Raquel Segal

Gabriel Freire
Art Journey
Published in
10 min readSep 22, 2018

Tantas foram as vezes que essa entrevista foi pedida..! Desenhos pra cá, posts pra lá, UM MILHÃO DE CURTIDAS e a menina amarela, ou melhor, Senhora Eita cada vez presente em nossa timeline, seja do facebook, seja do instagram, e ainda mais, agora aqui no Medium Aquele Eita! Saindo direto dos desenhos e agora em palavras, ilustradora e diretora de arte, Raquel Segal!

Raquel Segal — Criadora do Aquele Eita, Ilustradora e Dir. Arte

O que é “Aquele Eita” pra você? O que a página diz sobre Raquel Segal?

“Acho que posso dizer que a página é todo meu coração. Tudo o que sinto e não sei dizer, eu consigo desenhar. As pessoas que me conhecem às vezes até estranham as tirinhas que faço, porque como uma boa capricorniana não sou muito carinhosa, mas desenhar é algo relaxante pra mim. Consigo pôr pra fora tudo o que penso e sinto.”

Uma tela com amarelo singular e desenhos em preto sobre o cotidiano nunca foi tão memorável para alguns. Mas e pra Raquel? Como ficou a cabeça ao ver Aquele Eita tomando proporções que creio, nem você imaginava?

“Foi tudo louco demais. Inacreditável, na verdade. A cada mil curtidas eu comemorava como se fosse final de Copa do Mundo. Já havia tentado ter uma página famosa antes e nunca deu certo, por acaso essa, a que botei todo meu coração em tirinhas, deu certo. E até faz sentido. Pessoal se identifica demais, isso gera muito compartilhamento e comentários. Até hoje não acredito que tenho 1 milhão de curtidas.”

Cada imagem tem um valor próprio e invoca sentimentos únicos. Tanto alegria quanto a dor são elementos nos laboratório do Aquele Eita. Relembrar alguns desses momentos dói?

“Não, na verdade. Tudo que passei pra tirinha um dia machucou, mas hoje em dia nada me traz tristeza, só felicidade mesmo. Felicidade de ver que tantas outras pessoas passaram por algo parecido, e isso é realmente acolhedor.”

Aquele Eita já fez parceria com marcas e outras páginas, mas parece que mesmo em meio a “imagens comerciais” os sentimentos e sensações não são deixamos de lado. Você teve medo do comercial ou sempre te pareceu “apenas trabalho”?

“Eu tinha medo de como as pessoas iam receber uma tirinha patrocinada, mas a maioria dos comentários são bons. Óbvio que tem muita gente ignorante que larga um “tá se prostituindo por dinheiro” e coisas do tipo. Mas acho que esse tipo de pessoa não tem muito bom senso, né? Não é como se fosse fácil alimentar uma página semanalmente, sem ganhar nada com isso. Eu trabalho, faço curso, é difícil conciliar tudo. Mas adoro parcerias porque dá outro foco pras tirinhas, sai daquele universo triste/feliz só e puxa uns outros assuntos.”

Parece uma caminhada comum à grande parte dos publicitários: Termina faculdade ou larga em algum ponto, estagiar, trabalhar na área e depois largar a área. Pra você que mesmo tão jovem já fez esse caminho… Vale a pena cursar publicidade?

“Eu não larguei, na verdade. Amo fazer quadrinhos mas amo ser diretora de arte, de verdade não conseguiria viver sem isso. O meu curso de publicidade valeu muito a pena sim. Aprendi coisas básicas, de planejamento inclusive, –que me ajudam até hoje a gerir a página, lidar com o público, planejar os posts. Mesmo que não tenha sido o foco da faculdade, ajudou demais.”

