Caique Pituba

Gabriel Freire
Art Journey
Published in
7 min readSep 12, 2017

Norte e Nordeste vieram mesmo pra ficar por aqui! Na segunda jornada do ARJO ainda estamos procurando uma sombra pra descansar, mas enquanto isso, Caique Pituba trouxe um copo d'agua e sentou pra contar suas histórias, porque essas coisas não se nega a ninguém.

Caique Pituba — Illustrator & Concept Artist

Conta um pouco de como foi a jornada do menino Pituba da infância até ilustrador que é hoje.

“RAPAZ! Vamos lá. Eu cresci no interior da Bahia, uma cidadezinha no sertão chamada Nova Soure. Foi a infância perfeita. Podia brincar na rua, muitos amigos e, claro, muito dragonball!. Sempre fui o “desenhista da sala”, mas o ponto de virada foi ver, nos extras de god of war, que existiam pessoas que trabalhavam dando vida àquele mundo e personagens que habitam nele, através das artes conceituais. Foi ali, com uns 13 anos, que soube o que eu queria fazer da vida. No ensino médio vim para Salvador estudar e morar com meu pai, mas na hora de fazer o vestibular eu cedi à pressão familiar (põe pressão nisso) e entrei no curso de Ciências Contábeis, na federal. Ainda estou cursando,

mas meu objetivo dos 13 anos ainda se mantém e é o que eu me esforço de verdade para realizar."

Pituba, você começou a dar o curso de pintura digital esse ano. Como é pra você a experiência de dar aula?

Foi a melhor coisa que eu já fiz, profissionalmente. É sensacional. Ensinar, além de uma das melhores ferramentas de aprendizado que eu tive acesso, é extremamente recompensador perceber que todos os anos de estudos valeram à pena.

"Quando eu passei 4 horas de aula falando com segurança sobre tanta coisa, me surpreendi por ainda ter muita coisa pra falar!"

Um projeto seu que está engavetado? E porque ainda está engavetado?

"Cara, minha cabeça está sempre a mil, um milhão de ideias o tempo todo e tenho muita dificuldade de terminar um projeto. Mas existe um que tenho dado mais atenção e que vou levar até o fim, que é, inicialmente, um artbook de personagens do Cangaço Steampunk. Quero reunir uma série de designs de personagens nessa temática em um livro e lançá-lo com pequenas histórias. Não diria que está engavetado, não. Está indo, devagarinho, mas vai acontecer!"

Flô, Boião e Cabeleira — Cangaço Steampunk

Na nossa jornada sempre temos os checkpoints/metas. Qual é sua próxima meta profissional?

Sinceramente, ainda estou bem no início da minha carreira. Eu diria que pagar minhas contas e sobrar um dinheirinho pra comprar uma coxinha no fim do mês já é uma bom objetivo. Hahahaha. Brincadeiras à parte, minhas próximas metas são lançar uma versão online do meu curso e dominar novas ferramentas que possam complementar meu trabalho, como softwares 3d. E a coxinha no fim do mês.

Muitos artistas bebem da cultura local e isso reflete em suas artes. Como você acha que Salvador e o Sertão influenciam no Pituba ilustrador?

Sempre fui muito conectado com o interior em que vivi e à cultura do sertão como um todo, e pretendo voltar a viver lá um dia. Me falta um pouco dessa conexão com Salvador em si, mas acho que ultimamente, graças à algumas viagens que fiz, estou me aproximando mais dessa baianidade exclusiva de daqui. Acho que é muito importante que os artistas busquem suas referências naquilo que os cercam na vida real. Se o sujeito sair de Feira de Santana (BA) pintando castelos medievais cobertos de neve, nunca vai competir com um europeu que viveu e vive aquilo todos os dias."

"Não que se trate de uma questão de competitividade apenas, mas para mim, é uma questão mais de sentimento. Mas castelos nevados realmente são legais.”

Qual seu maior medo hoje?

O medo de fracassar, não realizar meus sonhos e viver o resto da vida se preocupando em ter o mínimo pra dar sustento a mim e a minha família."

Na vida de ilustrador, quais são seus maiores medos e maiores benefícios?

Acho que como freelancer sempre existe o problema da instabilidade financeira, uma barreira que se demora um tempinho para vencer. O lado bom é realmente fazer algo que ama e que é prazeroso (às vezes), de casa ou em qualquer lugar do mundo

Como é ser um ilustrador e um contador em formação ao mesmo tempo?

