#tendencIES: a convivência entre a ética e o lucro

IES — Social Business School
#opinião

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João Pedro Tavares, Presidente do Conselho Estratégico do IES — Social Business School

IES — Há comportamentos que existirão durante um período de ajustamento (antes das coisas voltarem ao normal) e que afetarão as vidas das pessoas, das organizações e/ou do planeta. Que tendências identificas para este período específico?

JOÃO — Vivemos tempos inesperados que, não sendo únicos na humanidade, são únicos na forma e no modo. Vivemos uma pandemia num mundo global, altamente amplificado na tecnologia. O ritmo de transmissão foi grande mas o de propagação das notícias e de desmultiplicação (em fake news, por exemplo) foi exponencial. Por isso acredito que quando voltar à “nova normal” será rápido também. Durante este período poderemos ocupar o “novo tempo” de múltiplas formas: para construir e religar, ou destruir e afastar; para valorizar o essencial de outra forma, relembrar, reaprender, ou continuar tudo na mesma; para olhar para o mundo, para o outro, para a sociedade ou apenas para mim mesmo e para a minha satisfação individual. Temos maior noção de que somos vizinhos uns dos outros. A nossa pegada e o nosso gesto, o nosso cuidado connosco é também um gesto pelos outros. Estamos todos interligados e em interdependência. A promoção do individualismos morreu, assim espero.

IES — Há dimensões da nossa vida em sociedade que já mudaram e que não voltarão ao que eram (o novo normal). E na Gestão, o que se verificará?

JOÃO — Os valores, a ética, os princípios do bem comum, da dignidade das pessoas, da sua importância devem prevalecer sobre tudo o resto. Os scorecards das empresas devem passar a incorporar resultados internos e impactos internos de forma balanceada. A liderança deve servir mais do que servir-se. O valor criado deve ser distribuído de forma mais ampla. A tecnologia é a âncora de desenvolvimento da sociedade e vai ter um boost absolutamente extraordinário. É o mecanismo de comunicação ampla de eleição, deve promover a inclusão, a diversidade, democratizar acesso, ser ferramenta de aprendizagem e desenvolvimento. A ampla adopção de plataformas digitais é irreversível. Os 5 factores predominantes para o desenvolvimento da sociedade mantêm-se e sairão reforçados: Felicidade, Saúde, Riqueza, Mobilidade, Segurança, Globalização. E os 5 factores moderadores (e que podem bloquear esse desenvolvimento), também: acesso aos recursos escassos e críticos, a poluição, a segurança/ o terrorismo, a privacidade e a Ética.

IES — Que implicações terá este fenómeno nos modelos de gestão das organizações em geral e das organizações de impacto em particular?

JOÃO — Os recursos e o acesso aos mesmos será ainda mais escasso e por isso mesmo, sobreviverão as organizações que, entre outros aspetos: vivam um propósito com impacto de forma ampla e bem comunicada; que se insiram em redes de criação e distribuição de valor; que promovam a resolução de temas críticos para a sociedade (bens ou serviços); que atuem com transparência e ética; que vivam para fora e não para dentro; que tenham uma cultura positiva e que sejam exemplo na liderança e no serviço.

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