A Conferência dos Pássaros em Tempos de Cólera
Estavam os pássaros sem rei, presidente ou imperador, não sendo certo o termo que designava o mandante quando isto se deu. Reuniram-se para resolver a sucessão 300 representantes, não se sabendo também como foram ordenados. Sabe-se que esta espécie de corte dava pelo nome de Conferência e que foi imortalizada num poema de 4500 e poucos versos.
O relato contém em detalhe algumas das intervenções dos delegados. Ocupando particular extensão o que foi dito por uma Poupa que levou a votação uma proposta metodológica que por ser antiga reuniu os votos dos mais conservadores, contendo ousadia bastante para arregimentar os progressistas. Os moderados abstiveram-se.
Aprovada a proposta foi mandatado um grupo de 30 pássaros que partiu imediatamente em busca de um líder natural que os esperaria, longe dali, muito longe mesmo, segundo o encarte de onde lemos a história
– para lá da China.
Os pássaros atravessaram 7 vales e em cada vale encontraram e venceram as dificuldades da lonjura. Não estiveram sempre de acordo nas decisões a tomar pelo caminho. E quando não discordavam desentendiam-se de outra forma para entreter o aborrecimento.
À chegada ao sétimo vale encontraram apenas um imenso lago. Nem predestinado, nem comissão de boas-vindas. Apenas aquele espelho de água gigante refletindo o bando colorido, em voo, contra o céu azul.
Um desenlace inesperado e difícil de explicar sem os nomes árabes que estão poupados nestas linhas. Uma história que é contada para ensinar a religião muçulmana por uma das muitas variações que a catequese do Islão tem. Neste caso quem a conta dá-se por Sufi, um nome mais antigo que o próprio Islão.
Numa altura em que ouvimos tantos nomes árabes, que nos contam tantas histórias das arábias, só uma vez ouvi perguntar
– não devíamos aprender árabe?
(não apenas a língua, mas as histórias. Não apenas aprendê-las, mas contá-las. Respondi eu, esquecendo-me que a televisão fala mas não ouve).
(Esta história foi primeiro publicada no Diário de Coimbra de 28 de Março de 2016 nesta mesma versão. Existe uma outra versão, mais longa, à data, não publicada.)