Outro dia, eu estava no Facebook e vi o anúncio de uma vaga de emprego, cujo título era: analista de marketing júnior.

O que mais se destacava na vaga era a quantidade de pré-requisitos que ela exigia. Desenvolver conteúdo para mídias, monitorar redes sociais, conhecer links patrocinados, dominar ferramentas como photoshop e illustrator, ter boa redação e capacidade de síntese, e claro, o típico perfil analítico. Fora os outros requisitos que me fogem a cabeça. A remuneração? Um salário de R$ 2000,00.

Só pra deixar claro. Para ter esses pré-requisitos, são necessárias 3 faculdades e 5 áreas de atuação, fora os cursos extracurriculares de assuntos que nem a faculdade consegue cobrir. Uma especialidade bem improvável, principalmente pra quem está começando (como a hierarquia do cargo júnior sugere).

A "oportunidade" era pra uma empresa do segmento de imóveis. Típico exemplo de empreendimento que não faz ideia do que precisa e acha que uma pessoa é capaz de contemplar todas as exigências do negócio.

Aquilo me irritou. Mas fiquei mais irritada por já ter visto isso antes. Casos assim aparecem toda hora. O mercado não entende os diversos segmentos dentro do marketing, da publicidade e do design. Essas áreas são confundidas e desvalorizadas o tempo inteiro.

Todo mundo acha que pode ser um pouco designer, um pouco redator, um pouco "marqueteiro". A propriedade com que as pessoas conseguem opinar sobre essas áreas é incrível. Quando o foco da área é criatividade então, já era. As pessoas ignoram que haja estratégia por trás. Todo mundo, de repente, sabe criar um slogan ou fazer uma peça gráfica. O processo criativo passa despercebido. Como se inspiração viesse do nada, sem busca de referência, sem compreensão do processo e sem frustração pessoal. Como se criação não dependesse de estratégia.

Se a minha decepção já era grande com esse tipo de situação, imagina quando eu vejo dentro do grupo da faculdade a proposta para um freela (trabalho autônomo) assim: "Proposta para projeto de branding*. Boa remuneração. Contato por inbox."

Eu, com a minha curiosidade e em busca de trabalho, contatei o mensageiro. Eis que a boa remuneração era no valor de R$ 800,00 e o projeto inteiro deveria ser feito em 14 dias. Só para estabelecer um parâmetro, um projeto desses desenvolvido por uma agência grande no Brasil custa 1 milhão de reais e demora até um ano para ser realizado.

Não, não tenho a pretensão de esperar que a remuneração de um projeto autônomo tenha valor equivalente e nem que a complexidade do trabalho seja igual a de uma empresa multinacional. Porém, é evidente pra mim, que as pessoas não tem ideia do impacto que um projeto desse pode causar. E o que mais me deixa decepcionada é ver pessoas da minha própria área desvalorizarem o próprio mercado de trabalho.

Qual é o resultado disso? Um mundo de ofertas de emprego subvalorizadas, com altas expectativas, prazos curtos e processos desorganizados. Uma imensidão de profissionais frustrados no mercado que não conseguem ser eficientes e nem entregar resultados. Não podemos esperar que empresas fora do ramo da comunicação valorizem o nosso trabalho, se nós mesmos não fazemos isso.

*De forma bem superficial, branding é a construção de uma marca e envolve um trabalho complexo de diagnóstico do mercado, público, empreendimento e tradução disso para conceitos da marca.

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