Quando eu decidi perder o telhado

Airiela Larissa Leiria
As Artes de Viajar
Published in
2 min readNov 2, 2018

Sempre me considerei uma pessoa impulsiva, mas a decisão do meu intercâmbio sem sombra de dúvida, foi uma das maiores. Eu sempre digo que se eu tivesse pensado bem, jamais teria ido. Se eu pensasse que seria enganada e moraria em um apartamento onde a água mal esquentava ou que ao contrário do que eu sempre acreditei, espanhol nem era tão fácil assim. Ou que eu tivesse parado para pensar que a saudade podia doer (de verdade), EU JAMAIS TERIA IDO. Ou seria um impulso, ou jamais teria acontecido.

Sempre achei um ato de coragem aqueles que largavam o aconchego do lar, o seu comodismo, para tentar possibilidades hipotéticas de futuro promissor. E acreditava que eu jamais seria uma delas. Até que um dia a gente decide querer mais e a gente mal sabe onde está esse "mais", e nem se está perto ou longe, apenas queremos "mais". Acreditei que o meu "mais" estava bem longe e dentro da mochila eu coloquei meus sonhos, esperança, frustrações e simplesmente fui atrás do "meu futuro promissor". Praticamente da noite para o dia decidi que mudaria de casa, de país e de idioma.

Cheguei e descobri que o teto de casa não nos protege apenas da chuva, mas também das decepções, da solidão e até mesmo dos boletos. Descobri que não podia ter tanta boa fé, descobri a reação das minhas reações e adicionei mais uma dose de frustração aos meus planos.

Percebi que o meu futuro promissor se distanciava de mim e incrivelmente, isso não me importava mais. Eu queria crescer, mas já não era para ser a melhor profissional do mundo. Num belo dia eu me perguntei, "a pessoa que eu sou, merece tudo que eu almejo?" e eu me dei conta de que não. O acaso não me tirou de casa a passeio, e acreditem…a solidão te dá uma visão que você jamais esperaria ter. A distância te faz repensar o teu eu, as atitudes, as metas e os caminhos. Deixei para trás o meu futuro promissor e decidi buscar o meu "eu" promissor.

Viver em outro país remove todas as suas raízes, certezas e medos. Você evolui, você cresce, você muda e você vive como se não houvesse amanhã. A partir do momento em que sua vida se encaixa em uma mala, o que ontem foi em casa, hoje deixa de ser. Duro mas verdadeiro, quase tudo tangível é substituível onde quer que você vá.

A verdade é que às vezes perdemos o telhado, para ganhar as estrelas e a vista de lá é linda!

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