O impacto de carbono da mineração de bitcoins

João Paulo Bicalho
ARTHUR Mining
Published in
5 min readJan 31, 2022

Muito se discute acerca dos impactos ambientais que a mineração de bitcoins pode resultar. Hoje, com o bitcoin ganhando cada vez mais os holofotes, os argumentos contra a moeda fazem parte do discurso da mídia. Nesse sentido, é recorrente o argumento sobre o impacto energético do Bitcoin ou a emissão de carbono pela atividade e, com isso, entusiastas, especialistas e pessoas comprometidas em repassar a verdadeira palavra do bitcoin, lutam para desmistificar tais falácias.

O Bitcoin continuará consumindo energia, igual a qualquer outra atividade que realizamos atualmente. No entanto, cabe entender que o consumo de energia do Bitcoin não acarreta necessariamente em alto impacto ambiental. Além disso, a mineração de bitcoins trabalha para reduzir a pegada de carbono que tais atividades possam emitir.

Nesse sentido, é importante entender que o consumo energético da rede não é em vão. Tal consumo é importante para a segurança da rede e pode até ser benéfico para o meio ambiente no geral, visto que diversas alternativas de consumo energético estão sendo feitas com mineração e incentivando a adoção de fontes renováveis.

Uso energético vs. Impacto ambiental

O debate acalorado acerca do uso alto de energia e, consequentemente, impacto ambiental da mineração gera uma confusão. Primeiro, consumir mais energia não significa poluir mais. É importante entender que o consumo de eletricidade e a pegada ambiental não possuem uma proporção direta. O que importa para o meio ambiente de fato não é o quanto de energia está sendo consumido, mas sim qual o impacto que a fonte de energia pode causar.

A mesma quantidade de energia sendo gerada por fontes diferentes causam impactos em escalas diferentes. Por exemplo, a eletricidade gerada por uma usina de carvão tem uma pegada ambiental muito maior que a mesma quantidade de eletricidade gerada por fontes de energia mais limpas, como eólica ou solar. Desse modo, podemos concluir que o aumento da demanda de energia não leva necessariamente a um aumento da emissão de carbono na atmosfera.

Atualmente é certo que os mineiros utilizam fontes de diversas matrizes energéticas sendo que estudos indicam que cerca de mais da metade dessas fontes são provenientes de recursos renováveis. Outrossim, as mineradoras trabalham para que as emissões de gás carbônico na atmosfera, provenientes do processo de flaring, sejam reduzidas.

Além de jogar fora energia, o processo de flaring — queima de gás — realizadas por petroleiras emite uma grande quantidade de carbono na atmosfera. Este é um problema que, embora diversas medidas ambientais tenham sido tomadas para mitigar a situação, ainda não houve um efeito significativo para a redução de emissão. Nesse sentido, diversas mineradoras utilizam como fonte de energia o gás proveniente da queima realizada pelas indústrias e resolvem o problema de flaring.

Estudos apontam que apenas em 2020 o estado do Texas, emitiu cerca de 7 bilhões de metros cúbicos (㎥) em poluentes devido a atividades de queima do gás natural. Curiosamente, ou estrategicamente, o Texas é hoje o principal estado americano escolhido pelos mineradores após a repressão chinesa na mineração.

Energia renovável

Como dito anteriormente, apesar do mix de fontes de energia para a mineração de bitcoins ser bastante variado, mais da metade dessas fontes são de caráter renovável. Ademais, os mineradores da rede são intuitivamente obrigados a sempre buscar por métodos mais sustentáveis de energia.

Levantamentos realizados pelo Bitcoin Mining Council, fórum voluntário de mineradores, nos trazem dados importantes acerca da energia utilizada pelo Bitcoin. Nesse sentido, somente no terceiro trimestre de 2021 o uso de energia sustentável pelos mineiros subiu 3%, totalizando 57,7% de energia sustentável sendo usada pela rede.

