O sabor das coisas

Mastigar 6 vezes antes de engolir.

Não fumar.

Beber água morna em jejum

com algumas gotas de limão.

Respirar lentamente

pelo nariz

e pela barriga.

Evitar alimentos salgados,

picantes

e alho.

A lista vai crescendo como sempre crescem as listas numa conversa destas, à mesa, entre conhecidos. Cada um tem, pelo menos, um par de sugestões a acrescentar. Ninguém será descortês perguntando pela revista ou blog de onde vieram os conselhos sábios e não experimentados. Em princípio estamos todos no mesmo barco e não vamos fazer uma pergunta a que não queremos responder.

O importante é encontrar rapidamente uma forma de melhorar o paladar. Uma mezinha capaz de transformar o palato comum num sensor de sabores avançadíssimo.

O importante é esta sensação intensa que nos fica da vida depois de mais um dia ou um ano. A sensação de que havia mais para saborear. Senão mais para saber ou para fazer.

Estando entre conhecidos e sem conhecer a disponibilidade de cada um à mesa para um assunto tão exigente deixamos a conversa à flor do sal. Educadamente raspando só a superfície gelada do assunto. Sem quebrar a crosta de açúcar com uma colherada gulosa que podia destruir a frágil composição pós refeição, já com os cigarros e uma garrafa de vinho a mais sobre a mesa. O cansaço de uma semana de 60 ou mais horas de trabalho, distrações incluídas, sem tirar os olhos do ecrã de alta definição. Há que cuidar da primeira refeição da semana servida quente, para alguns, talvez todos

(não para mim, nunca para mim).

Juntem à história da conversa um dia primeiro de Janeiro ou último de Dezembro e obterão o meu desejo de ano novo pronto a servir. A primeira prova denota traços, talvez não muito elegantes, de um sarcasmo ácido mas ainda assim a receita mantém o nome e o desejo de um ano novo ou velho em que as coisas sejam pouco mais ou menos como foram mas que o palato esteja mais bem tratado, disponível para saborear intensamente a vida. O palato divino de uma iluminura forjada do orientalismo modernito, onde um bebé gordo não faz mais pela vida do que esperá-la, sentado, e, possivelmente, respirando pela barriga.

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