A 'crise' energética vs. mineradoras de bitcoin.

Paulo Paganelli
ARTHUR Mining
Published in
5 min readFeb 17, 2022

Em 2021 a mineração de bitcoins ganhou maior destaque midiático devido aos tweets do Elon Musk ao considerar que não iria mais aceitar pagamentos em bitcoin na Tesla, devido a discussões sobre a pegada de carbono da rede Bitcoin. Desde então, os questionamentos acerca do gasto de energia da atividade de mineração PoW (Proof of Work) gera vários debates sobre a verdadeira importância e impacto ambiental da mineração.

Um dos maiores questionamentos realizados sobre a mineração é que o planeta vive uma crise energética, onde mineração está utilizando muitos recursos, entre diversas outras narrativas. No entanto, tais discursos se perpetuam a anos, porém com focos diferentes a cada década. Agora, devido a diversos fatores econômicos, sociais e ao aumento gradual da adoção do bitcoin, os céticos continuam a destilar suas opiniões contrárias a mineração e ao uso de elementos financeiros descentralizados, como o bitcoin.

A energia para a humanidade

Desde o surgimento da humanidade e sua constante busca por avanços tecnológicos, encontrar novos meios de transformar a energia foi diretamente responsável pela sobrevivência e melhora da qualidade de vida do ser humano.

Todo o tipo de energia existente que possamos utilizar não foi inventada, mas transformada. A primeira forma de energia que nossos ancestrais conseguiram manusear foi o fogo.

Graças a isso, o homem conseguiu gerar sua própria fonte de calor, iluminação e proteção contra predadores. Além disso, o manuseio do fogo permitiu que nossos ancestrais pudessem aquecer alimentos e, para muitos antropólogos, isto é considerado extremamente importante para a qualidade nutricional dos alimentos ingeridos pelo homem, que o ajudou a inclusive no crescimento do cérebro nos primeiros humanos.

O avanço no manuseio do fogo foi trazendo para a humanidade mais desenvolvimentos tecnológicos, aprimorados na Idade das Pedras e que depois possibilitou o surgimento da metalurgia. Estes avanços permitiram o surgimento da queima de combustíveis fósseis, que possuem muito mais densidade energética, como o carvão mineral, gás natural e o petróleo.

O uso do carvão mineral como combustível foi essencial para o processo de Revolução Industrial e até hoje, mesmo com as diversas medidas ambientais levantadas por diversos países, seu uso ainda é relevante na indústria.

O desenvolvimento de novas formas de domínio sobre transformação de energia serviram, desde o descobrimento do uso do fogo pelo homem, como formas de desenvolvimento social e civilizatório tendo como grande marco a Revolução Industrial.

Logo após, na segunda Revolução Industrial, o avanço do uso da eletricidade proporcionou melhora na qualidade de vida dos cidadãos. No entanto, mesmo hoje, com diversos avanços tecnológicos, muitos países ainda não conseguem atingir um nível aceitável de distribuição elétrica para muitas regiões. Nesse sentido, muitas pessoas ainda sofrem com escassez elétrica devido à falta de distribuição eficiente da energia gerada.

Além disso, com as diversas fontes de energia utilizadas hoje, a distribuição sofre com dificuldades devido a diversos fatores, sejam eles geográficos, sazonais ou jurídicos.

O uso de energia limpa

Um fator importante na discussão sobre a crise energética mundial é como está sendo feito o uso de energia limpa pelos países. Obviamente há um incentivo dos governos para que diversas cidades zerem suas emissões de carbono em atividades industriais e outras em prazos de 40 a 50 anos, pelo menos. No entanto, a grande problemática é que diversos países que possuem potencial de geração de energia limpa tem essas áreas de geração de energia afastada dos grandes centros consumidores.

Pode-se citar o caso dos EUA que possuem um potencial eólico gigantesco, porém esse potencial encontra-se afastado dos centros consumidores e o investimento necessário para construção de linhas de transmissão muitas vezes é inviável. Em outros casos, alguns estados americanos, como a Califórnia, dependem do uso de energia nuclear para avançar com seus compromissos climáticos e ambientais, porém há pouco incentivo para a continuação do uso de energia nuclear, portanto é necessário encontrar saídas para resolver o problema da viabilidade de construção de linhas de transmissão em áreas distantes dos centros consumidores.

A crise energética mundial

O grande problema da crise energética mundial consiste na falta de medidas para a melhor distribuição de energia, principalmente energia limpa. As fontes de energia solar e eólica funcionam em condições onde os horários de pico de produção geralmente não consiste no horário de pico de uso. Nesse sentido, ocorre a perda do potencial de geração, por não haver formas mais produtivas de armazenar essa energia.

Outro fator é que, apesar de diversas medidas de redução do uso de energia não renovável, vários países e empresas ainda não conseguem reduzir o impacto ambiental da sua produção energética. Em novembro de 2021 foi realizada a 26º Conferência das Nações Unidas sobre Mudança no Clima (COP26) em Glasgow, na Escócia, onde o objetivo central era que ocorresse acordos entre os países envolvidos para reduzir o financiamento de projetos envolvendo combustíveis fósseis.

O uso de combustível fóssil ainda é muito presente na indústria, e a mineração de bitcoin é um importante agente, que trabalha mitigando emissões. Os mineradores usam o gás natural residual do processo de extração de petróleo que normalmente seria queimado em processos pouco eficientes e direciona esse gás para geradores de alta eficiência que reduzem consideravelmente o volume de metano despejado na atmosfera. Desta maneira acessam energia barata e mitigam emissões.

Os mineradores buscam negociar energia excedente barata com as companhias de energia, pois estas possuem capacidade excedente que não conseguem vender para os consumidores, pois não são totalmente utilizáveis domesticamente ou industrialmente.

A eficiência da mineração

A mineração consegue utilizar energia barata porque seu modelo de negócios permite ser possível consumir excedente energético. Um dos principais fatores da mineração é ser um negócio resiliente e agnóstico em termos de localização. Sendo assim, os mineradores podem estar presentes em locais remotos, longe do centro consumidor e próximo dos produtores de energia. Com isso, a mineração tem custos baixos de energia, porque não precisa gastar com distribuição, além de ser possível montar sua própria estrutura energética.

Sendo assim, o “problema” da crise mundial é, na verdade, a falta de medidas eficazes de distribuição energética. Existem diversas formas de transformação e uso de energia que podem ser exploradas, mas que ainda encontram resistência por parte das empresas e governos. Nesse sentido, a mineração faz o que pode para garantir a continuidade de seu processo produtivo, buscando não ser nocivo ao meio ambiente. Além disso, as buscas por energia barata garantem maior retorno financeiro e, felizmente, é possível utilizar energia excedente e limpa para atingir este fim.

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Paulo Paganelli
ARTHUR Mining

Engineer with experience in international supply-chain management, power generation, and cryptocurrency mining.