Ao Mar Morto

Tahila Pimentel
ArtPensante
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1 min readNov 2, 2017

Mar. Morto. Não me leves contigo.

Para essa tua imensidão desprezível.

Para a ilusão de que no teu flutuar sou leve. Não sou.

Carrego o peso da água reluzente que me reflecte de cabelos esgrenhados e de lágrimas perdidas no teu sal.

Eu, que neste teu mar, sou só o que sou aos olhos dos teus.

Sou imigrante.

Sou mulher. Africana. Negra com algumas gotas de brancura.

A minha pele tem a cor da terra.

O meu cabelo luta contra a força da gravidade.

Olhas para mim e hesitas.

Deconheces-me.

Incógnita.

Encarnas-me no exoticismo do desconhecido.

Afogas-me.

Não sou das tuas, mar, e não irei ser.

Não falo a tua língua.

Rejeito a imposição da tua religião sobre o meu ser… Ou o que resta dele.

E tu matas almas. Mas não a minha.

Portanto luto, de corpo nú e alma pura.

Penso.

Nasceste o meu homem.

Alguma coisa boa as tuas águas terão que ter.

Grito. Resisto. Sorrio.

E tu, hesitante, enfim, abres os braços que não são teus de abrir

E aceitas-me.

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