A Natureza e Nós: Uma relação Amaldiçoada?

Biologo de Araque
ArtPensante
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3 min readFeb 23, 2019

Quando paro para pensar sobre a evolução das sociedades humanas um dos factores em comum em quase todas elas é que elas se fazem necessárias exatamente pela necessidade que a espécie humana parece ter de se distanciar do resto da natureza, óbvio que existem algumas excepções mas pessoas melhores que eu já falaram sobre tanto as filosofias africanas (o prof Bas´Ilele Malomalo da UNILAB no Brasil é uma ótima referência sobre isto em portugês)como as americanas que abordam isso então qual a necessidade primal de várias sociedades que levou elas a considerar a natureza como “Outro” e excluir a humanidade do seu lugar na natureza?

A questão para mim se impõe na origem de que a organização em sociedade com os perigos que a vida nômade impunha as pessoas e esses perigos não vinham só do “resto” da natureza como de outros humanos. Então o problema que temos hoje em dia vêm já de uma origem de organização social concentrada em manter a natureza fora e o que estamos confortavéis com fica dentro, literalmente criamos muralhas entre nós e a natureza e nunca entendemos o quanto dependemos dela até ser tarde demais.

Enquanto que uma grande diferença que podemos encontrar entre as sociedades do Oriente (Japão, China e Coreia) e Indo-Europeias e as sociedades africanas (África Sub-Sahariana) e americanas é exatamente a ausência de muralhas que delimitam os aglomerados humanos do resto do mundo, as origens para isto podem ser múltiplas mas que isso cria um distanciamento inerente do resto do mundo é evidente na relação humana de quem se cria na sociedade ocidental e quem se cria em ambientes diferentes destes.

Um exemplo radical disto são os episódios 7 e 8 da 2ª Temporada da Lenda de Korra (Primórdios) em que viver em cidades totalmente isoladas do resto da natureza faz os humanos se isolarem totalmente e acreditarem que a natureza é inerentemente perigosa. Isto pode ser aplicado especialmente as sociedades iniciais na região do Mediterrâneo que se organizam principalmente com o objectivo de manter predadores e tribos agressivas fora do seu ambiente.

Hoje em dia, a diferença é que a humanidade domina todo mundo, se no início nós nos cercávamos para manter a natureza longe, hoje precisamos cercar a natureza para manter humanos longe dela, senão ela não consegue aguentar o nosso impacto, mas no fundo a base da relação é a mesma, nós como espécie não queremos admitir que somos apenas uma parte da natureza, queremos ser “os cuidadores da natureza”, queremos ser a espécie mais importante da natureza, somos apenas mais uma e quanto mais cedo aprendermos a viver em conjunto com a natureza mais rápido iremos resolver diversos problemas inerentes a nossa sociedade.

Mas como que vamos mudar isso? A solução para mim sempre será a mesma: 1) Os governos, enquanto existirem nos moldes que existem, tem a obrigação de garantir todos direitos básicos as pessoas que vivem no seu território (Direitos básicos são: Saúde, Alimentação, Lugar onde viver, Educação e Transporte) Estes básicos dever ser públicos e gratuitos. E só assim podemos partir para o 2) Uma educação revolucionária que procurar ensinar as pessoas não apenas o valor da natureza mas também porquê este valor não pode ser quantificado e o quão importante é estarmos em harmonia com o mundo que nos rodeia.
Só depois disso é que podemos começar a ter uma sociedade em que a natureza e a humanidade deixam de ser duas coisas separadas na visão da maioria das pessoas.

Nota 1: Este texto e a sua ideia originaram-se de uma interacção no twitter com a pagina Africanize.

Nota 2: Tudo que estiver sublinhado são links interessantes que incorporei ao texto.

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Biologo de Araque
ArtPensante

Estudante de Conservação e Educação, escrevo pequenos textos em inglês e português para ver como relacionar esses temas com a economia e um novo modelo de mundo