Linguagem importa

Arquivista Radical
Felinismo Radical
Published in
3 min readJan 6, 2019

Por Sheila Jeffreys
Tradução Carol Correia

Nas últimas duas décadas, a linguagem utilizada na literatura acadêmica e na formação de políticas mudou consideravelmente conforme a prostituição foi normalizada. Mesmo estudiosos feministas e ativistas agora geralmente usam uma nova linguagem eufemística, de tal forma que se tornou raro encontrar “prostituição” para se referir a tudo. Em consonância com o entendimento promovido por alguns grupos de defesa do trabalho sexual na década de 1980, a prostituição é comumente referida atualmente como “trabalho sexual”, o que sugere que ele deve ser visto como uma forma legítima de trabalho (Jeffreys, 1997; Jeness, 1993). Aqueles que promovem a noção de que a prostituição deve ser encarada como trabalho qualquer, eu devo referir a elas como “trabalho do lobby do sexo” e as ideias subjacentes a esta abordagem como a “posição de trabalho do sexo”. A posição do trabalho sexual é a base das exigências para a normalização e legalização da prostituição. Como corolário desta posição, os homens que compram as mulheres agora são comumente referidos como “clientes”, o que normaliza a sua prática como apenas uma outra forma de atividade de consumo. Aqueles que dirigem locais de prostituição e tiram os lucros da indústria são regularmente referidos no meu estado de Victoria, Austrália, onde os bordéis são regulados pela autoridade de licenciamento de negócios, como “prestadores de serviços” (M. Sullivan, 2007).

Na década de 1990, a linguagem relativa ao tráfico de mulheres para a prostituição também foi alterada por aqueles que consideram a prostituição um setor do mercado comum. Assim, tráfico é agora chamado, por muitos ativistas profissionais do sexo e aqueles em estudos de migração, de migração de mão de obra (Agustin, 2006a). A linguagem é importante. O uso da linguagem corrente do comércio em relação à prostituição faz com que o dano desta prática seja invisível. Facilita o desenvolvimento rentável da indústria global. Se algum progresso é para ser feita em controlar a indústria global, então se usa uma linguagem que faz com que o dano visível seja mantido ou desenvolvido. Neste livro, será usado a linguagem que chama a atenção para os danos que a prostituição constitui para as mulheres. Assim eu me refiro às mulheres prostituídas em vez de profissionais do sexo, porque isso sugere que algo prejudicial está sendo feito para as mulheres e traz os perpetradores em cena. Eu chamo de ‘prostituidores’, os compradores do sexo masculino, em vez de clientes, em referência à palavra útil em espanhol ‘prostituidor’, ou seja, o homem que prostitui a mulher, uma formulação que sugere a desaprovação e um que não está disponível em português. Refiro-me aqueles que lucram em cima de terceiros como cafetões e proxenetas, termos que podem agora parecer antiquados, mas que mostram um desprezo razoável para a prática de obter lucros na dor das mulheres. Estados que legalizam as suas indústrias de prostituição me refiro como “estados-cafetão”. Irei continuar a usar o termo “tráfico de mulheres” para se referir à prática de transporte de mulheres em servidão por dívida.

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