“Nesse caso estamos a lutar porquê?”

Alexandre Lemos
Histórias para o Diário de Coimbra
2 min readNov 10, 2015

Estamos na época dos orçamentos. A par com as castanhas e a jeropiga, a fruta da época em cima de muitas mesas é a orçamentação. Impõe-se escolhas e cortes

– que isto não está para brincadeiras.

A coisa pode ter melhorado mas não se nota muito. Nos jornais parece que a meteorologia tomou conta de todas as páginas e só se consegue prever com certeza o dia seguinte, salvo os dias em que nem isso.

Nestas alturas importa ser firme na defesa daquilo em que acreditamos. Não se pode conceder tudo à inevitabilidade. O que tem que ser tem muita força e até o Churchill sabia que o investimento na cultura não pode ser interrompido nem nas circunstâncias mais extremas. Diz-se que durante a segunda guerra mundial o conservador primeiro-ministro britânico terá impedido os cortes no orçamento da cultura perguntando

– Nesse caso estamos a lutar porquê?

Só que não. O político que os jornais ingleses ainda tratam como “o grande homem” deixou um legado estimado em 15 milhões de palavras entre discursos, livros e cartas. Entre tantas memórias os historiadores nunca lhe encontraram esta frase e de parecido com tal atitude só a recusa em enviar o recheio dos museus para o Canadá acautelando a invasão Nazi.

Ainda assim a história é contada muitas vezes, por muitas pessoas e por muitas pessoas bem intencionadas, e o Churchill, tornou-se o campeão das citações nas redes sociais quando o assunto é o investimento público em arte e cultura. Só que não. “O grande homem” não tem tais méritos. A história é boa mas não é verdadeira.

A verdade é que precisamos de novas histórias para contar. Invista-se nisso.

(Publicada no Diário de Coimbra de 9 de Novembro de 2015)

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