Pantera Negra pode ser foda, mas os meus olhos ficaram vidrados mesmo em A Forma da água e em Uma mulher fantástica

Priscila Pacheco
Artes & reflexões
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3 min readMar 29, 2018

Há algumas semanas assisti ao filme Pantera Negra mesmo sem ter interesse em histórias de super herói. Na verdade, foi a bolha facebookiana que me conduziu ao cinema. Eram tantos comentários, links de posts que comecei a pensar: Como ainda não vi esse filme? Comecei a planejar a ida ao cinema, mas a enrolação não dava espaço. Mas num domingo decidi que correria depois da aula de dança, que termina às 18h, para pegar a última sessão do dia às 18h30. Desci a Rua da Consolação, virei à direita, cheguei na Frei Caneca.

-Oi! Ainda tem ingresso para o Pantera Negra?, perguntei à moça do caixa.

-Sim!

-Quero um, por favor!

Lá estava eu sozinha, em uma sala cheia de gente, e apreensiva para ver o tão falado filme. Reconheço que é uma produção muito importante para a representatividade diante de uma sociedade racista que não dá espaço para negras e negros, que diz que negro não sabe fazer nada direito e que é preguiçoso. É óbvio que precisamos lotar o cinema para ver. O filme é legal, prendeu a minha atenção em alguns momentos, mas volta e meia eu me perguntava se demoraria muito para acabar. Não é mesmo o meu estilo.

Segunda-feira chuvosa. Ando apressada pela avenida Paulista pós-trabalho. Chego ao cinema da Rua da Consolação, coloco o guarda-chuva molhado na mochila, entro na fila, olho o relógio. Penso: Vai dar tempo. Não deve vir muita gente no cinema numa segunda-feira, ainda mais com chuva.

-Oi! Ainda tem ingresso para A Forma da Água?

-Sim!

-Quero um, por favor!

A Forma da Água ganhou o Oscar de melhor filme, diretor, trilha sonora original e direção de arte. É um filme do gênero fantástico, a fotografia fez com que eu lembrasse de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Houve momentos em que pensei até em Salvador Dalí, artista do surrealismo. A água borbulha, os ovos cozinham. Década de 1960, Guerra Fria, Estados Unidos, Rússia. Uma faxineira, um monstro, gatos, dor. Amor. Há romance. Eu fujo de filmes de romance como vampiro foge de dente de alho, mas esse me envolveu. Duas horas de filme e eu não pensei em nenhum momento no tempo que faltava para acabar.

Saio da sala. Volto para a fila.

-Um ingresso do filme Uma Mulher Fantástica, por favor.

Uma Mulher Fantástica é um filme chileno que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Prêmio merecido, apesar que antes eu estava torcendo para O Insulto vencer, afinal, tenho uma quedinha por produções do Oriente Médio. Enfim, o drama chileno coloca em cena uma atriz transexual que interpreta uma garota, também trans, que vive um romance com um homem mais velho. Um homem que morre. E assim a agonia começa. É um filme que te envolve tanto que faz com que você sinta o mesmo que a personagem. Fiquei apreensiva por ela. Falava mentalmente com ela. Até quis chorar com ela. Ela, ela, ela.

Quando um dos personagens a expulsa do velório e grita: Você não sabe respeitar a dor alheia? Penso: E quem respeita a dor dela? Quem?

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Priscila Pacheco
Artes & reflexões

Journalist — I am an independent journalist and I am interested in human rights, social actions, culture and environment. Instagram: @pricspacheco