A Morte no Museu

Alexandre Lemos
Histórias para o Diário de Coimbra
2 min readJan 17, 2017

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Algures na internet leio que um museu na Alemanha está interessado em expor o camião usado no ataque a um mercado de Natal em dezembro. Não sei bem como ou porquê tive de ir verificar se aquilo era mesmo verdade.

É.

O museu é só um dos mais visitados na Alemanha e já expõe objetos que não se encontram nas galerias municipais portuguesas ou nos maravilhosos templos da arte contemporânea. Incluindo um pedaço das torres gémeas, um carro do Hitler e uma carrinha do movimento pacifista dos anos 70.

A internet serve para confirmar, pesquisar e ficar a saber isto tudo. Agora cabe-me fazer algumas perguntas e pensar no assunto. A internet ainda não pode fazer isso por mim.

Lembro-me logo do memorial às vitimas do holocausto em Berlim. Aquele sítio agarra-se à pele de quem o visita. No meu caso perdurou mais a memória de visitar aquele memorial do que a experiência de ver o muro. O muro que separava o oeste, e a coca-cola, do este, e da vita-cola. O muro é menos enorme e menos impressionante do que eu esperava. Mas o muro, ou o que sobra dele, está lá à nossa espera na rua.

Berlim não nos poupa. Há edifícios bombardeados, memoriais e museus da violência sobre os judeus. Esquecer é difícil ali.

Tendo a achar que é uma boa ideia lembrar-mo-nos do que fizemos. Sobretudo o mal que parece irrepetível e a violência insuportável. Se esquecermos o que aconteceu vamos provavelmente esquecer também como aconteceu e um destes dias lá estamos nós a cometer os mesmos erros.

Faz-me companhia a esta ideia uma chávena de café maravilhosamente quente, amargo e forte, vindo de África.

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