Cinema e revolução: os legados do construtivismo russo

Vídeos complementares sobre o movimento

Luísa Calheiros
Arte em Debate
3 min readFeb 7, 2021

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I. Visão geral do Construtivismo Russo

O vídeo apresenta de maneira sucinta e didática as principais características, o contexto sociopolítico e os principais nomes do construtivismo russo, oferecendo material visual sobre suas diversas representações nas artes, como a escultura, a arquitetura e a música.

Há também um enfoque sobre a influência desse movimento artístico na sociedade contemporânea, principalmente a partir do uso de seus elementos estéticos distintos (como as cores primárias, as formas geométricas e fotomontagem) em anúncios publicitários e em propagandas políticas.

Capa da revista WIRED UK (Junho de 2012) e cartaz de Alexander Rodchenko (1925), respectivamente.

II. Efeito Kuleshov

No contexto do Construtivismo Russo, o cinema soviético assumiu um caráter experimentalista, tentando construir novas técnicas de edição e montagem. O “Efeito Kuleshov” foi um dos mais importantes experimentos do período, posto em prática pelo teórico e cineasta Lev Kuleshov. Como exposto no vídeo, o efeito consiste na justaposição de planos, com a intenção de trazer a uma determinada cena um diferente significado. Para os cineastas construtivistas, a edição era a peça fundamental do cinema.

A partir das experiências de Kuleshov, outros cineastas como Sergei Eisenstein, que será abordado no vídeo abaixo, formularão suas próprias teorias e experimentos com edição, criando a ideia de “montagem soviética”.

Dessa forma, fica clara a influência do Construtivismo nas obras cinematográficas de diferentes épocas e países, impactando o cinema de nomes como Alfred Hitchcock e Francis Ford Coppola e sendo constantemente utilizada e referenciada ainda nos dias atuais.

III. A Escadaria de Odessa

Em 1925, foi lançado o filme “O Encouraçado Potemkin”, dirigido por Sergei Eisenstein, que retrata uma rebelião de marinheiros do navio Potemkin contra soldados czaristas. O cinema de Eisenstein reverbera as características do Construtivismo ao entender a arte como uma ferramenta política de liberação e de propaganda revolucionária, tecendo críticas ao czarismo e à burguesia, além de reforçar o papel de resistência do proletariado.

A cena da escadaria de Odessa no longa-metragem expõe justamente tais características do movimento, apresentando os cruéis atos de violência cometidos por membros do exército do Czar contra civis. O horror e o caos do massacre são representados, principalmente, por duas figuras maternas. A primeira, que carrega a criança em seu colo indo em direção aos guardas, implorando-os para cessar fogo, e a segunda, que, ao ser atingida por um tiro, assiste em terror o carrinho com seu bebê despencar da escadaria.

É notável, também, o uso de técnicas de montagem com o intuito de demonstrar a tensão e o drama da situação, hipnotizando o espectador. No momento em questão, percebe-se a utilização dessas técnicas para destacar a antítese entre as cenas de pessoas alegres saudando os marinheiros e o horror da população segundos depois quando se inicia o violento ataque. Esses métodos de edição e de montagem foram aperfeiçoados por cineastas soviéticos, como visto no vídeo 2, e são importantes em todas as facetas do cinema.

Por último, há a questão do simbolismo presente no trecho. A ideia de criar arte com significado era uma peça chave nas obras cinematográficas soviéticas da época. A escadaria de Odessa no filme representa a dinâmica de poder entre as classes sociais, revelando a dificuldade de ascensão social da população menos privilegiada.

Em suma, é perceptível o motivo pelo qual a cena é considerada um marco monumental da sétima arte, posto que aplicou práticas técnicas revolucionárias e representa com maestria os ideais construtivistas.

Cena do filme “O Encouraçado Potemkin”

Fontes e referências

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