Aquele Eita @ Raquel Segal

Quase diariamente ouvimos, vemos e lemos histórias de pessoas e suas marcas/projetos na guerra da vida por fazer acontecer e ainda sobreviver. Como alguém que tirou uma ideia da cabeça e colocou no mundo e continua caminhando pra fazer mais e mais. Quais os sentimentos de fazer cada uma dessas coisas pela primeira vez? E o frio na barriga?

“Acho que meu maior medo é que um dia as pessoas acordem e cansem do Aquele Eita. Não sei, cansarem dos temas, do amarelo, de mim, de tudo. Então acho que o frio na barriga acompanha muito o medo do fracasso ou de cair no esquecimento. Mas é uma luta diária. Cada dia que posto uma tirinha acho que será o último, ainda mais quando o alcance nas redes sociais vêm caindo tanto. De qualquer forma, preciso dar um passo de cada vez.”

Quem conhece Aquele Eita, vê as artes e logo se depara com os créditos nas imagens. E essas mesmas pessoas são as que denunciam plágio e uso indevido quando outros blogs ou páginas usam imagens da Aquele Eita sem marcar você ou até mesmo com créditos apagados. Qual sentimento ao ver isso e qual sua posição frente ao plágio e toda essa situação?

“Sendo tudo na rede social, e tendo um número grande de seguidores, acaba sendo muito simples denunciar. Preencho um formulário da própria plataforma e denuncio, mas eu normalmente faço isso com páginas grandes. Com as pequenas eu comento, causo uma pequena agitação, e no final a própria página acaba excluindo o conteúdo. Não me importo se a pessoa não me marca e mantém os créditos, até porque não é uma regra me marcar, mas remover os créditos me tira do sério. É uma marca tão pequena, que não atrapalha em nada. Acredito que pessoal faz de maldade mesmo. Ou muita falta de bom senso.”

Como é a vida de influencer? (hahahah)

“Acho que não vivo muito isso, pra ser sincera. Não mostro meu rosto sempre, então acaba que eu sou ainda só uma marca, não uma pessoa. Ainda não recebo muitos mimos (podem mandar mais, por favor), mas recebo convites para eventos e fico bastante feliz por ter esse reconhecimento. Ainda não começaram a me parar na rua pra tirar foto, então tudo bem.”

Quais os seus próximos planos? Outra página? Projeto novo? Dá um spoiler pra gente.

“Então, ano que vem sai o segundo livro da página pela Editora Planeta. Ainda não temos uma capa nem um título final, mas vai sair o livro com mais tirinhas do que nunca! Pra CCXP final do ano devo lançar um quadrinho independente, que também está sem nome. Como todos podem ver, sou bem organizada sim. Mas definitivamente não existe uma próxima página, socorro!

A pergunta que muitos querem saber: Dá pra viver só da página?

“Dá, mas eu não consegui ainda. Tenho amigos com páginas famosas que sobrevivem, por exemplo o Carlos Ruas, do Um Sábado Qualquer. Mas pra isso eu teria que ter um financiamento mensal, em que as pessoas pagam um valor a cada mês e em troca recebem brindes. Infelizmente não tenho tempo pra isso, nem paciência. Gosto do Aquele Eita como hobby, como eu disse antes, mas não teria saco pra viver só disso. Gosto muito da minha vida de publicitária.”

Por vezes ouvimos sobre as mudanças na dinâmica de share e alcance do facebook, cada vez mais a plataforma tem migrado para um modelo ‘pay-to-like’, entretanto, Aquele Eita continua crescendo. Percebemos a clara influência e o poder do público e do ‘boca-a-boca’ no crescimento levando em conta o engajamento perceptível nos comentários. Como você vê todas essas mudanças da plataforma? Já pensa alternativas para crescimento? Como os alarmistas dizem: E se o Facebook acabar?

