Comparando bitcoin vs. mercado tradicional.

Ray Nasser
ARTHUR Mining
Published in
7 min readMar 18, 2022

O bitcoin é um ativo completamente diferente de tudo que já vimos antes no mercado tradicional. Sendo completamente disruptivo, o bitcoin permite que sejamos nosso próprio banco e estejamos seguros em uma moeda forte, que resiste à inflação. Vários são os motivos para preferir o bitcoin frente a ativos do mercado tradicional.

Vários investidores já viram seu dinheiro derreter devido a ações que não deram certo, decisões de empresas e/ou medidas governamentais. Tudo isso acontece porque o mercado inteiro é dependente de medidas controladas por instituições, sejam elas públicas ou privadas. O bitcoin, devido a sua descentralização e ao protocolo imutável, não sofre com tais medidas. Embora certas notícias impactam no preço do bitcoin ou na mineração da moeda, isto é causado devido ao FUD (sigla em inglês para Medo, Incerteza e Dúvida) de muitas pessoas em relação ao futuro desse mercado, não por alguma falha sistemática do bitcoin propriamente dito.

O crescimento do mercado de bitcoin

O mercado de bitcoin cresceu de maneira exponencial em 2021, quando grandes players firmaram interesse no setor. Desde o início de 2020, a indústria do bitcoin vinha se fortalecendo, com a entrada de grandes investidores, empresas e a inserção de mineradoras na bolsa de valores. Além disso, apesar de outros setores do mercado de criptoativos terem ganhado destaque, como De-Fi e NFTs, isso acaba trazendo à tona o bitcoin em diversas discussões.

Nesse sentido, o bitcoin tem deixado de ser visto como uma ferramenta de criminosos e está sendo considerado por investidores, empresas e gestoras de ativos importantes, como um ativo importante no mercado financeiro como um todo. Em 2021, a adoção de criptomoedas cresceu 880% em relação ao ano anterior, segundo a Chainalysis.

Adoção global de criptomoedas por trimestre desde 2019. Fonte: Chainalysis.

Esse crescimento se dá por vários fatores, no entanto, é mais pertinente em países com economia emergente, onde se vê uma necessidade em adotar bitcoin e altcoins, para se prevenir da inflação monetária da moeda local, perda do poder de compra e decadência econômica. De outro modo, em países cuja economia é mais estável, o crescimento se dá pelo aumento da adoção de instituições no setor, que constatam no bitcoin, e outras soluções De-Fi, uma alternativa mais viável de renda e até proteção monetária frente ao mercado tradicional.

Além disso, o número de exchanges e empresas oferecendo serviços com bitcoin tem crescido, devido à demanda. Serviços de custódia que nem o da Fidelity Investments e da Nomura Securities deram mais confiança para o investidor do mercado tradicional e institucional. Vários países também regularam a atividade de empresas relacionadas a bitcoin e mineração, fazendo com que o mercado seja visto com mais seriedade. Isso fez o número de mineradoras crescer em Wall Street, no início eram apenas 6 empresas públicas, agora são 16.

Valor recebido em criptomoedas por categoria de serviço. Fonte: Chainalysis.

Isso mostra como o mercado está se fortalecendo e agora os investidores estão buscando alternativas mais atraentes de investimentos. Na imagem acima é possível observar como o valor negociado em exchanges é grande, tendo ultrapassado os 200 bilhões de dólares no segundo trimestre de 2021. Os valores correspondentes à mineração também crescem a cada mês observado.

A grande procura por bitcoin e outras moedas do mercado cripto pode ser vista como um reflexo das medidas econômicas adotadas durante a pandemia. Além disso, a instabilidade do mercado nesses períodos fez a procura por bitcoin aumentar, fora as inovações que ocorreram no setor das criptomoedas, que ofereceram serviços cada vez voltados para o público iniciante e também institucional.

Por que o bitcoin é um dinheiro melhor?

O uso do bitcoin tem ido além do que somente para ganhos financeiros. Certamente o aumento da adesão institucional faz o FUD aumentar para aqueles que ainda não estão inseridos no mercado, porém o bitcoin tem sido mais que um investimento. Para muitas pessoas, cidades e países, o bitcoin é uma ferramenta de liberdade.

Em 2021 a notícia mais surpreendente para o mercado foi a de um país inteiro, El Salvador, aderir o bitcoin como moeda de curso legal. No entanto, a adesão da moeda não foi por entusiasmo ou ativismo; os cidadãos salvadorenhos realmente precisavam de uma moeda que não os limitasse, como o dólar fazia. 70% dos moradores de El Salvador eram desbancarizados e dependiam de remessas financeiras dos parentes que moravam nos Estados Unidos. A moeda do país havia ruído e eles eram dolarizados desde 2001. Com isso, o bitcoin ganhava destaque no país, devido à facilidade de realizar transações e o sistema que funcionava por 24h todos os dias.

