O último dia

Dayane Kelly
As crônicas de uma Lady quase adulta
1 min readSep 2, 2019

Ah, se hoje fosse meu último dia, morreria com fome. Um pouco cansada também. Cheia de tecidos em casa que não tiveram uso. E umas máquinas meio velhas e meio novas.

Eu só estou cansada demais para dar um sorriso de graça ou para aguentar as irritações da vida. Agora estou escondida no buraco entre a porta e o armário da faculdade. Mal me cabe, mas é tão aconchegante. Nem consegui comer algo, apesar da fome. Só dá vontade de chorar.

Falando em chorar, me segurei muito para não chorar ontem no hospital. Eu agradeci por estar com minha tia-avó sem o restante da família presente. Ela nem me reconhece. E pensar que antes disso ela queria me ver e eu não fui. E ela nem me reconhece depois do AVC.

Eu tive medo de ir ao hospital. Aconteceu algo parecido com a minha avó. Ela estava mal. Painho falou: vá visitar sua avó porque pode ser sua última chance. Eu fui. E foi minha última vez a vê-la. Acho que ela estava se segurando para ver os netos, e só depois partir. Eu não queria ter que passar por isso de novo. Minha última visita ser a aprovação para a morte dela. Eu não queria estar chorando aqui onde um monte de gente pode ver. Mas estou cansada demais. Cansada demais.

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Dayane Kelly
As crônicas de uma Lady quase adulta

Figurinista. A doida dos wearables. Pintora nas horas vagas. Dona da Loja BREGUESSO.