“Contabilidade é bem chato. Apesar disso, com o tempo comecei a enxergar que a os conhecimentos que adquiri nessa formação e nas experiências de trabalho na área, por incrível que pareça, serão uns dos meus diferencias no futuro, como ilustrador"

"É muito comum que os amigos artistas tenham dificuldade com essa parte burocrática, administrativa, de se entender como um negócio e empreender. "

"Acredito que estou bem munido nesse sentido. E é válido para o outro lado. A criatividade da área artística me mostrou em vários momentos que posso levar muito para a contabilidade e inovar do lado de lá também.”

Se sua vida fosse um podcasts, qual podcast da podosfera br ela seria e porque?

"Seria o Agnaldo Indica. Eles me pagaram pra dizer isso."

Se pudesse descrever sua vida inteira com uma música, qual seria?

Rapaz, essa é complicada… acho que seria qualquer música com flautas peruanas."

https://www.youtube.com/WpJX8y2iUJg
Nota do editor: Música escolhida pelo próprio entrevistado! #NSFW!

O que é arte pra você?

Isso foi algo que já pensei muito sobre, especialmente quando surgem aquelas discussões sobre arte moderna. Uma ideia que acabou ficando comigo é a seguinte: em qualquer outra área de conhecimento, seja engenharia ou mesmo contabilidade, para avaliar o trabalho de um profissional e concluir se ele é bom ou ruim naquilo que faz, é necessário tempo para avaliá-lo tecnicamente e, muitas vezes, o avaliador também precisa ter o conhecimento técnico. Na arte não"

"Na arte, não é necessário tempo quase nenhum para se avaliar a qualidade de uma pintura ou de uma música, o sujeito simplesmente sente quando alguém é muito bom naquilo ou domina uma técnica. Não é necessário que o avaliador entenda tecnicamente aquilo. Uma simples nota musical ou uma linha peculiar num papel é capaz de despertar um sentimento. Hoje eu acredito nisso.

“Se a vida te der limões, faça uma limonada”. Conte uma limonada da sua vida.

Sempre tive uma vida muito tranquila como um jovem de classe média. Tive e tenho o suporte dos meus pais, e não tive de enfrentar nenhum tipo de preconceito. Isso não elimina, claro que também tenho meus momentos difíceis. Acho que a limonada da minha vida foi o curso de contabilidade mesmo. No início tinha muita resistência, mas hoje superei, e pretendo usá-lo ao meu favor."

Cada um de nós têm suas raízes. Onde são fincadas as do menino Pituba e o que elas significam pra você?

Sem dúvidas estão lá em Nova Soure."

"O que representa pra mim? É uma cidadezinha tão pequena, sem nada interessante à primeira vista, mas impactou tanto minha vida e meu modo de ver o mundo que acho que isso em si é uma boa lição.

"Às vezes aquilo que parece desinteressante à primeira vista pode representar muito mais com o tempo. "

"É clichê, eu sei, mas é algo que eu e meus amigos conterrâneos (especialmente Pedro, abraço Pedro) sempre comentamos.”

Um artista polêmico da web fez o seguinte comentário: “Se você não arranja tempo pra estudar e se dedicar a algo que quer seguir, você não serve pr’aquilo ou não quer de verdade”. Ele comentava sobre pessoas que não tinham tempo no dia a dia pra estudar e mudar de área. O que acha da afirmação?

Eu já pensei isso algumas vezes, mas a realidade é que é difícil se colocar na pele de muita gente que está numa situação difícil. Falar é fácil quando temos tudo ao nosso dispor. Mas por outro lado, muitas pessoas as vezes se acomodam, não fazem o menor sacrifício e passam o resto da vida lamentando. É preciso analisar caso a caso. Ou não, cada um sabe de sua vida.”

Alguma vez já teve crise por ser ilustrador e estudar contabilidade? Muitos diriam que é algo totalmente estranho e áreas absurdamente diferentes.

"Quem diz isso está certo! Hahaha o fato de eu estudar contabilidade já me deixou muito mal e causou vários atritos familiares. Mas hoje abracei a causa e acho que está melhor assim. É importante entender que nenhum conhecimento é inútil."

Juros compostos são realmente isso tudo que dizem? Vale investir em títulos do tesouro?

“Demorei 4 semestres pra passar em matemática financeira, mas acho que sim. Sobre os investimentos, invista em mim. Hehehe.”

O que você sentiu quando comentamos que você iria responder essa entrevista? E o que sente agora com ela finalizada?

"Me senti supervalorizado e chique. Adorei! As perguntas foram ótimas e pude falar sobre muitas coisas que pensava, mas não tive a oportunidade de conversar com ninguém a respeito. Muito obrigado, querido!"

"Minino" é arretado mas fico bem bonzinho na entrevista, visse?!
Pra trocar uma idéia com Pituba e pra conhecer seus trabalhos dá um pulinho no instagram dele,
@cpituba ou na sua página do facebook.

E obrigado, Pituba!

--

--