Capítulo 2 — Um novo início

Biologo de Araque
ArtPensante
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5 min readJun 12, 2019

(2019)

Pra ela, tinha tudo começado quando era hora de entrar na faculdade, desde os seus 9 anos, o seu sonho era salvar o mundo. Nunca fora de mudar de ideias e além do mais tinha confiança que iria conseguir, no entanto escolhera pra sua missão nobre, como ela via, estudar Biologia , um curso que nunca faria dela uma pessoa influente; como prontamente disseram seus pais.
Encolheu os ombros a essa observação e pensou, a gente é o que se faz do mundo.

Olhou ao seu redor agora, no prédio daquela universidade em Lisboa, com árvores verdes, amarelas e castanhas na sua volta, o Outono iniciava e com ele todas suas ideias de que o mundo nada mais é que uma sequência de ciclos interminavéis sem sentido ou propósito. O prédio era velho, com aquela cor de prédios velhos que não sabia dizer se era pintada ou se era só da idade, tinha 3 andares e uma faixa na frente indicando ser o Departamento de Ciências Naturais, um lugar onde ela basicamente passaria os próximos 3 anos. Se bem se conhecia, todos dias e algumas noites e com aquele seu vicío por ser a melhor imbuído em si.
O corredor era mais um átrio que outra coisa, largo e com chão de madeira, ela olhava por todos cantos e via gente, muita gente, alguns com olhares de perdidos outros com a segurança de quem voltava a um lugar familiar demais e por fim, os finalistas de curso, se percebiam por seu olhar cansado e de quem procura uma saída, qualquer saída do lugar. Sabia que com ela seria diferente, nunca se daria tempo para ter aquele olhar.
Se aproximou de uma porta indicando secretária, ao lado dela havia um daqueles vidros largos que te indicam que deves falar com as pessoas por ali, e te deves baixar para fazer isso. Se baixou e disse:

— Bom dia, podem me informar onde é a aula de Sustentabilidade e Conservação?
— Ai, menina, não vê que estamos ocupados, todos alunos de 1º ano devem se dirigir ao átrio para instruções, faça isso por favor? — respondeu a ela um homem dos seus 45 anos, bem apessoado e com barba grisalha, parecia nunca ter tempo para nada e não conseguiu perceber outros detalhes.

Se dirigiu de volta ao átrio/corredor e num instante percebeu o aglomerado de alunos novos a se dirigir com propósito para perto de uma mulher que estava de pé em cima de um banco, ainda assim conseguia ser mais baixa que metade dos alunos presentes, olhava para todos e se repetia:
— Calouros, calouros, todos aqui, por favor! — gritava ela com uma voz potente demais para alguém tão pequena.

Dirigiu-se ao aglomerado de gente, sentia-se perdida, estava ali a menos de duas semanas e todo mundo se parecia igual de certa forma, não sabia se era porque todos eram realmente parecidos ou se multidões deixam as pessoas todas iguais, só sabia que queria logo começar uma aula, seu estômago parecia estar a se revirar, sentia um suor frio que parecia vir do seu interior e não combinava com os 20ºC que faziam ali segundo todos ar condicionados ligados ali, para ela aquele processo todo parecia um inferno, talvez por isso tenha demorado a perceber que a mulher baixinha com a voz potente não era uma funcionária da universidade, sequer parecia um ano mais velha que ela.
No fundo não entendia nada do que estava a acontecer e faltavam apenas 5 minutos para o horário da sua primeira aula, se esforçou para ouvir do alto dos seus 1,60 m se esticou e olhou para a moça no banco, tinha um cabelo pintado de roxo claro e uns olhos escuros que pareciam atravessar todos, sua pela tinha um tom claro, para ela quase parecia um papel mas do lado de alguns outros não era tão clara assim, percebeu logo a presença de duas tatuagens nos seus braços, ambas de reptéis, já indicando a ela qual o provavél grupo de estudo preferido dela. Enquanto isso ouvia:

— Bom dia a todos, meu nome é Violeta, eu sou vossa veterana e vou tentar vos ajudar, VOCÊS PODEM TENTAR OUVIR? , eu vou vos indicar onde fica a sala de aula e também quem são os vossos professores, após as aulas do dia de hoje teremos uma festa para conhecerem o resto dos vossos colegas, além disso, esta universidade não tem baptismo no sentido tradicional, mas quem quiser participar nós também iremos tentar organizar uma doação de sangue dos alunos no hospital mais próximo a universidade aqui. E por último, Aproveitem as aulas e quero ver a todos na nossa festinha pós aulas para conhecer a todos.

Começou a andar e todos seguiram ela, sentiu alguém aproximar-se dela, era uma sombra de alguém mais alto que ela e ouviu uma voz timída e baixa dizer
— Olá, tu não és daqui és?
— Olá, ahn, eu.. vim.. agora da França para cá, cresci em Nice eeee… desculpa, meu português ainda tem problemas?
— Tudo bem, eu posso te ajudar a treinares o português, isso é, se quiseres que te ajude — Olhou para ela, era uma menina alta e imponente, mas apesar do seu físico imponente não tinha uma aura de quem quer dominar o espaço que se encontra, na verdade ela parecia sempre querer se encolher, apesar disso era pelo menos 15 cm mais alta que ela, tinha um penteado afro enorme e o que mais surpreendeu ela, olhos cor de mel que pareciam sorrir para ela e parecia ser simpática
— Acho que sim, não é um problema para ti falar com… alguém que hesita tanto no português?
— não é problema nenhum, até porque, teu português é ótimo, mas porquê tens sotaque brasileiro?
— Os meus pais são diplomatas e eles viveram sempre a viajar, passei 6 anos da minha infância no Brésil , mas as vezes ainda hesito no português.
— Que interessante, eu me chamo Ester, nascida e criada em Lisboa e tu?
— Eu sou a Maxine, nascida em Nice e criada pelo mundo — sorriram e entraram juntas na sala.

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Biologo de Araque
ArtPensante

Estudante de Conservação e Educação, escrevo pequenos textos em inglês e português para ver como relacionar esses temas com a economia e um novo modelo de mundo