Videoarte: Letícia Parente
Letícia Tarquinio de Souza Parente nasceu em Salvador, Bahia, no ano de 1930. Foi artista, professora, pesquisadora e pioneira da videoarte no Brasil, tendo trabalhado também com pinturas, gravuras, objetos, fotografias, projetos audiovisuais, arte postal, xerox e instalações. O corpo e a casa são a base da sua obra, estabelecendo um diálogo entre a vida íntima e o mundo.
Formou-se em química em 1952 e se dedicou à educação, atuando em Salvador, Rio de Janeiro e Sabinópolis (Minas Gerais). Em 1959, fixou residência em Fortaleza com a família e tornou-se professora de química na Universidade Federal do Ceará (UFC).
Letícia foi iniciada na arte tardiamente, aos quarenta anos de idade (1971), quando se mudou para o Rio de Janeiro para fazer o mestrado em química na Universidade Católica Romana (PUC-RIO). Conheceu a prática artística por meio de cursos realizados no Núcleo de Atividades Criativas (NAC) de Botafogo e passou a fazer gravuras. Em 1973, retorna a Fortaleza, onde ganha o prêmio do Salão de Abril, e realiza sua primeira exposição individual no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), intitulada Monotipias, composta por 29 obras em gravura.
Em 1974, retorna ao Rio de Janeiro para dar continuidade às pesquisas acadêmicas na área de química, com um doutorado, ao mesmo tempo em que realiza pesquisas com a artista Anna Bella Geiger (1933), em seu ateliê. Elas foram as primeiras a usar a câmera Sony Portapak, a primeira câmera de vídeo portátil, para produzir trabalhos em vídeo no Brasil. A câmera foi trazida dos Estados Unidos pelo cineasta Jom Tob Azulay (1941).
Seu vídeo Marca Registrada (1975) tornou-se um emblema da videoarte no país. É um vídeo de 10 minutos que mostra Letícia Parente costurando na planta dos pés a expressão “MADE IN BRASIL” com agulha e linha. O corpo é entendido como uma mercadoria e não mais um estado físico pessoal. Pertencer a um país durante a violenta ditadura militar-civil é doloroso. Para quem observa a imagem ao longo do plano sequência, a pele é marcada ponto a ponto e produz uma sensação dolorosa - esse é um elemento estético essencial da artista em outras obras de vídeo, que prioriza o tempo da ação.
Letícia Parente também utilizou o audiovisual como meio artístico, apresentando a obra Eu Armário de Mim (1975). Nela, fotos de seu guarda-roupa contendo cadeiras, sapatos, exames médicos, especiarias, itens de culto, todos os seus cinco filhos e outras imagens com elementos da casa são encadeadas ao som de um reza, cujo refrão é “Eu, armário de mim”. Por meio da construção de uma estrutura cotidiana, pode-se ligar o cotidiano e o pensamento da artista ao mundo em que ela vive, formando uma abordagem poética de classificação muito próxima ao cotidiano.
Muito do que o Brasil produziu em arte e mídia na década de 1970 se perdeu. A maioria dos trabalhos de xerox, arte postal, vídeo e vídeotexto foram perdidos, seja por serem materiais frágeis, ou devido a equipamentos obsoletos, ou devido à preparação insuficiente das instituições de arte brasileiras (incluindo museus, colecionadores e artistas). Mais de um terço dos vídeos que Letícia produziu foram perdidos, pois ela não tinha como fazer cópias de suas obras e as enviava para exposições.
As diversificadas obras de arte de Letícia Parente refletem a vitalidade que ela demonstrou ao longo de sua vida: um foco fixo na descoberta, experimentação e razão é uma forma de orientar a descoberta, aproximando arte e vida. Letícia faleceu no Rio de Janeiro, em 1991.
REFERÊNCIAS:
LETÍCIA Parente. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa216185/leticia-parente>. Acesso em: 03 de Mar. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978–85–7979–060–7
https://istoe.com.br/146730_CARTOGRAFIAS+FRONTEIRICAS/
PARENTE, André. “ALÔ, É A LETÍCIA?”. eRevista Performatus, Inhumas, ano 2, n. 8, jan. 2014. ISSN: 2316–8102.