“O filósofo ambicioso do século XX”

Esta obra, que permanece sem título, mas muitos ainda se referem simplesmente como “Caveira”, é provavelmente inspirada no momento em que sua mãe lhe dá um atlas de anatomia.

VICTOR GOMES
ARTE e DESIGN
4 min readOct 7, 2021

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Untitled(1982)

Por Bernardo Willecke e Victor Costa

Jean-Michel Basquiat (1960–1988) foi um pintor neo-expressionista e grafiteiro norte-americano, o primeiro afro-americano a fazer sucesso nas artes plásticas de Nova York. Nascido no Brooklyn, filho de ex-ministro do interior do Haiti que se tornou proprietário de grande escritório de contabilidade ao imigrar para os Estados Unidos e de mãe porto-riquenha. Desde pequeno, Basquiat apresentou talento para o desenho.

Com 3 anos, Basquiat já mostrava aptidão para as artes, desenhando caricaturas e reproduzindo personagens dos desenhos animados da televisão. Com 6 anos seu programa preferido era visitar o Museu de Arte Moderna de Nova York. Aos 7 anos, quando foi atropelado e internado com o braço quebrado e seu baço retirado, sua mãe lhe deu um atlas de anatomia para lhe passar o tempo, acontecimento que influenciou os temas de suas pinturas posteriormente.

Mais tarde seus pais vinham a se divorciar, mudando-se para Porto Rico com o pai e suas irmãs e lá vivem de 1974 a 1976, lá tem o contato com suas origens latinas.

Aos 17 anos volta a Nova Iorque e acaba não se adaptando às escolas convencionais. Passou a frequentar a Edward R. Murrow High School mas a abandona praticamente no final do curso, sai de casa, vai morar com amigos, e passa a pintar camisetas que ele mesmo vende nas ruas.

Com o artista gráfico Al Diaz cria a SAMO (same old shit — mesma velha merda), marca e assinatura que usava para espalhar as suas obras pelas paredes da cidade. Passa a viver nas ruas e a grafitar paredes, portas de casas e metrôs de Nova York.

Aos poucos, Basquiat torna-se uma celebridade, participando de programas de TV e é convidado para o filme ‘Downtown 81’, o dinheiro que ganhou foi todo investido em materiais de pintura. Com a fama adquirida, passa a ter dinheiro, tornando-se artista internacional. Acaba conhecendo e convivendo com Andy Warhol, que oferece moradia e divulgação de seu trabalho.

A arte de Basquiat, chamada de “primitivismo intelectualizado”, uma tendência neo-expressionista, retrata personagens esqueléticos, rostos apavorados, rostos mascarados, carros, edifícios, policiais, ícones negros da música e do boxe, cenas da vida urbana, além de colagens, rabiscos, escritas indecifráveis, sempre em cores fortes e em telas grandes. Quase sempre o elemento negro está retratado.

Em Untitled, as dicotomias de interior contra experiência são enfatizadas. Semelhante a um crânio, os dentes e a mandíbula são vazios e sem pele. No entanto, ao contrário de um crânio, os olhos, orelhas e cabelos, juntamente com espaços semelhantes a quartos dentro do crânio, sugerem uma percepção externa da cabeça. É como se pudesse ver o interior e o exterior do crânio ao mesmo tempo. Essa alusão ao crânio estar vivo e morto ao mesmo tempo está de acordo com o tema recorrente de de Basquiat mostrado em muitas de suas obras.

Na pintura, o rosto parece ser feito de retalhos, partes que não combinam umas com as outras, quase como se fossem montadas ao acaso, combinando as heranças culturais haitianas e porto-riquenhas do artista com o caráter urbano da sua obra (o rosto lembra os autorretratos de grafiteiros anônimos).

O seu significado continua sendo um mistério: as letras no topo parecem em código, rabiscos que não conseguimos decifrar. É evidente, que apesar das cores vivas, existe uma carga perturbadora.

O autor foi um filósofo ambicioso do século XX. Ele acreditava que “a filosofia em sua totalidade tem de algum modo uma relação com o conceito de representação, que os seres humanos são “ens representans”.

Em certo momento, ele decidiu que seu trabalho como filósofo era construir uma “teoria das representações”. Era um projeto extremamente ambicioso e concebido em uma época na qual projetos desse tamanho já não eram mais comuns na filosofia acadêmica.

Inspirado na obra do filósofo hispano-americano George Santayana, chamada “A vida da razão”, ele escreveu cinco livros onde ele desenvolvia sua mais nova teoria. Enquanto ele ainda se considerava um filósofo analítico, sua simpatia por outros que publicaram foi diminuindo muito rapidamente.

Ele também dizia que segundo seu amigo filósofo e crítico David Carrier, os livros necessitam de notas explicativas para serem entendidos pelos leitores hoje, dada a gigantesca diferença da realidade da época para os dias atuais.

Quando se fala na arte em geral, considero algo extremamente fascinante por ter diversas formas e pode ser algo feito por qualquer pessoa. É uma forma de expressão, uma forma de chamar a atenção de quem a vê, ou ouve, ou sente. A arte é algo que existe desde o período pré-histórico e vai continuar existindo até o fim dos tempos. Ela transcende a barreira do espaço e do tempo. Além da beleza em si da arte, também há beleza nas diferentes formas de interpretação da arte, fazendo com que apenas uma obra consiga ter tantos significados para as pessoas que a apreciam.

A obra “Untitled” do artista Basquiat é a mais famosa de toda sua curta carreira. Foi pintada em 1982 com tinta acrílica, lápis de cera e spray, apresentando um perfil em forma de caveira. A pintura primeiramente foi comprada em um leilão em 1984 por 19 mil dólares. Neste ano, a obra que estava nas mesmas mãos há 33 anos foi vendida a mais de 110 milhões de reais em um leilão em Nova York. O comprador é um empresário e colecionador japonês chamado Yusaku Maesawa.

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VICTOR GOMES
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Estudante de jornalismo em constante evolução. Gosta de basquete, futebol, edição de vídeo/audio e claro, escrever.