Capítulo 1: Manhãs

Biologo de Araque
ArtPensante
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3 min readJun 3, 2019

(2031)

Ester acordou, eram 6:30 da manhã, tinha tempo suficiente para um banho e um matabicho completos, só precisava estar no trabalho às 9.
Com já 31 anos, Ester finalmente tinha conseguido um trabalho com questões de conservação do ambiente a 8 meses, demorara a conseguir o emprego após se formar por diversas razões, e o mundo já não era o mesmo que quando nascera, não existia desespero parecia, quase como se todo mundo estivesse num estado eterno de complacência.

Ester se preocupava, estava solteira e vivia apenas de trabalhar, se olhou no espelho e pensou o que tinha de errado, por todos padrões ela era uma pessoa normal fisicamente, até atraente nos seus melhores dias. Talvez fosse apenas viciada em trabalho.
Entrou no banho, sabia que tinha direito a apenas 10 minutos por lei ou teria que pagar uma multa e sofrer uma redução no fluxo da sua água, ligou o chuveiro e começou a ouvir o contador que reiniciava de 8 em 8 horas no verão. Eram as medidas implementadas a alguns anos para salvar o ambiente.

6:50, hora de preparar o matabicho, sem pressa, Ester se dirigiu à cozinha, ia fazer um preparado de frutas para lhe durar a semana inteira.
— Bom dia, Valter.
— Bom dia, dona Ester.
— Ai, Valter por favor, nada de formalidades, apenas Ester.

Valter era o seu criado automático, um robô que era basicamente uma luz vermelha que ficava entre a sala e a cozinha, tinha câmaras pela casa inteira e coordenava toda limpeza e organização desta, Ester já se habituara que nunca teria privacidade real. Os rumores que circulavam eram que a empresa que fabricara Valter usava as câmaras para vigiar todo mundo em conjunto com o presidente (que supostamente detinha 50% da empresa) mas era algo tão cômodo. Ester preparou a sua mistura de frutas, para sua sorte nesta época do ano tinha acesso a mais frutas o que lhe permitia criar uma mistura mais saborosa para aquela semana. Sabia que a sua alocação mensal de fruta poderia se reduzir a qualquer momento.

Ester pôs os seus preparados nas suas garrafas e pôs a roupa de trabalho na sua mochila, iria de bicicleta para o trabalho como fazia 3 vezes por semana (uma vez mais que o mínimo exigido por lei). Se orgulhava de ser uma boa cidadã e que lutava pelo bem do mundo todo. Precisava no fundo de acreditar naquilo. Porque senão o que era ela?

Saiu na sua bicicleta as 7:30 , tinha tempo de sobra para chegar ao trabalho, mesmo indo por uma rota um pouco mais longa.

Trabalhava num dos prédios mais imponentes de Bruxelas, naquela cidade cinzenta e de prédios altos, o prédio onde ficava alojado o Fundo de Investimento Climático era uma monstruosidade antiga que tinha sido renovada para ser “amiga do ambiente” nos últimos anos, ainda assim, sentia-se o peso opressivo daquela estrutura antiga próxima a Praça Leopoldo II , sempre que passava por aquela estátua Ester sentia um calafrio na espinha que não conseguia explicar. Olhou para o prédio e lembrou-se do que a levou a aquele lugar…

Fim do Capítulo 1.

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Biologo de Araque
ArtPensante

Estudante de Conservação e Educação, escrevo pequenos textos em inglês e português para ver como relacionar esses temas com a economia e um novo modelo de mundo