Bruno Guedes
Articulista
Published in
3 min readAug 10, 2019

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Balotelli no Flamengo e credibilidade no espaço: os caça-cliques das redes sociais

É inegável o impacto que as redes sociais trouxeram para o Jornalismo. Além de aproximarem a origem da notícia com a sua audiência, pulverizaram a necessidade de um intermediário empresarial para reportar um fato. Porém criou armadilhas que muitos insistem em ser presas constantes: os caça-cliques.

Durante a última semana ocorreu em larga escala este fenômeno nocivo e que, em sua maioria, não é praticada por jornalistas ou profissionais da área de comunicação que se preocupam com a credibilidade. Algo que infelizmente virou rotina em locais desprovidos de filtro de qualidade.

Surgiu, da Itália, uma informação de que o atacante italiano Balotelli estaria negociando a sua ida para o Flamengo. Sem nenhuma apuração subsequente, diversos perfis começaram a replicar — acrescentando detalhes irreais ou inventados — como notícia. Na cauda do cometa veio uma chuva de likes, retweets e compartilhamentos em diversas outras redes.

Eram muitos os perfis italianos tentando emplacar conteúdo em meio ao marasmo do noticiário ou brasileiros que buscavam apenas seguidores. Os profissionais compromissados com a verdade e/ou que tinham informações realmente verídicas sobre o caso, mantinham a cautela em relatar o fato e o desenrolar da (ainda inexistente) negociação.

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De fato surgiu um interesse entre o atleta e o clube, mas incipiente e sem nenhum contato oficial. Mesmo assim, “apuradores” saltaram de algumas dezenas para milhares de seguidores com informações de salários, data da possível apresentação e até mesmo nomes de negociadores. Chegou a aparecer gente afirmando que “dentro das próximas horas aconteceria o anúncio da contratação”. Os dias foram passando e nada acontecia.

O imediatismo das redes sociais proporcionou também a confusão entre profissionalismo e necessidade de exposição. Os profissionais que vivem da notícia sabem diferenciar o que é apuração e o que é aposta. O Twitter, principalmente, se tornou um espaço propício para quem não tem compromisso com a verdade e confunde o Jornalismo com o Cassino da Notícia.

São perfis que sempre estão lançando negociações, levantando nomes e apostando alto à espera de que algo aconteça. Quase sempre nada ocorre. Mas se por sorte acontece, gritam que deram um furo. Não deram, apenas enganaram alguns seguidores. E o estrago geralmente já está feito. O mal Jornalismo praticado. A grande recompensa vem em forma de alguns minutos de fama, um castelo de areia que desmorona na próxima onda.

Os maiores prejudicados com a prática antiprofissional, e que até certo ponto brincam com a inteligência da sua audiência, são os verdadeiros jornalistas. Aqueles que apuram e cruzam fontes, que se preocupam em ter a informação correta e primam pela qualidade dos seus conteúdos acabam sendo confundidos com quem não tem qualquer intimidade com tais práticas.

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Entretanto não é algo novo. Sempre existiram os profissionais que plantavam negociações e torciam para que elas ocorressem. Bem antes da internet. Mas, nestes casos, a credibilidade estava diretamente ligada não só ao nome de quem divulgava a informação como também ao veículo. E isto custava, muitas das vezes, o emprego do especulador. Agora, com a liberdade cibernética, não. Sem a necessidade da “prestação de contas” com um empregador legal, vale qualquer coisa para que mais seguidores apareçam e repliquem seus falsos conteúdos.

Os caça-cliques, como são chamados, jogam o Jornalismo de verdade na lata do lixo e mancham completamente a figura do repórter. A profissão, que atualmente vive sob a sombra das fake-news e a impopularidade praticada com viés político, tem ainda que lutar contra estes maus profissionais ou simplesmente aventureiros que visam a criação de um perfil especulativo.

Usuários das redes sociais precisam ficar atentos, distinguir profissão de diversão, notícia de invenção, apuração de aposta… São os consumidores das informações que precisam eliminar este fenômeno não tão recente, porém cada vez mais comum e em quantidade maior. A qualidade depende de todos, mas não virá de quem é apenas caça-clique. Cuidado, você pode estar sendo feito de bobo por eles.

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