Sebastian

Camila Yallouz
As crianças que me habitam
2 min readFeb 8, 2018

Quando conheci Sebastian ele tinha dado três voltas no Sol. Era pequenino e tinha o cabelo dourado e liso, talvez porque estivesse ainda muito perto dessa estrela.

Nos encontrávamos duas vezes na semana numa escola Montessori muito querida. Procurei essa escola para fazer estágio de observação, mas poucos dias depois estava trabalhando com as crianças, preparando materiais e construindo conhecimentos junto com as educadoras que me recebiam sempre de braços abertos.

Foi ai que conheci o menino do cabelo cor de Sol. Mas ele não falava muito comigo.

Sebastian era um dos mais novos da agrupada de 3 a 6 anos. E “não se interessava muito por nenhum material”.

Sebastian observava.

Nós, adultos, tentávamos controlar nossa ansiedade de que Sebastian fizesse-alguma-coisa.

Por diferentes e persuasivos que fossem os convites para descobrir o universo contido em cada material, Sebastian era forte como o fogo. E como o Sol, observava parado os outros planetas nas suas próprias órbitas. A gente pensava em Montessori e tentava descobrir o que ela faria.

Ela dizia baixinho:

“Não sigam a mim, sigam a criança…”

Mais algumas voltas e nos reencontramos. Seu cabelo segue dourado, mas o brilho é de um menino de cinco anos. Sebastian é um dos “mais velhos” e hoje descobrimos juntos que, na natureza, seres vivos nascem, crescem e morrem.

Sebastian cresceu.

Observou, como é da natureza de um menino de 3 anos. E hoje descobre o universo, como é da natureza de um menino de 5.

Fiquei feliz de ver que o brilho dessa estrela não tinha apagado. Que pudemos deixa-lo ser-vivo no seu tempo, no seu ritmo. Fiquei feliz de encontrá-lo outra vez para poder ver, na prática, a natureza cumprindo seu próprio papel. E nós, adultos, aprendendo a não atrapalhar.

Hoje ele descobriu que a folha que encontrou era de um ser vivo, porque “a planta cresce quando a gente rega”.

E eu descobri que a planta não cresce se a gente puxa da terra na vontade de fazê-la “ir mais rápido”.

Aprendi a observar os seres-vivos com Sebastian.

E aprendi que a planta está crescendo mesmo quando a gente não vê. Porque ela se alimenta de Sol, como Sebastian.

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