, supra note 16, em 103.
51. Id
52. Para uma discussão mais completa sobre como a brancura é socialmente construída, veja GEORGE LIPSITZ, THE POSSESSIVE INVESTMENT IN WHITENESS: HOW WHITE PEOPLE PROFIT FROM IDENTITY POLITICS (1998); IGNATIEV, supra note 32; e DAVID R. ROEDIGER, THE WAGES OF WHITENESS (1991).
53. For a fuller discussion of the politics of black face, see GERALD R. BUTTERS, JR., BLACK MANHOOD ON THE SILENT SCREEN (2002); EIC LOTr, LOVE AND THEFT: BLACK FACE MINSTRELSY AND THE AMERICAN WORKING CLASS (1995); and MICHAEL ROGIN, BLACKFACE, WHITE NOISE: JEWISH IMMIGRANTS INTHE HOLLYWOOD MELTING POT (1998);
54. BUTTERS, supra note 53, at 10.
55. Excertos do programa PBS, American Experience, Stephen Foster, http://www.pbs.org/wgbh/amex/foster/sfeature/sf minstrelsy_3.html (visitado em Mar. 20, 2006).
56. Para uma análise de como os filmes pornográficos podem ser comparados aos musicais, veja LINDA WILLIAMS, HARD CORE: POWER, PLEASURE AND THE ‘FRENZY OF THE VISIBLE’ 130–52(1989).
57. Veja infra p. 284 e note 8.
58. Isso não é para argumentar que os negros simplesmente imitaram os brancos no rosto preto, pois houve tentativas reais de atores negros de fornecer uma versão mais humanizada e autêntica da vida negra. No entanto, havia limites muito reais para isso. BUTTERS, supra note 53, em 11–12.
59. Excertos do programa PBS, American Experience, Stephen Foster, http://www.pbs.org/wgbh/amex/foster/sfeature/sf minstrelsy_5.html (visitado em Mar. 20, 2006).

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