Vale destacar que sempre as mineradoras buscam pela energia mais viável em termos econômicos. Nesse sentido, devido ao crescente interesse global de instituições em reduzir impactos ambientes nas atividades industriais, fontes renováveis acabam sendo mais atrativas.

De outro modo, há grandes chances de a mineração de bitcoins fomentar no futuro o uso de energia nuclear. O avanço de fontes renováveis tem tomado lugar desse tipo de energia, que é mais limpa e abundante, além de mais eficiente, densa e confiável. Assim como faz com a energia renovável, a mineração pode auxiliar na demanda por energia nuclear.

As emissões de carbono

Como visto anteriormente, o impacto ambiental da mineração não corresponde necessariamente ao aumento do uso de energia da rede, visto que os mineradores têm utilizado cada vez mais energia sustentável.

Um levantamento realizado pela Universidade de Cambridge mostrou qual seria a pegada ambiental da mineração de bitcoin, considerando o pior dos casos. Se a rede Bitcoin gastasse 70 TW/h anualmente e esse consumo fosse proveniente de usinas de carvão, o combustível fóssil mais poluente que existe, o Bitcoin seria responsável por 111 milhões de toneladas métricas de emissão de dióxido de carbono.

Mesmo com esse número de carbono, ainda assim, isso seria somente 0,35% do total das emissões anuais do mundo inteiro.

Nesse sentido, o Bitcoin segue sendo o menor dos problemas ambientais existentes hoje. Afinal, a atividade de diversas big-techs, como Google e Meta (Facebook) são responsáveis por maiores emissões de poluentes na atmosfera, mas isso não se torna alvo dos acadêmicos e jornalistas, como é com a mineração de bitcoins.

Por que o bitcoin precisa de energia?

A grande problemática dos que argumentam contra o gasto energético do bitcoin hoje é que as pessoas ainda não entendem a importância dessa tecnologia. Logo, para esses, nenhum gasto de energia desta rede seria justificável.

É necessário ressaltar que o Bitcoin surge como uma alternativa mais atraente para aqueles que não querem estar suscetíveis à centralização financeira realizada pelos bancos centrais. Desse modo, a importância do bitcoin se dá porque é capaz de fazer com que qualquer pessoa seja seu próprio banco e desfrute de liberdade e autonomia financeira.

Sendo assim, por ser um sistema descentralizado, quanto mais investimento dos mineradores fazem parte dessa rede, validando tudo o que acontece nela, mais segura ela é. Há 13 anos o Bitcoin funciona perfeitamente, sem nenhum ataque realizado na rede. Logo, a energia utilizada no bitcoin mantém o sistema resiliente e incorruptível.

Medidas para mitigar a pegada de carbono do bitcoin

Atualmente várias empresas buscam por soluções para descarbonização. Algumas trabalham para deixar os dados acerca da emissão de carbono mais transparentes. Além disso, várias gestoras têm lançado ETFs de bitcoin que compensam a emissão de carbono.

A gestora de ativos brasileira, Hashdex, lançou em julho seu primeiro ETF de “bitcoin verde”, onde aposta na neutralização da pegada de carbono da mineração de bitcoins adquiridos pelo fundo.

Além disso, mineradoras, como a Arthur, têm se comprometido em aplicar práticas ESG em seu modelo de negócios, que consiste em medidas ambientais, sociais e governamentais mais sustentáveis para o meio ambiente. Com isso, a Arthur aplica um modelo de negócios onde consome energia excedente ou que seria desperdiçada pela indústria de óleo e gás no processo de flaring.

Sendo assim, a mineradora consegue consumir energia barata, mantendo uma produção eficiente e ainda contribuindo positivamente para a redução da emissão de poluentes na atmosfera.

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João Paulo Bicalho
ARTHUR Mining

Has been into digital assets for the last 5 years, joining Arthur as corporate developer to help build the backbone of a new financial rail.