Videoarte: Paulo Bruscky

Gabriel Magacho
Arte em Debate
Published in
3 min readMar 5, 2021
paulo bruscky. performance: expressão alinhavada, 1978. livro de artista (12,5 x 19 cm)

Paulo Roberto Barbosa Bruscky nasceu em 1949 na cidade de Recife-PE. Filho de um artista bielo-russo radicado no Brasil, Bruscky é um artista multimídia e poeta com gigantesca criatividade. Ademais das influências advindas do pai (que também era fotógrafo), começou no mundo da arte ao publicar desenhos em jornais ainda na adolescência. Desde essa época, começou a ganhar visibilidade e algumas premiações artísticas. Sempre ativo em questões políticas, o artista foi preso após participar de uma passeata, quando ainda tinha 19 anos e era um estudante de jornalismo.

Em entrevista ao portal SeLecT em dezembro de 2017, Bruscky conta que foi preso mais duas vezes em sua carreira, mas que garantiu seus sustentos como funcionário público trabalhando como técnico de comunicação social no Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS).

“Arte é feita para circular”

paulo bruscky. fax performance, 1985. colagem, aparelho de fax. aprox. 20 x 35 cm

Na década de 1960, as obras de Bruscky se enquadram na arte conceitual; algo que consequentemente evoluiria para suas pesquisas em arte-xerox. O artista é um dos precursores do movimento da Arte Postal no Brasil, organizando duas exposições internacionais desta categoria nos anos de 1975 e 1976 em Recife; sendo que a última foi fechada pela Ditadura Militar.

Sua obra se destaca pelo tom politizado e social; algo que pode ser percebido nitidamente no movimento da Arte Postal. Para Cristina Freire, é importante notar que "a arte postal constituiu-se, naquele momento, numa estratégia de liberdade diante do contexto político opressor." (falta citação) Desta forma, a Arte Correio, como o artista prefere chamar, é uma modalidade antissistêmica, antiburguesa e anticomercial. Além disso, é uma maneira de ultrapassar fronteiras formais e informais.

paulo bruscky. Limpos e desinfetados, cleans and desinfecteds, 1987. impressão offset sobre papel. 117x89cm. MAM-SP.

É importante notar a grande presença da questão do corpo em sua obra como um todo. Além das representações em performances, o artista também se utiliza de experimentações com radiografias e eletroencefalogramas, como no trabalho Registros (O meu cérebro desenha assim), realizado em 1979 e em 2014.

paulo bruscky — Registros (O meu cérebro desenha assim) 3’50”, cor, som, U-matic, Recife, 1979.
paulo bruscky. Meu cérebro desenha e pinta assim, 1979–2014. Performance. Coleção do artista. MAM-SP.

Videoarte em Paulo Bruscky

Seus trabalhos de videoarte começaram no final da década de 1970, através do uso de câmeras do tipo Super 8. Entre os anos de 1979 e 1982, Bruscky produziu trinta obras deste gênero, com algumas figurando cidades como Nova York e Amsterdã, como em Amsterdam Erótica. Novamente, o artista busca explorar os sentidos através da experimentação e dentro da perspectiva de que a arte deve sim circular — daí a escolha pelo vídeo como meio de propagar e concretizar sua arte.

paulo bruscky — Amsterdam Erótica 4'04", cor, som, super-8 — Amsterdam, 1982.

Além disso, Bruscky foi inovador ao criar o método do xerox-filme, onde ele mesmo descreve como um "filme feito através do processo xerográfico abrindo um novo campo para o desenho animado e o cinema experimental." A obra Xeroperformance, de 1980, demonstra "o relacionamento corpóreo do artista com a máquina xerox."

paulo bruscky — Xeroperformance (1980) 45", p/b, som, super-8, Recife/PE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  • PAULO Bruscky. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7783/paulo-bruscky>. Acesso em: 04 de Mar. 2021. Verbete da Enciclopédia.
    ISBN: 978–85–7979–060–7
  • ARTE conceitual e conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC USP. Curadoria Cristina Freire; versão em inglês Elizabeth Bjorkstrom Moraes, Thomas Karsten. São Paulo: MAC/USP, 2000
  • CHAIMOVICH, FELIPE (org.). CATÁLOGO: PAULO BRUSCKY. [S. l.]: MAM-SP, 2014.
  • STRECKER, Márion (org.). Paulo Bruscky: o artista que escreve: “Sempre fiz o que quis, como quis, onde quis, quando quis. Arte não foi feita para pedir permissão a nada”, vaticina. 2017. Disponível em: https://www.select.art.br/paulo-bruscky-o-artista-que-escreve/. Acesso em: 4 mar. 2021.
  • ROESLER, Nara (org.). Paulo Bruscky. Disponível em: https://nararoesler.art/artists/56-paulo-bruscky/. Acesso em: 4 mar. 2021.

--

--