“Além do Facebook eu tenho outras redes sociais, então “acabar” não seria tãaaaao terrível assim. Seria, óbvio, inclusive nem deve acabar, mas de qualquer forma daria pra sobreviver com as outras redes. O alcance realmente caiu, eu recebo em média 5mil curtidas por tirinha, e minha página tem mais de 1 milhão de curtidas, é um número bem ingrato de alcance, mas ainda dá pra sobreviver. Nas vezes que tentei impulsionar post o Facebook reduziu o alcance porque minha imagem tinha muito texto, então pagar nem se torna uma solução pra mim. Não penso muito no futuro sobre isso, porque se não enlouqueço. Ainda dá pra viver, o pessoal comenta muito, compartilha muito.”

Passamos por um tempo onde a discrepância entre o ‘ser’ e o ‘parecer’ tem sido avassaladora. Muitos se entrincheram em seus perfis para atacar e aflingir outros. A zuera não tem fim, mas infelizmente os haters, a falta de respeito e o preconceito tem se atenuado. Muitas são as páginas que propagam sua visões e valores explicitamente sem pensar na opinião dos haters, e grande parte nós nem sabemos quem são os rostos por trás dos perfis e páginas. No Aquele Eita você já postou fotos suas, mesmo que poucas vezes e todos podem saber quem é você facilmente. Já sofreu algum tipo de rage ou preconceito? Como é o contato com o pessoal que segue a página via PM? E em seu perfil pessoal, alguma coisa mudou desde a página?

“Ainda é muito difícil ser mulher no ramo dos quadrinhos. Claro que nossa presença está crescendo a cada ano, mas ainda é pequena. E muita gente usa isso como argumento pra tentar me diminuir. Outras pessoas ficam surpresas quando descobrem que sou mulher, como se fosse algo muito bizarro. O mais engraçado é que no senso comum mulher é aquele ser frágil, que sofre, sente (definitivamente não somos assim), e numa página específica sobre sentimentos como o Aquele Eita, continuam achando que sou homem. Não faz nem sentido. Mas está diminuindo essa estranheza. Antes pessoal ficava mais surpreso, hoje em dia sentem orgulho de mim, e isso é bem legal. O carinho que recebo é enorme em relação aos haters, e olha que nem tenho visto muitos hoje em dia. Sobre meu perfil pessoal, é sempre uma loucura quando descobrem. Chove notificação. E eu peço mil desculpas, pessoal, mas é impossível adicionar tanta gente.”

Pra quem não conhece Raquel muito além da página… O que você está fazendo agora? Trabalhando onde, projetando o que de novidade?

“Eu estou fazendo um curso de dois anos de direção de arte, correndo atrás de festivais pra ganhar prêmio (torçam por mim). Fazendo quadrinhos independentes pra eventos, sempre preciso correr atrás de uma novidade nessas horas. Não estou trabalhando mais, pretendo correr atrás disso só depois que eu entregar todas as tirinhas pro livro novo. No geral, tá tudo correndo bem. Ainda tenho um tempo livre sobrando pra vida social.”

Quem já stalkeou um pouquinho, sabe que você também já teve sua época de vídeo nos YouTube, mas hoje se mantém apenas na página. Creio que já deve ter participado ou ouvido alguma discussão sobre produção de conteúdo nessas plataformas. Hoje, infelizmente vemos uma enxurrada de vídeos banheira de nutella, reaction, slime (amoeba) e similares. Creio que esse conteúdo tem seu público, porém, tem tomado proporções grotescas e inflado, de certa forma, a plataforma com essa “pegada” de conteúdo. Isso sem levarmos em conta as mudanças de regularidade de postagem para retorno e etc. O que acha desse conteúdo e de tudo isso que tem acontecido?

“Apesar de ter tentado ter canal no Youtube, nunca acompanhei canais. É uma plataforma que eu uso pra ver trailer de filme, clipe musical e review de jogo. Não sou ligada nesses youtubers, nem nada do tipo. Esses vídeos “bobos” acabaram virando febre pelo Instagram também, e eu até não vejo problema, digo, se tem publico, que mal tem não é mesmo?”

