O contexto político-social da Pop Art

Lucas Mattoso
Arte em Debate
Published in
5 min readFeb 5, 2021

Uma geração marcada pela Guerra:

O fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, foi responsável pela ascensão dos Estados Unidos à posição de maior potência do mundo, reforçando no país um modelo de comportamento baseado na vida ideal, conhecido como “american way of life”. A economia do país estava em sua melhor fase, criando um ambiente otimista e que facilitava o acesso à cultura. Esse modo de vida, que servia como válvula de escape para se esquecer os horrores das Grandes Guerras, era caracterizado por um intenso consumismo que era tido pela sociedade como fonte de felicidade. Esse consumismo era incentivado pelo governo, que dessa forma promovia o capitalismo na fase de Guerra Fria, em oposição ao socialismo da União Soviética.

Soldados norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/4925880825059023/

Nesse contexto, alguns artistas começaram a criticar o consumismo e sua indústria cultural, dando origem a Pop Art. O termo — que significa “arte popular” — surgiu durante a década de 1950 na Inglaterra, diante de discussões sobre a cultura popular através de publicidades de massa — como filmes, propagandas e histórias em quadrinho — no grupo de artistas intitulado “Independent Group” (ou “Grupo Independente”), inserido no Instituto de Arte Contemporânea de Londres. Foi oficializado por John McHale, em 1954 e usado pela primeira vez em 1955, pelo crítico de artes Lawrence Alloway, em seu ensaio “The Art and the Mass Media”.

Independent Group (Nigel Graeme Henderson, Sir Eduardo Luigi Paolozzi, Alison Margaret Smithson, Peter Denham Smithson). Fonte: https://br.pinterest.com/pin/569142471628809804/

Após ter suas bases apresentadas, o movimento chegou nos Estados Unidos em 1962, onde se popularizou e teve seu ápice em Nova York, conquistando a atenção do mundo inteiro. Nesse contexto, a publicidade americana já tinha adotado diversos elementos da arte moderna, e seus artistas procuravam algo novo, um pouco mais dramático, onde a arte pudesse ser feita a partir de elementos comerciais.

As obras representam o fascínio da juventude por toda a estética do movimento, com suas cores vibrantes e seu embasamento em publicidades da época, que eram tratadas como arte da mesma forma que pinturas e esculturas de um museu. Os artistas foram, dessa forma, quebrando a barreira que isolava a arte somente à parte culta da população.

Uma das primeiras colagens da Pop Art, por Richard Hamilton. Intitulada “O que Exatamente Torna os Lares de Hoje Tão Diferentes, Tão Atraentes?” (1956), a obra apresenta diversos elementos da cultura de massa e foi baseada em Adão e Eva. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/389279961523154238/

A Pop Art usava da ironia para satirizar e criticar a cultura popular e seus objetos de consumo — ambos fortemente influenciados pelo “american way of life” — através de elementos já conhecidos e muito presentes por parte da cultura de massas, como a publicidade, os quadrinhos, a televisão e o cinema, aproximando, assim, a arte da vida cotidiana. Porém, ao mesmo tempo em que criticava essa realidade, a Pop Art precisava dela para se inspirar e também para divulgar o próprio trabalho.

Os artistas do movimento usavam em suas obras cores vivas, fortes — sempre presentes nas propagandas publicitárias — e os aplicavam, imitando elementos da rotina popular e consumista, como latas de refrigerante, embalagens de alimentos e até figuras famosas. Além disso, buscavam evidenciar a crise da arte do século XX, voltando ao modelo da arte figurativa.

Colagem feita a partir de obras da Pop Art. Evidencia-se referências à sopa enlatada Campbell’s, à Cola-Cola, à Marilyn Monroe, ao Superman, ao livro “Isso é Arte?”, entre diversas otras obras. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/423549539935017709/

A brasilidade da Pop Art:

A Pop Art chegou ao Brasil na década de 60, em pleno período da Ditadura Militar. Ela foi muito usada como instrumento de crítica à censura e à opressão, evidenciando em suas obras a violência e os problemas sociais presentes na sociedade brasileira, diferenciando-se da Pop Art estrangeira, que analisava a sociedade de consumo. Logo, a nossa Pop Art teve um estilo próprio, que servia como instrumento de denúncia política e social.

Obra de Claudio Tozzi “Guevara: vivo ou morto” (1967), que após exposta, foi destruída por um grupo radical de direita. Fonte: https://laart.art.br/blog/pop-art-brasil/

O período foi também marcado pela mostra “Opinião 65”, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1965, que era composta por obras da Pop Art que tinham, além disso, um viés pluralista que visava dar voz à juventude que tanto resistia e protestava contra o regime militar.

Não Há Vagas (1965), de Rubens Gerchman. A obra denunciava o desemprego presente no país. Fonte: http://memoriasdaditadura.org.br/obras/nao-ha-vagas-1965-de-rubens-gerchman/nao-ha-vagas/

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Capa do LP Tropicália ou Panis et Circenses, o manifesto do Tropicalismo. Fonte: http://blogs.jornaldaparaiba.com.br/silvioosias/2018/07/31/lancado-ha-50-anos-manifesto-tropicalista-tem-brasil-de-68-e-alem/

O movimento da Tropicália foi fortemente influenciado pela Pop Art no Brasil, usando de diversos elementos de alegoria para passar mensagens para o público no período ditatorial, driblando o sistema de censura vigente com suas metáforas e trocadilhos.

Entre os vários artistas atuantes na Pop Art brasileira, podemos citar Antônio Dias, ex-diretor do Instituto de Belas Artes no Rio de Janeiro; Claudio Tozzi, que reinventou técnicas de reprodução fotográfica; além de influenciar outros como Romero Britto, reconhecido internacionalmente por suas obras de formas geométricas marcantes.

O legado da Pop Art no mundo contemporâneo:

Nascido em 1950, o movimento da Pop Art foi tão popular que tem espaço e influências até hoje: ela está presente no design e na decoração de vários ambientes; na moda — por exemplo, em grifes famosas como Prada, Kenzo e Prabal; além de continuar presente em quadrinhos e cartoons, tornando a Pop Art um movimento atemporal.

Do artista Grég Guillemin (2015), a imagem representa Mestre Yoda, personagem da saga Star Wars, segurando um perfume da marca Chanel. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/72620612717765324/

Referências:

• AIDAR, Laura. Pop Art: obras, características e principais artistas. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/pop-art/amp/. Acesso em: 04 fev. 2021.

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