Por outro lado, o bitcoin também foi muito útil para os caminhoneiros em protesto no Canadá. Devido às restrições de trabalho que estavam sofrendo pela pandemia, muitos recorreram a doações, porém o governo congelou as contas de todas as pessoas que tinham alguma ligação com os caminhoneiros e bloquearam as doações em dinheiro fiduciário. Nesse sentido, a solução foi usar bitcoin para receber doações.

Outro caso de uso do bitcoin é sua adoção no período de guerra entre Rússia e Ucrânia. Após os efeitos econômicos da guerra serem observados pela população do mundo todo, principalmente da ucraniana, o governo recebeu doações com bitcoin e criptomoedas. Agora o governo ucraniano reconhece o bitcoin como moeda legal no país, como fez El Salvador.

Apesar de estar cada vez mais vinculado com o mercado tradicional, o bitcoin é e sempre será um dinheiro apolítico. Logo, nenhum governo, empresa ou país pode proibir o uso e adoção do bitcoin pelas pessoas. Além disso, cada vez mais é constatado que o bitcoin resiste a cenários de incerteza econômica.

Gráfico comparativo de preço Bitcoin x Ouro. Fonte: TradingView.

O gráfico acima mostra o movimento do bitcoin (em laranja) em relação ao movimento do ouro (em azul) algumas horas após o firmamento do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Mesmo o preço do bitcoin tendo caído imediatamente, devido ao movimento de institucionais que posicionam suas ações em ativos mais “estáveis”, horas depois o cenário era completamente diferente.

A incerteza do mercado tradicional

Embora muitos questionem a natureza volátil do bitcoin, é importante ressaltar que ele segue à risca um protocolo imutável, que baseia sua teoria econômica. Diferente das moedas fiduciárias, que baseiam a economia dos ativos do mercado financeiro, o bitcoin possui uma política monetária fixa e pré-definida não é controlado por governos, que podem ditar o funcionamento da economia.

Uma medida errada de políticos na economia se reflete no mercado inteiro, em outros casos, todo e qualquer movimento do jogo político impacta na economia e no mercado acionário. É o que observamos agora com a guerra declarada pela Rússia. Em poucas horas o preço do petróleo brent havia ultrapassado o valor de 100 dólares por barril, preço que não havia sido mais visto desde 2014.

O aumento do preço do barril do petróleo impacta o mercado em geral, pois a Rússia é uma das maiores fornecedoras de petróleo do mundo. Com isso, até mesmo o cidadão médio sofre os impactos, com preço da gasolina aumentando e dos alimentos, afinal, muitos produtos e matéria-prima são importados de um país para o outro.

Desde o fim do padrão ouro-dólar, em 1971, o mundo vem observando a decadência do dinheiro e da economia. As maiores taxas de inflação surgiram após 1971, quando ficou cada vez mais fácil imprimir dinheiro para suprir as dívidas do governo e financiar guerras, por exemplo.

Inflação acumulada de 1913–2015. Fonte: WTFhappenedin1971.com
Expansão da base monetária e inflação do bitcoin ao longo do tempo. Fonte: Bitcoin Monetary Inflation.

O reconhecimento institucional

O bitcoin tem se firmado tão positivamente no mercado frente aos outros ativos, que agora as maiores gestoras já ousam falar bem do bitcoin, como a Fidelity que lançou um relatório comparando a moeda ao ouro e as moedas fiduciárias.

Comparação Bitcoin x Ouro x Moeda Fiduciária. Fonte: Fidelity Digital Assets.

De acordo com a Fidelity Digital Assets, o bitcoin “é o melhor dinheiro global e não possui rivais nesse sentido”. A finalidade do relatório era orientar os investidores da gestora que ainda não estão expostos ao ativo. A Fidelity afirma que os investidores devem entrar nesse mercado, como ela mesma já fez, adquirindo mais de 7% de participação na mineradora de bitcoin, Marathon Digital Holdings (NASDAQ: MARA).

A Fidelity também, pensando em seus investidores, lançou um ETF de bitcoin no Canadá, e pediu a autorização da SEC para fazer o mesmo nos EUA, porém, por hora, o pedido foi negado. Isso não impede que os investidores tradicionais americanos se exponham ao bitcoin por meio de ETFs, pois a Valkyrie lançou seu ETF replicando índices de mineradoras de bitcoin com foco em mineração verde.

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Ray Nasser
ARTHUR Mining

Economist from Babson College, USA, with more than 15 years of experience in the financial market as F.O. manager. Arthur CEO.