Ler Antes

Alexandre Lemos
Histórias para o Diário de Coimbra
2 min readOct 27, 2015

Depois da elaboração do plano estratégico de luta contra o ditador e toda sua máquina, os militantes pela democracia devem obrigatoriamente elaborar um projecto político filosófico de nação, para que durante o processo de luta não haja os seguintes riscos inevitáveis, caso não tenham tal plano: 1. Serem acusados de aventureiros que não sabem o que fazem; 2. Não têm uma visão ideológica de futuro para o país pós-ditadura que pretendem derrubar; 3. Irresponsáveis que não têm um plano de transição e governação de curto, médio (plano de transição) e longo prazo (plano de governação) após a queda da cultura do mal.

As propostas dos militantes pela democracia devem distinguir-se claramente de todos os grupos tradicionais existentes. Não se pode assemelhar nem à oposição falsária, menos ainda ao projecto do ditador. A originalidade do projecto filosófico de nação é uma condição fundamental para o sucesso filosófico.

Leu os parágrafos anteriores?

Olhe por cima do ombro. Está alguém a espreitar?

Chegou o momento de fugir.

Não contacte a sua família, procure refúgio num sítio improvável. Desligue o telemóvel e… sabe o que fazer. Lembre-se dos filmes americanos. Não deixe rasto. Se o apanharem vai ser atirado para a cadeia com os outros perigosos leitores do livro “Da Ditadura à Democracia — Como derrubar uma ditadura” de Gene Sharp. Não adianta argumentar sobre a qualidade da tradução. Se o tiver lido na versão editada pela Tinta da China diga que lho emprestaram ou que o roubou

(isso: roubou-o! Treine: Roubei este livro! Com mais convicção: Roubei esta porcaria!)

essa edição reverte a favor das famílias dos outros leitores do livro. Se for daquelas pessoas a quem não se adivinha o jeito para roubar diga que o leu na internet num jornal chamado Observador. Por mero acaso.

Se souber mais deste assunto do que eu lhe posso ensinar, ainda assim aceite um conselho: não tente conquistar a simpatia dos seus carcereiros com citações

– do tempo em que estávamos todos do mesmo lado

as coisas mudam e mudaram mesmo. Por exemplo

É na capacidade de perder e mesmo assim lutar que está a grandeza.

não é contra-senha para um abraço e um tchim-tchim. O camarada Pepetela é agora um inimigo da revolução e os tempos em que ele era a voz dos heróis do MPLA não estão apenas distantes como tendem para nunca ter acontecido, afinal.

Precisando de trautear alguma coisa para desanuviar o ambiente evite assobiar um samba-canção. O Chico Buarque e aquela história da

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela Morena, bichinha danada, minha camarada do MPLA

carecem nesta altura de confirmação do seu estatuto revolucionário.

Finalmente, evite partilhar qualquer texto que, como este, termine com o código #LiberdadeJá.

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