A Conferência dos Pássaros em Tempos de Cólera

Alexandre Lemos
Histórias para o Diário de Coimbra
2 min readMar 30, 2016

Estavam os pássaros sem rei, presidente ou imperador, não sendo certo o termo que designava o mandante quando isto se deu. Reuniram-se para resolver a sucessão 300 representantes, não se sabendo também como foram ordenados. Sabe-se que esta espécie de corte dava pelo nome de Conferência e que foi imortalizada num poema de 4500 e poucos versos.

O relato contém em detalhe algumas das intervenções dos delegados. Ocupando particular extensão o que foi dito por uma Poupa que levou a votação uma proposta metodológica que por ser antiga reuniu os votos dos mais conservadores, contendo ousadia bastante para arregimentar os progressistas. Os moderados abstiveram-se.

Aprovada a proposta foi mandatado um grupo de 30 pássaros que partiu imediatamente em busca de um líder natural que os esperaria, longe dali, muito longe mesmo, segundo o encarte de onde lemos a história

– para lá da China.

Os pássaros atravessaram 7 vales e em cada vale encontraram e venceram as dificuldades da lonjura. Não estiveram sempre de acordo nas decisões a tomar pelo caminho. E quando não discordavam desentendiam-se de outra forma para entreter o aborrecimento.

À chegada ao sétimo vale encontraram apenas um imenso lago. Nem predestinado, nem comissão de boas-vindas. Apenas aquele espelho de água gigante refletindo o bando colorido, em voo, contra o céu azul.

Um desenlace inesperado e difícil de explicar sem os nomes árabes que estão poupados nestas linhas. Uma história que é contada para ensinar a religião muçulmana por uma das muitas variações que a catequese do Islão tem. Neste caso quem a conta dá-se por Sufi, um nome mais antigo que o próprio Islão.

Numa altura em que ouvimos tantos nomes árabes, que nos contam tantas histórias das arábias, só uma vez ouvi perguntar

– não devíamos aprender árabe?

(não apenas a língua, mas as histórias. Não apenas aprendê-las, mas contá-las. Respondi eu, esquecendo-me que a televisão fala mas não ouve).

a edição paperback de 1971 tem esta capa (que me abstenho de adjetivar para não parecer exagerado no quanto gosto dela)

(Esta história foi primeiro publicada no Diário de Coimbra de 28 de Março de 2016 nesta mesma versão. Existe uma outra versão, mais longa, à data, não publicada.)

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