Sabático

Alexandre Lemos
Histórias para o Diário de Coimbra
2 min readJul 20, 2015

Comecei pelo dicionário: latim tardio sabbaticus, -a, -um, do grego sabbatikós, -ê, -ón. Adjectivo. 1. Relativo ou pertencente ao sábado. = SABATINO. 2. Relativo a uma interrupção temporária de determinada função ou atividade regular (ex.: licença sabática, período sabático).

Depois o Google e um dos primeiros resultados levou-me ao “Concurso permanente de Bolsas de Licença Sabática (BSAB)”. Acrescentando a palavra “história” à pesquisa fico a saber que a raiz da palavra pode ser hebraica e sendo assim o seu primeiro significado seria repousar

lembrando-me do Agostinho da Silva a declarar vitória sobre a sua própria educação ao ser capaz de adormecer a ler sem sentir culpa — Demorou-me anos e anos de terríveis angústias mas finalmente sou capaz de adormecer várias vezes ao dia com um livro na mão e acordar sem ponta de culpa. Estou tão contente com isto que pretendo dedicar-lhe os dias que me restem.

Aparentemente a história desta rotação sazonal entre trabalho e descanso começou com as colheitas. A cada 7 anos a terra e as gentes tinham descanso por igual não se podendo semear nem colher. Depois no século dezanove as universidades americanas recuperaram o costume como um investimento na sanidade dos seus professores.

Seguiu-se uma listagem enfadonha de números com e sem símbolo de percentagem sobre a evolução do fenómeno no meio empresarial. Suspendi a pesquisa entre isto e uma janela com o endereço jstor.org. Posso ser curioso mas tenho os meus limites.

Longe do Google lembrei-me do designer Stefan Sagmeister num vídeo de há uns anos a falar das suas licenças sabáticas. Sendo quem é não precisei de muito para encontrar o vídeo exato (mas se quiserem atalhar pesquisem: Stefan Sagmeister the power of time off).

Nos primeiros minutos do filme ele mostra a página de um caderno com um horário que nunca conseguiu cumprir

(onde é que eu já vi isto?)

e excertos de um filme que me lembrou o trabalho da Joana e do seu Clube dos Tipos. Seguindo-se os exemplos dos trabalhos que fez depois de cada sabática. Porque os vê como uma consequência do luxuoso intervalo entre rotina e rotina. Surpresa das surpresas

(como é que eu não me lembrava disto?)

o primeiro exemplo é o trabalho para a Casa da Música no Porto quando concebeu um logotipo inspirado pelo desenho do próprio edifício com a particularidade de se transformar para cada concerto ou projeto da Casa da Música. Um jogo suportado por maquinaria sofisticada onde mesmo os cartões pessoais têm logotipos diferentes, completando um conjunto quase infinito de variações da imagem da instituição. Um ousado exercício de incoerência para o regime em vigor (dizem).

No fim, ao fechar o agradável caos de janelas e anotações que sempre fica o meu computador depois de pesquisar uma palavra, uma receita de chanfana ou o significado oculto da vida, dei por mim a ler um artigo manhoso com o título: Sente-se esgotado? Tire uma pausa sabática.

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