Tropicália : Contexto político-social
· CONTEXTO MUNDIAL
Para compreender a realidade que abrangeu a Tropicália, é necessário observar o panorama mundial da época. A década de 60 foi marcada pela Guerra Fria, disputa de interesses que dividiu o mundo em dois lados, o capitalista representado pelos Estados Unidos e o socialista encabeçado pela União Soviética.
Também vale lembrar da Revolução Cubana em 1959, cuja ascensão de líderes como Fidel Castro e Che Guevara, intensificou a tentativa de influência do bloco capitalista sobre os países na época chamados de terceiro-mundo.
· CONTEXTO NACIONAL
No Brasil, as medidas para atenuar as desigualdades sociais do então presidente João Goulart, criaram uma forte oposição da classe de direita conservadora, o que culminou no Golpe Militar de 1964, tendo assim no país uma ruptura da democracia.
Nesse contexto, com os militares no poder, a concentração de renda era o principal elemento que impulsionava o regime capitalista. Pobreza e uma extrema disparidade socioeconômica entre as classes sociais era abafada pela violência e repressão do governo.
Entretanto, culturalmente era um momento de intensa movimentação dos artistas, que mesmo barrados pela censura conseguiam impor conceito as suas obras, no tetro, no cinema, nas canções, nas artes plásticas.
· SURGIMENTO DA TROPICÁLIA
A partir de referências do pop rock e do concretismo, nasceu o Tropicalismo, em um contexto anterior nacional dominado pela Bossa Nova. Esse movimento, buscava enaltecer a música brasileira e criar uma identificação nacional, com uma espécie de sincretismo cultural, juntando aspectos do samba, baião, entre outros componentes culturais típicos da realidade do país.
O nome dessa vertente, tem origem na obra de Hélio Oiticica, que promoveu uma experiência sensorial, a partir de aspectos da cultura nacional.
· CRÍTICAS E CONFLITOS QUE ENVOLVIAM O TROPICALISMO
O posicionamento dos artistas tropicalistas, era contra o autoritarismo da época e às desigualdades social, visando promover uma internacionalização da cultura, desprendendo-se do campo político.
Tal colocação era questionada pelos críticos que consideravam o conteúdo vago e sem contextualização com a ação revolucionária contra a ditadura. Dessa questão surgiram alguns conflitos de interesses entre os tropicalistas e os nacionalistas de esquerda, que consideravam os artistas da Tropicália agentes do inimigo infiltrados, já que na visão deles suas obras não apresentavam engajamento suficiente para o alcance revolucionário que a esquerda pretendia.
Paralelo a essa problemática, existiam os artistas da Jovem Guarda, que não demonstravam cunho político em suas letras, que descreviam coisas aleatórias e desprovidas de um sentido crítico, demandado pelo contexto social da época. Eram representantes desse projeto artistas como: Roberto Carlos, Erasmo Carlos, entre outros.
· O AUGE DA TROPICÁLIA
No movimento em questão destaca-se dois momentos importantes para o desenvolvimento dessa vertente no Brasil. Um deles aconteceu em 1967 no Festiva de Música Popular Brasileira em que Caetano Veloso, Gilberto Gil e os Mutantes se apresentaram com as músicas, “Alegria, Alegria” e “Domingo no Parque”. Essas composições revolucionaram a forma com que as pessoas entendiam as canções, as inúmeras ambiguidades e alegorias presentes, demandavam explicação, uma inovação que produziu singularidade e complexidade na música brasileira.
Outro momento que merece ser destacado é o lançamento do disco denominado Tropicália ou Panis et Circencis em 1968. Essa obra faz uma crítica à política do governo no Brasil, considerava análoga à adotada na antiguidade.
· CARACTERÍSTICAS DO MOVIMENTO E AS MUDANÇAS PROMOVIDAS
Apesar das inúmeras críticas recebidas, os tropicalistas argumentavam sobre sua capacidade de revolução como uma experiência transgressora da canção. Nesse sentido, defendiam a modernização através de conquistas burguesas, ampliando a concepção de arte até então enraizada na sociedade.
O movimento tratado, possuía uma visão diferente a respeito da política e do contexto social da época. Segundo o sociólogo Cláudio Coelho “O tropicalismo construiu uma versão alternativa das relações entre cultura e política”.
Nessa perspectiva libertária revolucionária, o movimento retomou os caminhos abertos pelos modernistas na Semana de Arte de 22.No sentido de que, valorizava a cultura originária brasileira, elencando sua rica de diversidade pra que então a cultura nacional pudesse ser propagada, construindo uma identidade nacional frente aos outros países do mundo.
O tropicalismo se fez importante a partir do momento que promoveu mudanças não só no âmbito musical, mas também transformou o comportamento e os costumes da época. Uma tendência que surgiu fundamentada nesse período, foi a contracultura hippie, com os cabelos longos e encaracolados e as roupas coloridas.
· FIM DO MOVIMENTO
Após a instituição do AI 5, as medidas repressivas ficaram ainda mais rígidas, e o Tropicalismo se tornou alvo da perseguição do governo militar. Com a prisão de Caetano e Gil, que logo após partiram para o exílio fora do país, o movimento se dissolveu, perdeu força e chegou ao fim. Porém o legado que a Tropicália deixou, ficará marcado pra sempre na história nacional.
· REFERÊNCIAS
Coelho, Cláudio N.P. “A TROPICÁLIA: CULTURA E POLÍTICA NOS ANOS 60.” Tempo Social, vol. 1, no. 2, Dec. 1989, pp. 159–176, www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20701989000200159#aff01, 10.1590/ts.v1i2.84780. Accessed 19 Feb. 2021.
“Contexto — Tropicália.” Tropicalia.com.br, 2021, tropicalia.com.br/identifisignificados/contexto. Accessed 19 Feb. 2021.
Politize. “Movimento Tropicália: Concretismo, Antropofagia E Política | Politize!” Politize!, 3 Nov. 2020, www.politize.com.br/movimento-tropicalia/. Accessed 19 Feb. 2021.
“Tropicália.” InfoEscola, 2019, www.infoescola.com/movimentos-culturais/tropicalia-tropicalismo/. Accessed 19 Feb. 2021.
“Tropicalismo: Movimento Mudou a Cultura Brasileira.” Uol.com.br, 2020, educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/tropicalismo-movimento-mudou-a-cultura-brasileira.htm. Accessed 19 Feb. 2021.
