Sem título (Caveira) — Jean-Michel Basquiat:

Cadu Belo
ARTE e DESIGN
4 min readOct 7, 2021

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Um símbolo do Neoexpressionismo

Por Cadu Belo e Tatiana Marques

Filho de pai haitiano e mãe porto-riquenha, Jean-Michel Basquiat nasceu em 1960 no Brooklyn, Nova York. Sua mãe, uma artista amadora, estimulou desde muito cedo o lado artístico do filho, e além de levá-lo a museus e exposições, matriculou-o em um programa infantil no Museu de Arte do Brooklyn.

Um episódio que influenciaria posteriormente nas obras do artista ocorreu quando ele ainda era criança. Com seis anos foi atropelado por um carro e, durante o período de recuperação das inúmeras cirurgias que realizou, sua mãe presenteou-o com um livro de anatomia, cujas imagens do corpo humano fascinaram o jovem Basquiat.

O quadro Sem título (Caveira), pintado em 1981, reflete essa fascinação. A obra retrata as dimensões de uma cabeça, e a parte interior do crânio, que apresenta cores vibrantes e pinceladas que sugerem grande atividade interna, contrasta com o rosto, que por sua vez possui olhos tristes e apáticos, sugerindo assim a ligação vida e morte. A pintura foi adquirida em 1982 pelos colecionadores de arte Eli e EdytheBroad e está exposta no museu The Broad em Los Angeles.

Aos 17 anos, junto com seu amigo Al Diaz,começou a grafitar a inscrição SAMO (“sameoldshit”) pelos prédios abandonados de Manhatthan, o que despertou curiosidade nos moradores. Dois anos mais tarde, com a notoriedade que ganhou no meio artístico nova-iorquino, realizou sua primeira exibição pública, vendeu suas primeiras obras e passou a trabalhar integralmente como artista.

O movimento estético a qual Basquiat pertence é chamado de primitivismo intelectualizado, que tem como principais características obras que retratam uma realidade menos sofisticada com grande vigor, força expressiva e emocional. As obras do artista também são ícones do movimento neo-expressionista, uma vez que retratam, com cores vibrantes e pinceladas fortes, críticas à cultura elitizada e abordam temas “desconfortáveis”. Em muitas de suas obras, Basquiat denuncia a repressão, o racismo e as desigualdades na sociedade norte americana.

A forte amizade que cultivou com Andy Warhol foi de grande importância para a carreira de Jean-Michel Basquiat. Juntos realizaram várias obras em que mesclavam seus estilos: a técnica de pop art de Warhol e o estilo abstrato, estilizado e imprevisível de Basquiat.

Cerca de um ano após a morte de Warhol, evento que abalou profundamente Basquiat, o artista de apenas 27 anos falece de overdose em Nova York. Apesar da vida breve, Jean-Michel Basquiat é uma inspiração para artistas contemporâneos e deixou como legado suas obras carregadas de simbolismo, política e denúncias de uma sociedade desigual.

Segunda parte

Discorrer sobre a obra de Basquiat é, sinceramente, algo difícil e desafiador para um estudante de estética.

Como avaliar uma obra carregada de sentidos pessoais, expressão máxima de um estado de espírito em que o autor deixa, talvez, transparecer toda a sua desilusão com o mundo ao expressar — quase que um grito — o convívio com a violência da polícia dos Estados Unidos com os negros e imigrantes?

Como entender a profusão de cores fortes como o preto e o vermelho em uma obra que faz alusão a uma caveira humana? Estaria o jovem pedindo socorro em meio a conflitos e angústias próprias expressadas através do grafite que desafiava as autoridades que, até pouco tempo não consideravam o grafite como uma expressão artística?

Nesse quesito, impossível não lembrar dos questionamentos e reflexões de Arthur C. Danto em seu livro A transfiguração do Lugar-comum onde o mesmo, já no prefácio questiona o porque das coisas “banais” transformarem se em arte onde “o tema central da obra, referente ao modo como os objetos mais banais, lugares-comuns, são transfigurados em obras de arte”.

Danto diz que isso é um problema filosófico, afinal, quem estabelece o que é arte?

Quem é autoridade para legitimar o que pode ou não ser considerado arte?

Quem estabelece os limites do que é ou não é uma obra de arte?

Sem dúvida a amizade com Andy Warhol e a inclusão das técnicas do movimento art pop legitimam as palavras de Danto onde “a definição deve ser procurada em fatores institucionais.”

Outra instituição que legitima a obra estudada nesse breve texto como uma obra de arte, é o seu contexto social e histórico, estimulado e engajado pela luta dos movimentos negros na américa do norte em especial Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). Basquiat demonstra assim que a vida da população preta dos americanos é a representação da desigualdade, da opressão e da violencia.

Bibliografia:

Danto, Arthur C. — A transfiguração do lugar-comum, uma filosofia da arte –

https://en-m-wikipedia- Org.translate.goog/wiki/Untitle(Skull)?xtrsl=en&xtrtl=pt&xtrhl=pt-BR&_x_tr_pto=nui,sc,elem

https://fahrenheitmagazine.com/pt/arte/visuais/Jean-Michel-Basquiat-e-Andy-Warhol-Arte-e-Amor#view-1

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Michel_Basquiat

https://arteref.com/opiniao/basquiat-da-street-art-ao-neoexpressionismo/

https://www.infoescola.com/movimentos-artisticos/primitivismo/

https://www.escoladasartes.com/post/biografia-jean-michel-basquiat

https://www.culturagenial.com/jean-michel-basquiat-obras/

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