Como é a produção das tirinhas pra página? Você desenvolveu algum método mais elaborado de produção, tem metas, quantidade de tirinhas produzidas por dia? Todo gerenciamento da página você que faz sozinha?

“Sim, faço tudo sozinha. E sim, tem um leve planejamento. No início, quando minha vida andava meio “calma”, era uma tirinha por dia, mas depois chegou trabalho, curso, festivais, e precisei diminuir essa frequência, até porque comecei a notar que o alcance tava caindo, como se as pessoas estivessem enjoando. Atualmente eu tento manter 2 tirinhas por semana, embora não seja possível alguns dias, pela correria e tudo o mais. A produção é bem no momento. Até tenho alguns textos separados, mas a ilustração eu penso no dia de postar mesmo. Novamente, tento ser organizada, mas algumas vezes fica difícil.”

Numa live, ouvi dois profissionais discutindo sobre ser reconhecido na Internet, ganhar dinheiro e as nuances nesses “cenários”. Dentro do mercado de comunicação, ter a página já te beneficiou de alguma forma?

“Não muito, pra ser sincera. Acredito que se eu trabalhasse com rede social diretamente seria de grande ajuda, mas sendo diretora de arte não me serve muito. As pessoas sempre ficam surpresas quando comento sobre a página nas entrevistas de emprego, não sei se isso de alguma forma influencia a cabeça delas na hora de pensar em me escolher. Mas pelo que eu saiba, nunca beneficiou dessa forma.”

Naquela frase famosa: “plantar uma árvore, escrever um livro…”. Como foi a experiência de lançar o livro do Aquele Eita? Como foi o calor do público, suas expectativas e tudo que aconteceu?

“Ainda não plantei uma árvore, preciso trabalhar nisso… Mas sobre o livro, foi uma experiência muito doida. Foi algo inesperado que eu recebi de braços abertos, porém obviamente muito nervosa. Quando anunciei na página sobre o livro, as pessoas enlouqueceram, ficaram felizes de verdade, e isso foi de grande ajuda pra me acalmar. Ainda batia aquele medo de “talvez a pessoa gosta da página, mas não compraria o livro”, até porque hoje em dia quase ninguém compra efetivamente um livro, mas o público reagiu muito bem e correu atrás dele sim. Tanto é que fiquei em quinto no mais vendido do Brasil na lista de livros nacionais,e sempre apareço nos Mais Populares da Saraiva. Claro, não ficarei rica nem me tornarei o próximo Paulo Coelho, mas tá sendo uma oportunidade maravilhosa.”

Pra quem tem projetos engavetados e não consegue mais acreditar neles, qual a mensagem que você deixa?

“Também tenho muitos projetos engavetados, até porque faz parte né, mas acho que mesmo que você não consiga pôr todos para fora do papel, foque em pelo menos um pra fazer acontecer. Pode não dar certo, ou não ganhar o reconhecimento que você espera, mas sempre será uma experiência interessante que com certeza te fará crescer. Eu tentei por cinco vezes, em anos completamente diferentes, em redes sociais diferentes, fazer algum projeto dar certo, e o que eu menos confiava deu. Posso ter tido sorte, mas não houve falta de esforço também. Acho que a dica é criar algo sem esperar retorno. Fazer acontecer, botar pra frente, e esperar pra ver o que vai acontecer. Nada cai do céu, nem a sorte.”

E agora, de volta aos desenhos, né?!
Pra mergulhar na cabeça e no coração da Raquel e em todo universo do
Aquele Eita, você pode curtir a página no facebook, ou mesmo no Aquele Eita aqui no Medium. Se quiser, pode chamar lá no twitter @aquele_eita .

O livro Sempre Faço Tudo Errado Quando Estou Feliz — Tirinhas Sentimentais Para Todo Tipo De Bad está a venda na Saraiva.

E valeu, Raquel!

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