Sobre pertencer a lugar algum.

Tahila Pimentel
ArtPensante
Published in
2 min readFeb 9, 2017

É tanto vai e vem, que em algum momento esqueci-me de pertencer a lugar algum.

Cada vez mais sinto que não pertenço a nada.

Não sei nada.

Sou uma turista no meu próprio corpo.

Sou imigrante e cidadã dos mesmos espaços.

Vivo em vários espaços ao mesmo tempo, e por isso acabo por não viver em espaço nenhum.

Falo e escrevo em línguas emprestadas, desconheço o mundo que um dia foi meu.

Pergunto-me várias vezes como seria a pessoa que teria sido se não tivesse saído.

Teria eventualmente acabado por pertencer?

Teria eventualmente acabado por ser mais daqui do que de nenhum outro sítio?

E agora que saí? De onde sou?

Aonde pertenço?

Não pertenço aqui, não pertenço lá, não pertenço e pergunto-me até que ponto será importante pertencer.

Pergunto-me aínda mais, qual será o significado de pertencer?

Qual será o significado daquele patriotismo que vejo os meus amigos Angolanos, Israellitas e Cabo Verdianos a ter?

Qual será a sensação de se pertencer tão intesamente a um espaço, de maneira tão confiante?

A verdade é que quanto mais o tempo passa, mais percebo que só começarei a pertencer a algum lugar no dia que começar a pertencer a mim própria.

No dia que parar de sentir-me tão completamente insuficiente para qualquer dos espaços em que me encontro.

Quando estou lá, sinto falta de cá. Quando estou cá, sinto falta de lá. Quando não estou nem cá nem lá, mas em alguma das ocasionais viagens pelo mundo, sinto muito facilmente e mais intensamente o sentimento de pertencer.

Quando estou em lugar nenhum, pertenço a mim mesma.

Quando não estou nem cá, nem lá, estou em mim e portanto pertenço.

Tomara um dia perceber que sou sim capaz de ser de lugar algum, a partir do momento que for de mim mesma.

Talvêz pertencer a mim mesma e aos meus e minhas, será mais importante que pertencer a espaço algum.

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